Criação de partidos, partidecos e quebrados: A nova forma de “garimpo” que se instalou na sociedade angolana
Nos últimos dias, de acordo com uma certa agitação que se vive em alguns segmentos da sociedade, estão a surgir diversos movimentos que visam a criação de partidos políticos. Os mentores de tanta azáfama são das mais extintas origens, desde cidadãos comuns, cantores, jornalistas, pastores religiosos, activistas cívicos e políticos. Mas porquê tanto interesse em criar um partido político? Eis a questão!
Por: Na Mira do Crime
Em Angola, instalou-se na mente de algumas pessoas a ideia de que a criação de um partido político é a solução para se chegar a determinados patamares sociais e ganhar dinheiro com alguma facilidade.
Segundo um observador atento ao fenómeno, de forma irónica, diz que a nova forma de “garimpo” que surgiu em Angola é criar um partido político.
“Em Angola temos garimpeiros de diamante, de ouro e de outras riquezas naturais; mas agora, face sobretudo às dificuldades que se vive, a miséria que grassa no seio da população, muitos cidadãos entenderam criar partidos políticos como uma nova forma de ‘garimpo’ para melhorar a vida, já que tem-se a ideia que no país os políticos têm mais oportunidades e vivem melhor em detrimento da maioria dos cidadãos”.
As degradantes condições de vida no país, o alto índice de desemprego que agrava a miséria, a falta de perspectivas de melhoria num breve espaço de tempo, que aflige sobremaneira os jovens, entre outras percepções negativas, mais que interesses políticos, são as principais razões para o “corre-corre” que se está a assistir actualmente, um pouco por todo país, na busca de simpatias, aderentes, assinaturas, cópias de bilhete de identidade e atestados de residência, numa autêntica “caça ao homem”, tudo para cumprir os requisitos impostos pela lei para legalizar um partido político.
Se a tendência mais recente no campo da criação de partidos políticos em Angola era apontada a dissidentes e/ou pessoas oriundas da UNITA, tal como Abel Chivukuvuku com o seu projecto político Pra-Ja Servir Angola, Dinho Chingunji com o P-Njango e Bela Malaquias com o Partido Humanista de Angola (PHA), actualmente a tendência é outra.
Há, entretanto, a salientar que dos três citados, o Pra-Ja Servir Angola de Abel Chivukuvuku, embora tenha sido o primeiro a solicitar legalização, tal pretensão continua a ser negada pelo Tribunal Constitucional, supostamente por insuficiências mal explicadas.
Já o P-Ndango e o PHA foram legalizados à tangente e ainda participaram nas eleições realizadas no ano passado, tendo o partido de Bela Malaquias conseguido representação na Assembleia Nacional.
O alegado “crivo cerrado” do Tribunal Constitucional não tem sido motivo para inibir os “criadores” de formações políticas pois, nos últimos dias, como é comum dizer-se, estão a “crescer como cogumelos”.
Nesta nova tendência, o rapper Brigadeiro 10 Pacotes foi dos primeiros que apareceu a liderar um projecto de criação de um partido político chamado Crentes-PJ, entretanto chumbado pelo Tribunal Constitucional que descreveu lacunas no processo.
Dois anos depois, ao que tudo indica, a intenção ganhou nova vida. Na mesma esteira, o activista Pedrowski Teka, do Movimento Revolucionário de Angola, apresentou em tempos ao país o seu projecto “União dos Povos de Angola” (UPA), adoptando o nome do movimento de libertação criado por Holden Roberto, que posteriormente passou a chamar-se Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), com o objectivo de elevar a “luta dos activistas cívicos” angolanos que a cerca de década e meia passaram a manifestar-se contra violações aos direitos humanos, entre outros abusos do poder.
Acção para o Reforço da Democracia em Angola (ARDA), é igualmente outro projecto político que visava participar nas eleições gerais de 2022, mas que continua a espera de legalização. O seu mentor, Teka Ntu, afirmou na altura que a nova força política por si liderada “será o factor estabilizador do processo de democratização de Angola”.
Nos dias actuais, o jornalista Inocente Simão Caxala Neto apareceu a frente do “MODA” (Movimento Democrático Angolano), cuja comissão instaladora foi credenciada recentemente pelo Tribunal Constitucional de Angola.
O Partido Juvenil de Coligação Angolana (PJCA), que tem na liderança Virgílio Pimenta, ex-membro da direcção do extinto Partido Republicano de Angola (PREA), é outro projecto em fase de comissão instaladora e que aguarda credenciamento do Tribunal Constitucional.
Mbanza Hamza, activista do conhecido processo 15+2 , é o coordenador do projecto político “Angola Primeiro” que já tem uma comissão instaladora a preparar o processo de legalização no Tribunal Constitucional.
O ex-líder da JURA (Juventude da UNITA), Nfunca Muzemba, é o mentor do partido “Esperança”, já com comissão instaladora reconhecida há algum tempo, mas ao que se diz terá estagnado.
O partido Visão, Inovação e Desenvolvimento dos Angolanos (VIDA), liderado por Luciano Bunga, é mais um projecto político cuja comissão instaladora foi admitida recentemente pelo Tribunal Constitucional e alega-se que já trabalha para a sua legalização.
Fundado já há algum tempo e agora em fase de revitalização está o Movimento de União Nacional (MUN), que se diz “nova força no cenário político angolano”, mas ainda por legalizar. Este projecto tem como mentor o cidadão angolano Karl Sarney Manuel Mponda, exilado nos Estados Unidos da América.
Muitos outros projectos têm sido anunciados, dezenas emperram no Tribunal Constitucional por diversos motivos, sendo um dos mais apontados, a falsificação ou duplicação de assinaturas.
É voz corrente que está na forja a criação de um partido político por parte de islamitas em Angola, uma intenção que já tem sido anunciada de um tempo a esta parte, embora de forma velada.
Antes da realização das eleições-gerais de Agosto passado, já se propalava a criação do referido partido, que tinha mesmo a pretensão de obter a legalização para concorrer naquele pleito eleitoral.
Embora Luanda se destaque no assunto, o movimento é extensivo a outras províncias do país. Os mentores de algumas dessas criações sonham com o poder, chegar à Assembleia Nacional (Parlamento) já é muito bom, mas se der para atingir patamares mais altos, melhor ainda.
Uns estão mais interessados nas vantagens, principalmente económicas que podem obter com isso e a intenção é, depois de legalizados, tornarem-se aliados directos da UNITA ou do MPLA, sendo financiados para conquistar votos e atrapalhar adversários que tentem sobressair, à semelhança do partido Aliança Patriótica Nacional (APN) de Quintino Moreira.
Outros vão justificando o exercício da criação de um partido com as autarquias, alegando que pretendem “fortalecer a democracia” e a intenção é participar nas eleições autárquicas para dinamizar o processo.
“Na verdade são partidecos usados para atrapalhar o cenário e reforçar o actual sistema político de partidarização", refere o analista.
Contudo são assinalados também interesses obscuros que motivam a criação de determinado partido político, como no caso de um possível partido islamita (muçulmano), que seria muito perigoso para o país.