Para proteger projectos de empresário - Polícia acusada de usar armas de fogo e gás lacrimogéneo para proteger demolições no Zango-04
Para não variar, a administração de Viana voltou a entrar em acção, numa campanha de demolições de residências no Zango-04, mais precisamente no bairro Boa Esperança, onde o martelo demolidor ecoou, pela terceira vez, com os moradores a serem deixados ao relento, em plena véspera das chuvas.
Por: Solange Figueira
As autoridades foram na máxima força, fazendo lembrar uma guerra sem tréguas, onde tudo vale: as autoridades policiais, para além de disparos de armas de fogo e o uso de gás lacrimogéneo, foram também protagonizando agressões contra populares.
É pela terceira vez, em 04 anos, que o Distrito Urbano do Zango-04, bairro Boa Esperança, é assolado pelas demolições de residências que foram erguidas, segundo os proprietários, com o olhar impávido da administração de Viana. "Agora está aí com olhos atiçados para recuperar os mais de 500 hectares, maioritariamente ocupados por residências", disse um morador.
Aos choros, os moradores pediam explicações e imploravam que a polícia parasse de os intimidar com elevado poder de fogo e os ajudasse a encontrar uma explicação. As informações são escassas sobre as motivações da demolição. "Sabemos apenas que quem está por detrás disso é um construtor de imóveis, cuja empresa é conhecida na região como Osvaldo Mj. LDA - Comércio e Prestação de Serviços", revelou.
Adilson Gonçalves de Almeida, morador, conta que os fiscais e a polícia foram armados até aos dentes, dispostos a demolir as casas a ferro e fogo, derrubando tudo que viam pela frente e disparando contra tudo.
"O bairro estava a ser invadido pelos fiscais, alegando que tem um respectivo dono que os munícipes desconhecem, situação que actualmente está a tirar o sono aos moradores que suspeitam que estão envolvidos a camarada Lalá, seu filho Osvaldo e o camarada Justino", revelou, acrescentando que pretendem invadir aquela parceira de terra para construírem seus condomínios. "Mas para isso, pagam a administração para os proteger", enfatizou.
Segundo a Anciã Albertina, de 68 anos de idade, vive no bairro há 15 anos e tem os documentos da sua casa todos legalizados. "Quando eu cheguei, já encontrei as máquinas e polícia a disparar e a atirar gás lacrimogéneo, aquilo parecia uma verdadeira guerra; até o chefe da fiscalização, o senhor Lobo", descreveu.
Bebiana Longa, de 50 anos de idade, diz que a caravana da polícia estava disposta a cometer crimes graves, ao não deixar as pessoas retirarem seus haveres.
Assinalou que o bairro é habitado também por militares e polícias, mas as residências destes não foram demolidas, antevendo-se indemnizações. "As casas dos civis foram debitadas abaixo, como se não fossem seres humanos", constatou.
Ela conta que com sua neta foram agredidas com armas, porretes e escudos. "A minha neta foi batida com o cano da arma na cabeça, o que causou fortes dores de cabeça.
O coordenador do bairro, João Saluque, confirmou que o bairro está habitado há 15 anos e a primeira demolição aconteceu em 2017, tendo havido registo de dois feridos e um morto. "Vivemos um confronto que parecia a guerra de 1992; só faltou nos triturarem e nos porem no cativeiro", comparou.
Esta quarta-feira, fomos à administração de Viana e para o governo provincial e disseram-nos que não têm conhecimento do caso e mandaram-nos de volta para administração de Viana, mas, postos lá, fomos recebidos pelo senhor Julião Albino que chamou o Senhor Lobo. Estes aconselharam-nos a irmos procurar as senhoras que venderam as lavras há 15 anos e levarmos os documentos legais para administração", explicaram, mostrando-se indignados com o facto de terem adquirido os terrenos há 15 anos, e estarem a exigir que se localizem as vendedoras das lavras, sendo que muitas delas já não fazem parte do mundo dos vivos. "Eles deram-nos 24 horas para as localizarmos", enfatizou.
A nossa equipa de reportagem contactou o suposto acusado, o construtor Osvaldo MJ, que disse que também é um cidadão comum. "Estou a fazer aqui um condomínio privado de 200 casas e 07 ruas, já tem algumas pessoas a viver aqui. Sai para fora apenas porque ouvi barulho de tiros; queria averiguar o que se estava a passar; a minha mãe não estava no local e não tem nada a ver com isso. Sou livre de sair à rua, não fui com polícias; já os encontrei no local em que estavam a demolir", referiu, considerando que os moradores estão a mentir: "nunca mandei partir casas e não tenho a intenção de o fazer".
Na administração municipal, a nossa reportagem foi recebida pelo senhor Julião Albino diz que chamou para a sua sala o coordenador do bairro, João e chefe dos fiscais, senhor Lobo. Eles dizem que os queixosos ocuparam ilegalmente os terrenos, e consideram estranho que tenha havido disparos.
Confirmaram que se abriu um processo onde foi solicitada anexação dos documentos para poderem contrapor com a denúncia feita. “Os moradores dissera-nos que vão reunir os documentos de todos os donos, a fim de resolvermos, já que esta situação se arrasta há muito tempo”, esclareceu, desafiando que se eles não mostrarem os documentos legais das suas casas na administração, em 24 horas, as demolições vão ocorrer novamente.