Maka no Instituto Tocoista: Estudantes protestam pela subida vertiginosa dos preços
Um grupo de estudantes do Instituto Superior Politécnico Tocoista, (ISPT) afecto a igreja Simão Toco, manifestou-se na quarta-feira, 10, em frente as instalações do Instituto para reclamar a subida vertiginosa dos emolumentos e a má-gestão da instituição.
Por: Edilson Pinto e Belchior Resende
De acordo com Maria Ndambi, uma de vários estudantes que falarão ao Na Mira do Crime a manifestação foi convocada pelo “estado de saturação” dos estudantes, provocado pela direcção do Instituto.
“A princípio nos foi prometido que estudaríamos 4 anos e seis meses, sem ter que necessariamente defender no final do curso de Contabilidade e Finanças. Passado esse tempo, fomos praticamente obrigados a estudar mais um ano, e, apresentado o projecto final, nem sequer deram-nos um tutor para o devido acompanhamento”, explicou.
Para Ndambi, este foi o primeiro factor de descontentamento, acrescido a ondas de subidas dos emolumentos e taxas de multas, sem informação prévia.
“Para terem uma noção, o recurso normal era 7 mil e 500 kwanzas, passou para dez mil, sem sermos consultados, ou infirmados, com o agravante de a instituição ter uma estação de rádio e um portal da instituição”, lamentou, sublinhando que sempre foi desta forma que a direcção da escola impôs os seus desejos.
“Estamos cansados, é triste ver uma instituição gerida pela igreja ter tal comportamento”.
Funcionários da instituição que pedem anonimato, atribuem a má gestão do ISPT a directora Elsa Celeste Pedro, que, contam, tem gerido os problemas internos com arrogância.
“Temos professores sem qualificação, cargos ocupados por conveniência, mesmo a associação de estudantes do ISPT anda de conluio a instituição, não se percebe como é que, tendo este problema, a associação ainda está contra os estudantes”.
Polícia contra estudantes
Segundo os estudantes, no dia 10 do corrente mês quando protestavam de forma pacífica pedindo a redução dos emolumentos e a demissão da directora, surgiu a polícia, sem respeito dos cidadãos, com atitude violenta, ameaçando-os de detenção.
“A nossa polícia é arrogante e parece desconhecer a lei, estávamos a exercer o nosso direito, e de repente surgiu uma patrulha a nos ameaçar e agredir”, lamentaram.
Durante a manifestação, um dos estudantes foi detido e levado a esquadra próxima ao Instituto, em retaliação, os alunos seguiram a patrulha até a esquadra exigindo a libertação do colega.
Os protestos em frente a esquadra de polícia, fez com que mais de 10 alunos fossem detidos. Depois de algumas horas nas celas, os mesmos foram soltos, mas compareceram dia seguinte no tribunal para julgamento sumário, que terá o desfecho na manhã desta segunda-feira, 15.
Os estudantes prometem vigílias e manifestações em frente à igreja, caso os seus colegas sejam condenados.
MEA condena brutalidade policial contra estudantes
O Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) condenou o comportamento da Polícia Nacional, que reprimiu na quarta-feira, 10, os estudantes do Instituto Superior Politécnico Tocoísta, que se manifestaram defronte às instalações da instituição, contra a subida de emolumentos.
Em nota tornada pública, o secretariado nacional para o Ensino Superior do Movimento de Estudantes Angolanos repudia a atitude negativa dos homens da farda azul, que de acordo com o MEA “actuaram com armas de fogo, como se estivessem a caçar delinquentes”.
A acção da corporação, segundo a organização liderada por Francisco Teixeira, culminou com disparos de armas de fogo diante dos estudantes indefesos, que pretendiam tão somente exercer os seus direitos consagrado na Constituição da República de Angola (CRA), tendo sido detido um dos estudantes, “durante a manifestação livre e pacífica convocada com antecedência pelos estudantes do Instituto superior Politécnico Tocoísta”.
“O papel da Polícia Nacional não deve ser somente disparar sem nexo e razão, por isso, reprovamos pelo facto de ter violado os direitos dos estudantes de manifestarem o seu descontentamento dos altos emolumentos, tais como a subida da prova de recurso para 10 mil kwanzas, em pleno país onde o salário mínimo é 16 mil Kwanzas e esta razão de manifestação, a Polícia Nacional não tem a plena consciência e não tem noção da realidade interna que os estudantes vivem”, lê-se.
Para o Movimento dos Estudantes Angolanos, “a forma que a Polícia Nacional trata os delinquentes, vulgo bandidos, não deve ser a mesma que se trata os Estudantes universitários”.
“Precisamos de uma Polícia educada e que pergunta aos estudantes, antes de qualquer actuação sem nexo, em defesa de um grupo de negociadores do Ensino Superior”, refere.
A nota de “repúdio” assinala que, nos próximos dias a direcção do MEA vai manter um encontro com os responsáveis do Instituto Politécnico Tocoísta, “com vista a apurar os factos do que se passou e porquê disparam contra os estudantes bem como o porquê da presença militar que culminou com a detenção ilegal contra um estudante”.
O Na Mira contactou a direcção da instituição que prometeu falar nas próximas horas.
O Instituto Superior Politécnico Tocoista (ISPT) foi inaugurado a 13 de Março de 2017, pelo ex-ministro do Ensino Superior em exercício, António Miguel André, e pelo antigo Governador de Luanda, Higino Carneiro, e pelo bispo Dom Afonso Nunes.
Aprovado pelo Conselho de Ministros, em Fevereiro de 2016, o ISPT com capacidade para três mil alunos lecciona os cursos de Engenharia de Construção Civil, Electrotécnica, Arquitectura, Contabilidade e Finanças e Sociologia.