“Não treinamos para tomar banho, mas para fazer guerra”, alertam efectivos da Casa Militar expulsos no Cuando Cubango e Cuanza Sul
Os mais de 3.000 efectivos da Casa Militar do Presidente da República, expulsos a mando do Tenente/General Cruz, à margem do “Caso Lussaty”, dizem estar a ser injustiçados por haver, naquela estrutura militar, dirigentes que acham que os efectivos cumpriram com zelo a sua missão e devem merecer a atenção do Executivo; enquanto os outros consideram que se trata de um grupo que deve ser extinto, como se de ilegal se tratasse.
Por: Lito Dias
O Chefe da Casa Militar do Presidente da República, general Francisco Pereira Furtado, considera que esses efectivos são fantasmas e nunca fizeram parte da casa de segurança do Presidente da República.
Uma afirmação desmentida categoricamente por Adelino Pessela, Chefe da Comissão Representativa daqueles efectivos que, com fotos e vídeos, mostrou à imprensa a recepção de uma comissão de alto nível da Casa Militar chefiada pelo então segundo Comandante, General Cerqueira João Lourenço, por sinal, irmão do Presidente da República.
Na ocasião, o general Cerqueira considerou que aqueles militares são heróicos combatentes, pelo contributo prestado.
Não deixou dúvidas que se tratava de uma unidade militar que está devidamente legalizada. Irritados com as voltas que dizem estar a receber todos os meses, o chefe da Comissão Representativa dos efectivos “abandonados” do Batalhão de Transportes Rodoviários da Casa Militar do Cuando Cubango e do Cuanza Sul, Adelino Pessela, em nome do grupo que dirige dirigiu-se ao Presidente da República, na qualidade de Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Angolanas, porque acredita no seu trabalho.
“Porque ele sabe que estas unidades existiram e existem; foram criadas superiormente para um determinado fim, enquadrado nos esforços de paz e reconciliação e reconstrução nacional”, acredita.
Considera que esta intervenção de João Lourenço deve ser feita sem confiar nas entidades locais, “corrompidas com o tribalismo, com a bajulação e com nepotismo”, que já se mostraram ineficazes para resolver o problema.
Ou seja, acrescentou, depois da expulsão dos efectivos, passaram a enquadrar nessa estrutura presidencial indivíduos que se identificam com eles.
Os efectivos da Casa Militar no Cuando Cubango e Cuanza Sul pretendem que o Presidente da República envie para aquela província uma comissão “pesada” que vá provar a inocência desses mais dois mil homens.
“Estamos a pedir ao Presidente da República que ponha a mão na nossa situação; não actuar com base nas falsas informações do Ministro de Estado e Chefe da Casa Militar, General Francisco Pereira Furtado ou, então, do nosso carrasco, Tenente/General Cruz, pior das entidades locais, tendo em conta o acentuado nível de tribalismo”, alertou, considerando estranho que alguns sejam expulsos e os outros colegas e amigos recrutados na mesma circunstância estejam bem documentados, com passes da presidência, a trabalharem nas localidades da Jamba e Likuwa, a terraplanarem as estradas.
Disse que as autoridades locais não estão interessadas em dialogar e alega que nem respeitam a Constituição da República por não protegerem nem respeitarem a dignidade humana.
Referem que, várias vezes, esses efectivos tentaram manifestar-se pacificamente, mas as concentrações foram impedidas pelas forças da ordem, mesmo tendo sido feitas com prévia comunicação. Quando faltam 24 horar para o dia da manifestação, o comando Provincial da Polícia Nacional, manda chamar os seus organizadores e ameaça-os.
Porque nenhuma mal que vem só, desde que se instalou o impasse, em 2021, totalizam-se 74 mortes, por frustração e fome e falta de assistência médica condigna, sem contar com o número de crianças mortas e outras fora do sistema de ensino, que ronda às centenas.
Críticas ao governador
Adelino Pessela assegurou que os efectivos da Casa Militar na região sul estão a ser alvos de constantes actos de discriminação tribal e política por parte das entidades do governo local, desde Julho de 2021, quando a Operação Caranguejo do conhecido caso Major Pedro Lussaty atingiu a unidade militar.
“Reprovamos e repudiamos veemente a forma como o T/General João Da Cruz Fonseca conduziu os trabalhos de buscas”, disse, lamentando o facto de nem o Governador da Província e nenhum oficial de justiça terem se pronunciado a respeito.
O silêncio das entidades do governo da província do Cuando Cubango, “levanta em nós grandes inquietações sabendo mesmo que, não apenas o governo local como também o governo central dominam bem aquela instituição militar que vem a funcionar desde 2003”.
“É uma vergonha para o governador do Cuando Cubango, camarada José Martins, quando consegue mentir Sua Excelência Presidente da República, com a afirmação de que nós estamos a fazer política a favor da oposição”, desdramatiza, reiterando que “Angola precisa de dirigentes competentes e não arrogantes”.
Lembrar que a Casa Militar do Presidente da República na região sul do país é constituída por ex-FAPLA e ex-FALA que, durante anos serviram o país, nas áreas de transporte, logística e desminagem.
Portanto, Pessela asseverou que esses homens não treinaram para tomar banho, mas para fazer guerra. Logo, são pessoas que devem ser tidas em conta.