Putin assina decreto que autoriza uso alargado de armas nucleares
O presidente russo assinou esta terça-feira o decreto que alarga as possibilidades de utilização de armas nucleares, aprovando uma nova doutrina nuclear.
Segundo a AP, a novo decreto de Putin declara que um ataque convencional à Rússia, que seja perpetrado por qualquer nação apoiada por uma potência nuclear, será considerado um ataque conjunto a território russo.
"É possível uma resposta nuclear por parte da Rússia em caso de ameaça crítica à sua soberania, mesmo com armas convencionais, em caso de ataque à Bielorrússia enquanto membro do Estado de União, [ou] em caso de lançamento maciço de aviões militares, mísseis de cruzeiro, drones, outras aeronaves e sua travessia da fronteira russa", lê-se no decreto, citado pela imprensa internacional.
O decreto determina que "a dissuasão da agressão é assegurada pela totalidade do poder militar da Federação Russa, incluindo as armas nucleares". O documento sublinha ainda que a política estatal no domínio da dissuasão nuclear é de "natureza defensiva".
Putin assina o novo decreto dias depois de o presidente dos Estados Unidos ter levantado o veto à utilização por Kiev de mísseis de longo alcance norte-americanos para atingir território no interior da Rússia - e poucas semanas antes de Donald Trump chegar à Casa Branca.
A nova doutrina nuclear de Putin prevê que qualquer ataque aéreo à Rússia possa desencadear uma resposta nuclear e reflete a disponibilidade do Kremlin para ameaçar com a utilização do seu arsenal nuclear, numa provável tentativa de forçar o Ocidente a recuar no apoio à Ucrânia.
Atualização necessária perante situação atual
Falando aos jornalistas já esta terça-feira, Dmitry Peskov, o porta-voz do Kremlin, sublinhou que a utilização de mísseis não nucleares ocidentais pelas forças armadas ucranianas contra a Federação Russa, de acordo com a nova doutrina, poderá levar a uma resposta nuclear.
Peskov salientou ainda que a Rússia considera o recurso a armas nucleares uma "medida extrema", citado pela agência estatal russa TASS, mas assinalou que a atualização da doutrina nuclear era necessária para alinhar o documento com a atual situação política.
De acordo com Peskov, "a dissuasão nuclear tem como objetivo garantir que um potencial inimigo compreenda a inevitabilidade da retaliação em caso de agressão contra a Federação Russa e (ou) o seu aliado".
A doutrina atualizada mantém a disposição segundo a qual as decisões sobre a utilização de armas nucleares serão tomadas pelo chefe de Estado.
"O Presidente da Federação Russa pode, se necessário, informar os líderes militares e políticos de outros Estados e (ou) organizações internacionais sobre a prontidão da Federação Russa para utilizar armas nucleares ou sobre a decisão de utilizar armas nucleares, bem como sobre o facto da sua utilização", lê-se no documento.
Primeiro ataque em território russo com mísseis ATACMS?
Já esta terça-feira, o exército ucraniano comunicou um ataque a um arsenal logístico das tropas russas perto da cidade de Karachev, na região de Bryansk.
De acordo com os serviços secretos ucranianos, o depósito era utilizado para armazenar bombas e munições, incluindo as fornecidas pela Coreia do Norte.
Não se sabe exatamente com que tipo de mísseis foi realizado o ataque, mas vários meios de comunicação ucranianos, citando fontes próximas, sugerem que se tratou do primeiro ataque em território russo com mísseis ATACMS. O Z-channel Military Informant também não exclui a possibilidade de as forças de Kiev terem realizado um ataque combinado utilizando drones e mísseis ocidentais ATACMS ou Storm Shadow.
O Ministério da Defesa russo afirmou apenas que 12 drones ucranianos foram destruídos na região de Bryansk.
Durante o fim de semana, os meios de comunicação social norte-americanos noticiaram que Joe Biden tinha levantado a proibição de a Ucrânia utilizar mísseis balísticos norte-americanos para atacar território russo. Não houve confirmação imediata por parte da Casa Branca.
Na segunda-feira, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou que Kiev tinha recebido autorização dos EUA para atacar o interior da Rússia "até 300 quilómetros".