Máfia no Zango 5: Famílias sofrem esbulhos por efectivos do SIC
Mais de 47 famílias que residem na centralidade do Zango 5, também conhecida por centralidade do zango oito mil, em Luanda, despejadas compulsivamente pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC), continuam a viver ao relento e a espera de uma solução para o seu caso, depois de terem sido supostamente burladas por funcionários da Imogestin.
Por: Agostinho Paulo
Ao Na Mira do Crime, as famílias denunciaram que naquela centralidade há crime organizado dirigido por efectivos do Serviço de Investigação Criminal (SIC) e que contam com a conivência e suporte de alguns funcionários ‘fantasmas’ da imobiliária Imogestin.
Segundo contam, a máfia no Zango 5, começou no mês de Maio de 2019, e que de 15/15 dias, "são visitadas por um aparato do SIC", as quatro horas da manhã, para desalojar de forma compulsiva as famílias.
"A Imogestin disponibilizou-nos as coordenadas bancárias do Fundo Fomento Habitacional, para efectuarmos o depósito, não somos invasores", defenderam-se, para depois afirmar que, têm em sua posse todos os comprovativos de pagamentos.
Benedito Salvador, porta-voz das famílias, pede compaixão a Imogestin, ao Fundo Fomento Habitacional e ao SIC Luanda, e exige que lhes sejam entregues documentos fidedignos, para continuar com os pagamentos.
"O Estado é uma pessoa do bem, deve legalizar-nos e procurar colocar um ponto final nesta novela", implora, garantindo que até ao momento, em função desta situação, várias pessoas acabaram por ser acometidas com AVC e encontram-se adoentadas.
Salvador, explicou por outro lado, que sempre que há esbulhos e de detenções ilegais destas famílias, a Imogestin nega e diz desconhecer os mandatários, situação que é contestada pelas famílias visadas, na voz do seu interlocutor e denuncia os seus autores.
"O esquema é montado pelo próprio director do Fundo de Fomento Habitacional, com a conivência de efectivos do SIC, por uma senhora identificada apenas por Yolanda e o seu sobrinho Narú", acusou, esperando que as autoridades competentes esperam que, por via dessa denúncia, se possa chegar aos verdadeiros usurpadores de residência da centralidade em questão.
Tribunal Provincial absolveu as famílias do caso
Benedito Salvador, recorda que em Maio de 2019, as famílias arroladas na supostamente burla, foram notificadas pelo Tribunal Provincial de Luanda e depois de um julgamento sumário acabaram absolvidos pelo crime de usurpação de imóveis, do qual vinham acusados e pronunciados.
"Fomos submetidos ao julgamento sumário e ficou provado, em tribunal, na voz do próprio juiz da causa, que não somos invasores", precisou, sublinhando que, mesmo com um desfecho favorável as famílias não voltaram a ter as suas residências de volta e continuam a viver na indigência e ao relento por falta do cumprimento da ordem judicial.
Casas transformadas em cantinas
Entretanto, se de um lado há pessoas que não conseguem ter uma residência digna para habitarem com as suas famílias, em função dos mais variados esquemas montados à volta da compra e venda de residências nas centralidades do País, ao Na Mira do Crime foi denunciado que, até a presente data, mais de 100 vivendas na centralidade do Zango 5, foram transformadas em cantinas, bares, padarias e quiosques.
"O que se regista aqui é uma autêntica brincadeira de mau gosto, desalojam as famílias para transformar as casas em locais comerciais.
São pessoas que têm mais de uma residência que acabam por montar esquemas fraudulentos e quem necessita de uma casa para morar não consegue. Solicitamos, por favor, que alguém de direito venha colocar um travão nisto porque está muito mal", lamenta.
Contudo, para a situação das famílias desalojadas, Benedito Salvador, visivelmente agastado com a situação, garante que as famílias têm possibilidades financeiras para continuar a pagar a renda resolúvel, aliás, um modelo adoptado para a aquisição das residências, desde que recebam contas legais onde possam fazer o respectivo pagamento.
"Estamos a viver aqui há já dois anos, não viemos de para-quedas. Estamos dispostos a negociar e a continuar a contribuir para os cofres do Estado", concluiu.
O Na Mira do Crime, tentou contactar, via telefónica, o porta-voz do SIC Luanda, Fernando de Carvalho, mas fomos mal sucedidos.