Caso Lussaty 'exige' refundação da Casa de Segurança do PR
Quatro anos depois de João Lourenço assumir a presidência da República, aparecem bem dentro da sua 'entourage' casos inéditos de institucionalização da corrupção, com altas patentes envolvidas, como se de um país sem segurança se tratasse.
Por: António Kañeneñene
Tal desenvoltura indica—nos que, em parte, o país está mergulhado na indigência por causa 'dos oficiais generais’ que, desafiando as instituições do Estado, assumem—se como donos do erário angolano.
Se os serviços de segurança não conseguem descobrir, em tempo útil, quem rouba e guarda o dinheiro do Estado em contentores, como é que vão descobrir quem atenta contra a vida do Presidente da República?
Esta pergunta vem a propósito do "Caso Caranguejo", que agora tem novos contornos, com a detenção, em Menongue, do Chefe da Casa do Presidente naquela província e mais 20 oficiais da Casa de Segurança.
Cuando Cubango é a província, no sul do país que, devido às suas especificidades —não se sabe quais — teve ou tem uma estrutura da Casa Militar que movimentou muito dinheiro do Estado, ao ponto de ser capaz de forjar enquadramento de pessoal de todas latitudes, inclusive estrangeiros.
O que nos trazem hoje, para as nossas memórias consumirem, é que, se não fosse o major Lussaty a distrair—se no detalhe, e ser detido pela PGR, teríamos ainda muito dinheiro do Estado a ser movimentado em contentores, onde quer que fosse, por pessoas próximas da estrutura presidencial, aparentemente sem a nossa 'secreta' se aperceber.
Apesar dessas detenções, ninguém garante que não haja dinheiro do Estado guardado nas fazendas, quintas ou mesmo residências cuja descoberta é, tal como no passado, uma miragem.
Por enquanto, fica a ideia de que, durante algum tempo, nenhuma estrutura do Estado angolano funcionava, até mesmo os serviços de segurança; cada um poderia fazer o que bem entendesse, pelo menos os senhores ligados à presidência da República, com maior realce aos militares.
Esta hipotética paragem terá afectado principalmente aqueles cuja missão é defender o país, não apenas contra a invasão externa, mas também contra os inimigos internos que, manifestamente, têm maior domínio da situação.
Já se sabe que não é uma pessoa qualquer que mexe no erário a não ser quem tem essa facilidade, com maior dose do abuso do poder.
E se essas pessoas não são abordadas por quem tem esse dever, não será apenas condescendência, mas sobretudo cumplicidade.
EIS O PARADOXO
Tudo isso acontece numa altura em que se apregoa o combate à corrupção, cujos sinais foram dados nos primeiros dois anos do Presidente João Lourenço.
Também esses escândalos acontecem numa altura em que os angolanos estão de mãos dadas com a fome, a pobreza, morte por malária, saneamento básico, e crianças fora do sistema de ensino.
Ainda assim, ousa—se dizer que esses problemas se devem à queda do preço do petróleo e à Covid—19. É evidente que o desvio do erário pode condicionar o sucesso da diplomacia económica que se está ou se pretende desenvolver.
A atracção do investimento estrangeiro, como é evidente, passa também pela boa governação dos Governos. Não será exagero dizer—se que o combate à institucionalização da corrupção, no caso concreto de Angola, passaria, em primeiro lugar, pela refundação da Casa de Segurança do Presidente da República.