Bancada parlamentar com mais corruptos quer debater luta contra corrupção
Exercício circense na Assembleia Nacional
Acabo de saber, pela página do Ismael Mateus aqui na nossa sanzala comum, que os deputados à nossa Assembleia Nacional agendaram para debate a impunidade e a luta contra a corrupção.
A Assembleia Nacional é esmagadoramente dominada pelo MPLA. O mesmo MPLA que, em 2017, ainda sob a liderança de José Eduardo dos Santos realizou, do nada, um workshop sobre a luta contra a corrupção. Combate à corrupção, impunidade, bajulação já estavam inscritos nas prioridades do já então eleito Presidente da República e do mesmíssimo MPLA.
Ao inscrever, caucionar ou sugerir esse debate o que pretende o MPLA?
Embora acredite piamente na foça do , porque é dele que vem a persuasão, estou profundamente céptico. Não tenho a menor esperança de que desse debate resulte algum imput válido para reanimar a cruzada contra a corrupção e a impunidade que tão boa conta deu de si nos primórdios do mandato do Presidente João Lourenço.
Os problemas estão mesmo no seio do MPLA. E lá que renasce, com bastante vigor, a bajulação e a adulação ao líder, práticas que João Lourenço se comprometeu a banir, mas que hoje contempla, se calhar com muito deleite. São antes de mais militantes do MPLA os administradores municipais que hoje sobrefacturam as obras do PIIM.
É com o mesmo exército, integrado por muitos ladroes, que o MPLA se quer reanimar para ir à luta contra a corrupção e a impunidade?
Já agora, gostaria muito de saber o que dirão, durante os debates, deputados como Higino Carneiro, Vitória de Barros e o ex-governador do Cunene Vrgílio Tyova. Como se sabe, HC está associado a casos de mau uso de dinheiro público enquanto governou Luanda. Tem a PGR à perna. A ex-ministra das Pescas tem as suas digitais num cabeludo caso de corrupção envolvendo também cidadãos namibianos. Os corruptos do lado de lá da fronteira já estão a pagar pelo crime. Pressentindo o perigo, Vitória de Barros foi esconder-se na Assembleia Nacional, onde está protegida pelas imunidades parlamentares. Diz-se que a PGR não a perdeu de vista. Oxalá! Tyova é o tal rapaz insensível que, no momento mais crítico por que passava a população do Cunene, apertada por uma severa estiagem que gerou imensa fome e dor, se entregou ao exercício sádico de desviar para proveito próprio as ajudas que o país mobilizava para acudir a sofrida população.
Natural do Cunene e seu governador, Tyova olhou apenas para o seu umbigo. Foi de um egoísmo indiscritível. Em qualquer país onde o primado da lei se sobrepõe a tudo, Tyova teria saído do palácio governamental directamente para uma cela prisional, preferencialmente ali mesmo no Cunene, junto dos seus.
Mas em Angola, os nossos “cientistas” têm entendimento diferente. Do Cunene, Tyova foi directamente enfiado na Assembleia Nacional, com enorme desprestígio da função parlamentar. Com toda a propriedade pode dizer-se que a Assembleia Nacional é hoje a toca mais segura onde toda a sorte de putativos delinquentes são recebidos de braços abertos.
A questão é esta: uma bancada parlamentar que acoberta corruptos, ladrões e maus administradores de dinheiro público tem condições morais para debater assuntos como corrupção e impunidade? A permanência desses três artistas no Parlamento não é já em si a consagração da impunidade? A discussão desse item só faria sentido se culminasse com a suspensão dos mandatos dos três “camaradas”.
Enternecem-se as propostas do Ismael; comove-me a esperança que deposita nesse evento. Mas não acredito que esse debate vá produzir outra coisa que não seja um rato.
Além de não ter condições morais para esses debates, o MPLA criou entre si e a oposição um mar inultrapassável.
Em suma, dir-se-ia que à falta do que fazer, os nossos deputados entregam-se a mais um exercício circense para justificar as mordomias imerecidas.
Por: Graça Campos (In Facebook)