Angolanos celebram 46 anos de independência com inúmeros desafios à vista
Quando se assinala e se comemora o 11 de Novembro, como o dia da Independência de Angola, surgem, teimosamente, várias leituras positivas e negativas, mas convergentes num aspecto: valeu o sacrifício dos nossos antepassados, que tudo fizeram para que o país se tornasse independente, embora os benefícios que esperavam estejam longe dos seus olhos.
Por: Lito Dias
Os acordos de Alvor, assinados entre os três movimentos de libertação (MPLA, UNITA E FNLA) foram, sem dúvidas, a ponte para a independência de Angola. No entanto, as desconfianças fundamentalmente, entre os seus signatários levaram o país ao descalabro.
Uma dessas figuras é Ngola Kabangu que assume que todos os movimentos tinham um programa e sabiam o que pretendiam exactamente para uma Angola independente.
"Foi uma questão de disputa política e, naquela altura, a primazia era dada à luta armada", refere Kabangu, então Ministro do Interior do Governo de Transição.
O político considera que apesar de ter havido poucos debates políticos e poucas cimeiras, o MPLA e a FNLA ensaiaram em 1972, a criação do Conselho Superior da Luta de Libertação de Angola, com ajuda da Organização da Unidade Africana (OUA).
"Mesmo depois de a UNITA também se encaixar, o Conselho Superior não teve pernas para andar", lamentou. A desconfiança imperou entre angolanos ávidos de ver uma Angola verdadeiramente livre do colonialismo, desembocando na guerra fractricida, com um extenso rasto de destruição, cujos resquícios ainda são verificáveis nos dias de hoje.
A conquista da paz, em 2002, veio dar um novo alento aos esforços de unidade, reconciliação nacional e desenvolvimento pretendidos em 1975. Está—se num bom caminho, conforme garante o Executivo angolano com cálculos de que foram dados passos positivos em todos os aspectos, com realce para o fortalecimento das instituições, o desenvolvimento e o estabelecimento de um verdadeiro Estado Democrático e de Direito.
Mas também acredita que alguns desígnios dos combatentes pela independência estão por se materializar. Se por um lado, o Executivo tudo faz para inverter o quadro e dar aos angolanos o que mais precisam, de forma racional, por outro lado, alguns desses esforços e programas não têm tido impacto directo na vida das populações, que carecem até de coisas básicas.
Se se está num bom caminho, é altura do Executivo brindar o povo angolano com obras que contribuam directamente para sua vida; aquelas que ajudam a obter emprego, saúde, educação e habitação, condignas, água potável, energia eléctrica garantida; aquelas obras que ajudam a minimizarem os efeitos da seca no sul do país.
O Executivo tem tudo para agradar o povo com acções concretas, desde que saiba estabelecer prioridades. Uma localidade que precisa hospital não pode receber cine recreativo que engole avultadas somas em dinheiro que serviria erguer postos de saúde, escolas ou financiar pequenos negócios. Se o quadro for invertido, o povo sentirá os efeitos os efeitos da liberdade.
Samakuva saúda, mas....
O Presidente da UNITA, Isaías Samakuva, saudou o povo angolano por mais um 11 de Novembro. "Saúdo, não tanto para festejar, porque não se festeja com fome, endemias e dívidas galopantes, mas para assinalar o 11 de Novembro como data de reflexão nacional e para convidar os angolanos a construir de facto a independência e a unidade nacional", afirmou.
O político lembrou que Jonas Savimbi, Agostinho Neto e Holden Roberto assinaram os Acordos de Alvor, em Portugal, mas centenas de outros angolanos tornaram este acontecimento possível por via da sua resistência nas cadeias, das suas reivindicações nas plantações agrícolas, nas células clandestinas nos bairros e até nas Igrejas. "Por isso, os historiadores dizem que a independência teve muitas datas e muitos heróis", acrescentou.