Abuso de poder: Empresa Aqua Oceanus despede funcionária hospitalizada
A cidadã Antonica Baptista Segunda, viúva de 45 anos e mãe de três filhos, viu cortada a sua relação laboral com a empresa Aqua Oceanus, precisamente, quando se encontrava acamada no hospital Josina Machel, depois de um acidente de viação ocorrido quando saia do serviço.
Por: Matias Miguel
Em entrevista ao NA MIRA DO CRIME, a cidadã, cujo aspecto vale descrever para que se possa notar a sua aflição, tem a perna direita engessada.
Para locomover-se é preciso duas canadianas, vulgo muletas e tem uma cicatriz que lhe rasgou a sobrancelha e afectou-lhe a parte inferior do rosto.
Com um semblante carregado e que denota alguma fadiga e muita fome Antónica Baptista Segunda disse ter um contrato, com prazo renovável, firmado com a Aqua Oceanus desde 2012, altura que foi admitida na empresa, sendo que, nessa altura, prestava serviços no Palácio de Justiça, no município de Viana.
“Fui reconduzida para uma empresa próximo a cidade da China, para cobrir uma colega em fim de contrato”, explicou, garantindo que foi no novo posto de trabalho que ocorreu o seu infortúnio.
“No dia 14 de Setembro de 2020, por volta das 17h40, no final da minha jornada laboral, estava na paragem de taxi quando fui surpreendida por uma motorizada desgovernada e colheu-me. Quando dei por mim, estava na cama do hospital, com a perna partida, sem três dentes e a vista inchada”, contou, visivelmente abalada com a sua actual situação.
Da cama do hospital, acrescentou, recebeu, no dia seguinte ao acidente, garantias do seu chefe directo, de que a seguradora suportaria as despesas para o seu tratamento, mas que por isso, “eu deveria arranjar meios para ser transferida para a clínica da Endiana, onde a empresa tem um seguro de saúde para os funcionários”.
Para o seu desagrado e espanto, na Endiama foi de imediato rejeitada no portão a pretexto, segundo disse, pelo seu estado crítico.
A Endiama alegou que ao invés de observação teria de ser internada, mas em função do tipo de convenio que tem com a empresa não seria possível por causa dos gastos.
“Comuniquei a situação ao meu chefe e, infelizmente, a partir daquele dia, começaram os bailes e acabei mesmo por ficar internada no hospital Josina Machel, onde fiquei à mercê de Deus, já que a empresa simplesmente limpou as mãos e abandonou-me à minha própria sorte”.
Salários cortados no segundo mês
De acordo a nossa entrevistada, teve alta hospitalar um mês depois, tendo recebido em sua casa a visita de duas colegas que, ao aperceberem-se da situação da colega, procuraram-na para prestar solidariedade.
“Soube depois que elas levaram a preocupação ao chefe, mesmo assim não obtive algum sinal positivo e permaneci em casa em recuperação, já que na minha condição, com a perna partida, não poderia trabalhar”.
No segundo mês a seguir ao acidente, ainda em fase de recuperação, isso em Novembro de 2020, avança Antónica Segunda, sem nenhum aviso prévio, viu os seus proventos serem cortados.
“Hoje sobrevivo da caridade de pessoas de boa-fé. Quando não há essa ajuda bebemos água para poder pregar o sono. Nesse momento, vivo uma vida de cão porque não conseguia me locomover e só agora me foram retirados os ferros que suportavam a perna”, notou, para depois dizer que só agora, com o gesso, consegue dar alguns passos.
Por outro lado, em função da gravidade do acidente, teve de ser submetida a uma intervenção cirúrgica na vista da qual sente muita comichão.
“Na cirurgia a que fui submetida, os médicos tiveram que me retirar a vista e tiveram que recolocar. Por esta razão, sinto muita dor e dá-me a impressão que não está bem fixa”, explicou, garantindo que espera não ter sido um erro médico com o qual vai ter de lutar outra vez para ver resolvido.
Documentos médicos ignorados pela empresa
Antónica Segunda reclamou ainda que para ver o salário do mês de Outubro, o filho teve que levar o título de alta médica na empresa.
“Em Março ligaram a exigir o relatório médico, solicitei ao hospital, que apenas entregou-me a 17 de Junho em função da situação da Covid-19 que o País está a viver desde Março de 2020. Nesse sentido, mandei o meu filho levar o documento médico acompanhado de uma foto para observarem o meu estado, mas infelizmente, a resposta que recebi foi que o documento não oferecia garantia alguma”, notou, visivelmente chocada.
Despedida por improdutividade
Entretanto, segundo o documento médico que recebeu do hospital, Antonica Segunda foi obrigada, por recomendação médica, a ficar de repouso há mais de oito semanas, situação que foi ignorada pela empresa que, sem meias medidas, acabou por despedi-la sem indemnização alguma ou aviso prévio.
“Recebi apenas uma nota que conseguiram me enviar a dizer que tinha sido despedida. Quando reclamei disseram-me que foi apenas uma medida e que tão logo esteja melhor poderão me reintegrar, mas essa explicação foi-me dada verbalmente”, denunciou.
As desculpas da Aqua Oceanus
Por formas a apurar a veracidade dos factos, a nossa equipa esteve na Aqua Oceanus, tendo na ocasião contactado a directora dos Recursos Humanos da empresa.
Questionada sobre o assunto, por incrível que pareça, a responsável da área de recursos humanos da empresa não se reencontrava e tinha total desconhecimento do caso.
Foram precisos 40 minutos para vasculhar junto da acessória da empresa, sob pretexto de serem duas mil funcionárias e as vezes perde-se.
Entretanto, assumiu ter despedido a funcionária porque as normas da empresa assim o recomendam.
“Em relação aos apoios que a empresa não pode assistir a funcionária isso deveu-se ao facto da empresa gastar muito com isso, veja o lado financeiro da empresa se tivermos que assistir todos os casos e encargos de funcionários que tiverem acidente a caminho de casa?”, questionou.
Em gesto de conclusão, mas em tom ameaçador, a Directora dos Recursos Humanos da Aqua Oceanus ainda deixou uma recomendação à nossa equipa. Como quem quer ensinar o vigário a rezar o ‘Pai Nosso’, recomendou-nos a ver bem o que escrever, sob pena de sermos submetidos a processos de difamação, em função do nome que essa empresa já granjeou.