Mal pagos e maltratados -Trabalhadores da empresa LTI declaram greve
Os trabalhadores da empresa de transportação de bens diversos, LTI, entraram em greve desde o dia 20, em protesto aos baixos salários e uma série de reclamações que constam de um caderno reivindicativo apresentado à direcção da referida empresa, dentre elas o seguro de saúde, digno subsídio de alimentação e o respeito à dignidade dos trabalhadores.
Por: Alfredo dos Santos Talamaku
Os trabalhadores, que falaram em exclusivo a este Jornal disseram que o baixo salário não se adequa aos trabalhos prestados, facto que tem criado descontentamentos no seio dos funcionários, tal quanto disse o senhor Francisco Capingala, motorista de camiões, que trabalha na LTI, há cerca de 20 anos. " Nós ganhamos mal, apenas 40 mil kwanzas, por esta razão nos juntamos para reivindicar, temos famílias e merecemos respeito por parte da empresa a quem todos os dias oferecemos os nossos esforços para garantir a existência da mesma", disse.
Os trabalhadores acusam a empresa de efectuar despedimentos anárquicos, que ocorrem sempre que qualquer um apresente reclamação de qualquer questão à direcção, sobretudo ligada ao aumento salarial. "Aqui, somos proibidos de apresentar qualquer reclamação, quem tentar é logo despedido sem justa causa; não temos seguro de saúde, o centro de saúde que temos serve apenas para medir a pressão arterial, os chefes não respeitam os trabalhadores, parece que estamos a ser neo-colonizados", descreveu.
Os grevistas disseram que a paralisação dos trabalhos não se verifica apenas em Luanda, mas sim em todas as províncias em que a empresa está representada.
No dia 21, a empresa sentou com os trabalhadores, prometendo cumprir com os pressupostos contidos do caderno reivindicativo. "A empresa prometeu cumprir com as nossas reclamações apresentadas, então decidimos voltar as actividades normais, no fundo era simulação, porque na quinta-feira, dia 23, foi apresentada uma lista de 26 trabalhadores despedidos por terem aderido a greve", contaram.
Pedro José, motorista, que viu seu nome afixado na lista dos despedidos, disse que a empresa está agora à margem da lei, porque está a despedir o pessoal por retaliação devido a adesão à greve. "Disseram que eu tinha que ficar em casa, prometendo que me dariam 170 e um mil Kwanzas, contou, acrescentando que o dia-a-dia dos funcionários tem sido difícil, trabalham tanto de dia como de noite, mesmo que estejam cansados.
"Eu carrego uma deficiência no braço por causa de um acidente que tive no dia 26 de Janeiro, ocorrido na estrada da Muxima, porque a empresa me colocou a trabalhar no porto do Lobito durante 48 horas, obrigaram-me a sair do Lobito a Luanda, cheio de sono, mas exigiram e tive o acidente", contou.
Os trabalhadores atestam ainda que em algumas vezes, os motoristas têm sofrido descontos nos salários alegadamente por desvio de combustível. "Somos descontados do salário, por desconfiarem que retirávamos combustível dos camiões, sem provas. Nessas circunstâncias, o desconto chega a ser o triplo do preço normal do combustível, já suportamos muitas coisas, desta vez a direcção tem que sentir que também somos pessoas, livres e não escravos; pedimos a intervenção dos órgãos do Estado para que instaure um inquérito para se aferir os escândalos de corrupção e o neocolonialismo que se observa nesta empresa" disseram.