Hospital pediátrico David Bernardino ‘rebenta’ pelas costuras
Numa altura que Angola se debate com um aumento exponencial da malária, com Luanda a liderar as estatísticas, o hospital pediátrico David Bernardino, a principal unidade de referencia no tratamento de crianças de Luanda, dá mostras que está a rebentar pelas costuras pelo numero de pacientes que ali acorrem diariamente, sendo que a morosidade no atendimento e a insistência de fármacos são visíveis aos olhos dos pacientes e seus familiares.
Por: Ivone Boa
Numa ronda efectuada pelo Na Mira do Crime naquela unidade localizada na baixa de Luanda, o pacientes reclamam do mau atendimento ao ponto de sentirem-se abandonados pelos médicos, uma vez que passam o dia inteiro sentados e sem informação alguma, para verem os seus filhos socorridos por um médico.
Domingas Manuel, é uma dessas pessoas. Em entrevista a este Portal disse que chegou as 6 horas naquela unidade hospitalar, mas por incrível que pareça, até às 18 horas o seu filho não havia recebido nenhum socorro da equipa médica.
A queixar-se de de fome, teve que depender de outros pacientes para comer alguma coisa, porque só tinha o dinheiro do táxi para regressar à casa.
“Estamos aqui o dia todo porque ficamos a saber que, afinal, o médico que atende está a atender no banco de urgência é o mesmo que está a atender os doentes internados”, explicou a senhora visivelmente agastada com a situação em função do tempo de espera registado para o referido médico pegar os pacientes que estavam no quintal para serem atendidos.
Paludismo e malária lideram as patologias
Num levantamento rápido que o Na Mira do Crime efectuou no local notou que, as patologias que levaram os utentes naquela unidade hospitalar são o paludismo, muitas vezes associados a fortes dores de cabeça, as doenças respiratórias e diarreicas bem como a malária associada as fortes dores musculares e anemia.
Outra questão verificada é o enceramento da farmácia, mesmo em horário que o hospital está apinhado de doentes.
Em função dessa situação, todos os pacientes atendidos apenas recebem as respectivas receitas para adquirem os medicamentos numa farmácia particular conforme a explicação de uma utente que preferiu não ser identificada.
“A senhora jornalista pode ir agora mesmo a farmácia e vai ver que está fechada. Logo, não temos como receber os medicamentos do hospital”, denunciou, garantindo que isso é bastante triste porque a pediatria recebe, quase sempre, doações, quer de medicamentos e financiamentos, de ONGs.
Por este facto, a senhora não se coibiu em questionar: “onde vão parar esses medicamentos”?
Bernardo Manuel, por sua vez, disse que chegou ao hospital por volta das 5 horas da manhã, mas até ao momento, por volta das 17 horas, a sua filha não tinha sido atendida.
Acometida com uma tosse intensa e problemas respiratórios, derivados da mudança de clima com a chegada do tempo do frio teme que a filha piore ainda mais.
Outra reclamação do senhor Bernardo prende-se com o nepotismo, sublinhando que, pessoas que o encontraram no hospital já foram atendidos.
“Outra situação que constatei é que os enfermeiros perdem muito mais tempo a conversar assuntos pessoais do que atender os pacientes”, denuncia, solicitando uma intervenção de quem de direito para se mudar o quadro actual.
Números que assustam
De acordo com dados avançados, esta semana, pela ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, mais de dois milhões de cidadãos tiveram malária nos últimos cinco meses, em todo o país, resultando num total de cinco mil e 573 óbitos.
A malária continua a ser, de facto, o principal problema de saúde pública em Angola.
Só para se ter ideia, já que os números oficiais disponibilizados falam por si, só no período de Janeiro a Maio último, teve uma taxa de mortalidade de 0,1 por cento entre os casos atendidos nas unidades sanitárias.