Viúva do inspector assassinado no Zango ‘tem certeza’ que o crime foi praticado por agentes da polícia
“Cortaram-me as pernas, não sei como vou andar, estou envergonhada, estão a rir-se de mim... segunda-feira recebemos uma ligação do hospital para irmos lá com urgência, afinal a notícia é essa, a minha filha também foi”, foram as palavras da viúva, Suzana Sérgio António, esposa do inspector da Polícia Ronde António e mãe de Emanuela Carina, que viu o marido a ser assassinado no dia 8 do mês em curso, no bairro Muxima Moxi, município de Viana Distrito Urbano do Zango, e a filha de 12 anos a ser baleada na cabeça por marginais até agora não identificados.
Por: Matias Miguel
Quase sem forças para se comunicar, com as lágrimas a escorrer insistentemente do rosto, Suzana recebeu a equipa do NA MIRA com lembranças amargas.
É que, passados 19 dias de angústia, com a filha a lutar pela vida, a família que viu o pilar de casa a perder a vida da forma violenta, sofreu um novo golpe na manhã de segunda-feira, 27. A Carina não resistiu aos ferimentos e morreu.
Porém, quase um mês depois da morte do marido, a viúva ainda se pergunta como é que os dois colegas do malogrado chegaram em sua casa nas primeiras horas da manhã, depois do marido ser assassinado, se ela não havia ligado para ninguém?
“Eles apareceram às 06horas, eu fiquei a assistir o corpo do meu marido durante a madrugada, com os meus filhos, não fiz ligação alguma, esta é a pulga que tenho na orelha...”. Suzana, abandonou a sua residência no Zango, por temer que os assassinos regressem para “concluir o trabalho”.
“Sei que eles estão a acompanhar tudo a partir do serviço, e sabem que o meu depoimento é acertado, o meu marido foi morto pelos colegas descontentes com a sua ascensão”, acusou, acrescentando que se sente abandonada pela direção da UPIP.
“Sinto-me abandonada pela direcção do serviço do meu marido, com excepção do seu chefe directo, que ainda liga para saber dos miúdos. O meu marido sempre foi humilde e obediente, dava tudo pelo serviço, ao ponto de abandonar a família na mesa e correr para atender o Chefe, não merecia o abandono que a sua família passa neste momento”, lamentou.
“O meu marido sempre falava que tinha que ir atender as doutoras Heli e Emanuela, ora porque o carro do presidente não tem combustível, tenho que ir resolver, mas estas pessoas estiveram apenas no velório, até o venerando juíz Leonardo que tanto ele falava não se importa com mais nada”, chorou.
Segundo a família do malogrado, até ao momento, das mãos da polícia e das pessoas com quem o oficial da polícia trabalhava diretamente, receberam um saco de sal, de arroz e fuba a caixa e mais cem mil kwanzas.
Justiça, justiça e justiça
“Perdi duas vidas, peço a Polícia que trabalhe a sério neste caso, numa só sentada perdi as pessoas que me preenchiam, o pai e a filha... é muita dor, não queria estar nesta pele, Jesus porque me castigas assim”, ajoelhou. A viúva diz acreditar na justiça de Deus e dos homens, por isso deixa um recado para os assassinos.
“Você que matou o meu marido e a minha filha, coloca-te na minha pele, você é filho, irmão ou pai, aceitarias que alguém fizesse isso com a tua família por dinheiro? quanto dinheiro os mandantes te deram? Você é apenas o assassino, o autor moral é o cérebro, entrega-te para sentir pelo menos a justiça dos homens”, pediu.
Com as mãos ao ar, Suzana Sérgio António pergunta como vai criar os seus filhos.
O NA MIRA sabe que o caso está registado sob o número de processo 10023/21-DA. Contactado pela nossa equipa de reportagem, o responsável pela comunicação do SIC-Geral, Manuel Halaywa prometeu dar mais dados do processo nas próximas horas.