NOTA POSITIVA – Em pleno 25 de Abril PR angolano põe em sentido saudosistas da era colonial
O discurso do Presidente da República de Angola, João Lourenço, em Portugal, nas comemorações dos 50 anos do “25 de Abril”, teve várias reacções, algumas pouco amistosas de sectores da sociedade portuguesa, pela verdade contundente emanada das palavras do Chefe de Estado angolano. A firmeza do discurso, a clareza dos factos históricos expostos e as reacções que provocou é Nota Positiva!
Por: Jap Kamoxi
Infelizmente, em Portugal ainda há quem pense que a colonização foi “um favor que se fez aos povos africanos”, pelo que o discurso do Presidente da República, João Lourenço, não terá sido “bem tragado” por algumas elites portuguesas, quiçá saudosistas dos “velhos tempos colonialistas”.
João Lourenço saudou “o derrube da ditadura salazarista, responsável pela opressão não só do povo português como também dos povos das então colónias portuguesas", mas deixou bem claro que enquanto em Portugal se lutava contra o fascismo e a ditadura salazarista desde 1932, os povos africanos colonizados por Portugal lutavam desde o século XV contra a colonização portuguesa e suas consequências como a escravatura e a pilhagem das suas riquezas.
O Chefe de Estado angolano destacou que "lutámos pelo fim dos abusos, dos crimes e da violação dos direitos humanos cometidos pelo regime colonialista contra os nossos povos durante séculos. Lutámos pela nossa dignidade enquanto seres humanos que somos, que devem ter o mesmo direito à liberdade, o direito a sermos os senhores do nosso próprio destino".
Traçando o paralelismo entre a luta contra a ditadura, em Portugal, e as lutas armadas pela independência das ex-colónias, o Presidente angolano referiu que foram estas que "fizeram precipitar os acontecimentos que levaram ao levantamento e golpe militar do 25 de Abril de 1974 em Portugal".
João Lourenço realçou que “a nossa causa era a mesma que a do povo português e, por isso, juntos lutámos e juntos vencemos o mesmo inimigo, o colonialismo e a ditadura fascista de Salazar e Caetano", alertando para os perigos actuais do “crescimento e proliferação de movimentos extremistas, da xenofobia, do neonazismo, da intolerância política e do fundamentalismo religioso, do terrorismo, que ameaçam as democracias e procuram, por meios democráticos nalguns casos mas, sobretudo, por métodos e caminhos inconstitucionais, chegar ao poder".
Assim sendo, o Presidente angolano propôs que se junte, uma vez mais, “as nossas vontades e energias para enfrentar e derrotar estas forças negativas que hoje se apresentam com novas roupagens, mas que ameaçam as liberdades fundamentais dos cidadãos, a vida humana e o progresso social das nações".
Por sua vez, o Presidente anfitrião, Marcelo Rebelo de Sousa, na sessão evocativa dos 50 anos do 25 de Abril, com chefes de Estado dos países africanos de língua oficial portuguesa e Timor-Leste, disse que Portugal “deve pagar reparações pelos crimes cometidos nas ex-colónias”.
A afirmação do Chefe de Estado luso, gerou diversas críticas, negativas, de sectores mais radicais do cenário político português.
Sem mencionar a importância que a luta armada de libertação nas antigas colónias tiveram para o desfecho do 25 de Abril, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que “do passado colonial guardamos todos as memórias e as lições que nos hão de guiar no futuro”.
“Do passado livre dos últimos 50 anos retiramos a inspiração para irmos mais longe na afirmação da força do nosso futuro, na língua, na cultura, na ciência, no Estado de direito, na sociedade, na economia, na diplomacia da paz, do desenvolvimento sustentável, da luta contra a pobreza, da acção climática, do respeito pelo direito internacional e os direitos humanos, do multilateralismo, do universalismo”, disse, acrescentando que “foi assim há 50 anos, com os capitães de Abril, culminando tantos sonhos e tantos heroísmos da resistência”, e “assim será para sempre”.
Entretanto, vale destacar em nome da memória histórica, que haja uma comunhão e interacção entre Portugal e as suas antigas colónias em África, envolvendo os respectivos povos no despertar para a liberdade e para as independências.