Crise na Transportadora Ango-Real: Trabalhadores sem salários há oito meses
Os funcionários da empresa de transporte rodoviário Ango-Real, não recebem os seus salários desde Março último, período em que a empresa deixou de efectuar viagens interprovinciais. Desta forma, os trabalhadores prometem cruzar os braços nos próximos dias.
Por: Agostinho Paulo
Os trabalhadores apontam o dedo acusador a direcção da empresa, que segundo contam, não demonstra vontade em negociar com os funcionários para que, juntos possam encontrar uma solução.
“Os mauritanos são ditadores, sempre que solicitamos audiência, para falar da nossa situação financeira, recusam-se em aceitar e dizem-nos que, quem não estiver satisfeito, para procurar outra empresa”, disse um dos motoristas que trabalha na empresa há oito anos, pedindo anonimato, com o medo de sofrer represália.
Segundo os profissionais do volante, a empresa não respeita os trabalhadores angolanos, e colocou alguns expatriado a fiscalizar o trabalho dos nacionais.
“Não sabemos se estamos em Angola ou Mauritânia, há muita represália nesta empresa”, denúncia.
“Estamos sem salários desde Março, a semana passada, pagou apenas um mês dos oito que deve, e apenas recebemos o básico, retirou todos os subsídios e prémios de produtividade. No princípio da pandemia, a empresa patrocinou o governo com cerca de 50 toneladas de produtos alimentares diversos, enquanto os seus trabalhadores, vivem extremas dificuldades sociais”, desabafou.
Os funcionários da Ango-Real, denunciam igualmente maltratos por parte dos mauritanos, e pedem que as autoridades sanitárias efectuem uma visita de constatação àquela empresa de transporte.
“Estamos a trabalhar em Angola há oito anos, e por incrível que pareça, não temos um posto médico, cartão de saúde e nem equipamentos de protecção. Quando um trabalhador fica doente, trata-se em casa, e a empresa não assume. Temos apenas um único banheiro para cerca de 40 motoristas, na hora do banho, ficámos todos perfilados sem o distanciamento físico. Fecharam a água nas restantes casas de banho”, lamentaram.
Sindicato pede mais paciência
António Malanga presidente do sindicato dos trabalhadores da empresa, diz que os últimos encontros que mantiveram com a entidade empregadora, ficou concordado a questão dos salários em atraso e que a empresa, comprometeu-se em pagar de forma faseada.
“O patrão não nega a divida, ele reconhece e promete nos próximos tempos efectuar os pagamentos mais de forma faseada. O que temos de fazer, é continuar aguardar pelos nossos salários”, disse, para depois reforçar que a pausa registada em Março com a falta de serviços interprovinciais, agudizou a crise na empresa.
Malanga disse ainda que a medida do executivo em obrigar as empresas pagar os salários, mesmo com as suas principais actividades paralisadas, foi uma medida errada e mal pensada.
“O Estado com este decreto, deveria ajudar as empresas com algum valor financeiro, para pagar os funcionários”, atirou.
Os trabalhadores, ouvidos pela nossa equipa de reportagem, dizem que não se reveem no sindicato e desconfiam que o presidente, esteja a ser corrompido pela entidade empregadora.
“Há trinta dias, decidimos fazer um baixo assinado e reivindicar os nossos salários, mais o nosso sindicato, no dia seguinte retirou todos os papéis”.
A Ango-Real empresa de transporte rodoviário, recebeu do Governo Provincial, 32 autocarros novos, deste número operam apenas 28, com os serviços de táxi urbano, diferente do habitual interprovincial.