Novos impulsos para o Presidente da República "PONTES PARA O DIÁLOGO"
Na sequência da visita de cortesia natalícia ao seu antecessor e mentor, no dia 24 de Dezembro, depois de dois anos de distanciamento geográfico e estrutural, eis que o Presidente João Lourenço tomou a sábia decisão de iniciar o novo ano com uma entrevista colectiva à TV Zimbo, Jornal Expansão, Jornal de Angola, Jornal O País e Agência Lusa, recuperando o clima de abertura que caracterizou os dois primeiros anos do seu primeiro mandato.
O formato limitado a jornalistas de apenas cinco órgãos de comunicação social até poderia ser perfeitamente compreensível devido às restrições impostas pela Covid19.
Mas a inclusão de um jornal que está fora de circulação há mais de dois anos, e a ausência de qualquer emissora de rádio, levantam sérios pontos de interrogação. De igual modo, a suposta orientação da assessoria de imprensa, viralizada nas redes sociais, para que as redacções enviassem, com vários dias de antecedência, as perguntas que tencionam formular, é algo injustificável, inexplicável e inaceitável.
Caso se trate de uma fabricação, visando denegrir a imagem do Secretário do PR para os Assuntos da Comunicação Institucional e Imprensa, o facto deveria ter sido prontamente desmentido porque, no final dia, quem fica mal na fotografia é próprio Presidente da República.
Em bom rigor, a assessoria de imprensa do PR merece, no mínimo, um cartão vermelho. Mas, enfim... Avancemos. Com este gesto de aparente maior abertura à sociedade, por via da comunicação social, o Presidente da República deveria ir mais além.
É recomendável uma aposta séria na edificação de pontes para o diálogo, de modo evidenciar o espírito de abertura com elevado sentido de Estado, acima das fronteiras partidárias. Neste particular, nunca é demais realçar a necessidade de uma audiência, no Palácio Presidencial da Cidade Alta, com o líder do maior partido na oposição, cuja legitimidade foi reconfirmada no congresso refeito em Dezembro último, em obediência ao acórdão número 700/2021 do Tribunal Constitucional.
No dealbar de um ano recheado de grandes expectativas, nada melhor do que quebrar o gelo e tornar fluído o diálogo entre os dois principais actores da cena política angolana.
Na qualidade de Mais Alto Mandatário da Nação, o Presidente João Lourenço não deveria hesitar em tomar a iniciativa de convidar o engenheiro Adalberto Costa Junior para que ambos possam passar em revista as grandes questões da actualidade.
Em vésperas de eleições gerais, que se adivinham bastante desafiantes, as lideranças devem estar cientes da necessidade de irradiar para toda a sociedade sinais claros de serenidade, facto que só será possível se cada um dos protagonistas se mostrar capaz de corporizar a tolerância necessária para o resgate da confiança.
Do mesmo modo, o espírito de abertura não deveria limitar-se à alta política. Aliás, nos últimos quatro anos, o Presidente tem-se empenhado em acções de concertação com os maiores empresários nacionais, considerando que eles devem constituir o motor da economia, resevando para o Estado o papel regulador e fiscalizador. Mas é preciso ter em conta que não há economia sem trabalhadores.
Por esta razão, o Presidente da República poderia incluir na sua agenda para o primeiro trimestre de 2022 um encontro alargado ou uma reuniões separadas com os sindicatos, as cooperativas agrícolas e as associações de pesca artesanal.
Os líderes das agremiações acima referidas são homens e mulheres com ricas experiências de vida e um conhecimento profundo da realidade económica e social do país, visto que representam sectores que garantem largas centenas de milhares empregos directos e indirectos.
Sendo Presidente de todos os angolanos, com total legitimidade, João Lourenço não deveria avançar para a campanha eleitoral sem antes dedicar um momento especial, de modo presencial, às pessoas com deficiência.
As pessoas com deficiência constituem um segmento da população que não deve ser negligenciado, visto que integra milhares de ex-militares, viúvas e órfãos de guerra, atletas paralímpicos, artistas, intelectuais, estudantes sem grandes perspectivas e profissionais de diferentes ramos de actividade, muitos quais mal empregados, discriminados e marginalizados, apesar da abundante legislação em vigor.
O momento actual aconselha maior abertura para o diálogo construtivo, independentemente das divergências políticas, ideológicas ou de qualquer outra natureza. Afinal, o que está em causa é um bem maior que se chama ANGOLA.