Caso Lussaty - General Eusébio de Brito facilita vida do tribunal e entrega coronel Manuel Correia
O general na reforma, Eusébio Teixeira de Brito, foi o declarante de proa do ' Caso Lussaty ', esta terça-feira, 11, com revelações que o colocam numa posição privilegiada para esclarecer os embaraços que até agora o julgamento apresenta. Só o que disse em uma hora, já ajuda sobremaneira compreender como o dinheiro era tirado ilicitamente dos cofres do Estado
Por: Lito Dias
Numa lista de declarantes em que figuram os nomes dos generais na reforma, Hélder Vieira Dias 'Kopelipa", Dilangue, Higino Carneiro, Pedro Mutindi e João Baptista Tchindandi, Eusébio de Brito, até agora, é a peça fundamental de todo o processo, numa altura em que foi o coordenador de toda actividade que desembocou no desvio de somas avultadas de dinheiro dos cofres do Estado, a partir do Cuando Cubango.
O nome de Eusébio entra no processo, porque foi no consulado dele, enquanto governador Provincial do Cuando Cubango, que se formou um batalhão fantasma que, dentre outros era formado por pessoas que pertenciam ao braço armado da UNITA e, também, por alguns militantes deste partido.
Aliás, estes eram recrutados alegadamente para incorporaram na brigada de transporte rodoviário e desminagem.
De acordo com o general Eusébio, houve processos de incorporação ilícitos de várias pessoas, sendo que uma dessas pessoas é a sua filha, confessando em Tribunal não saber como é que o nome da sua filha foi aparecer nas folhas.
Mas adiante, disse acreditar que o responsável desse processo era o Coronel Manuel Correia, Comandante da referida brigada.
Conta que ficou admirado de tal forma que tão logo se apercebeu, orientou para que o nome da filha fosse retirado das folhas.
Mas sentiu muita resistência da parte do Coronel Manuel Correia, também arguido neste processo.
Revelou que o problema só foi resolvido quando se promoveu uma espécie de acareação que envolveu o Chefe de Pessoal e Quadros da Casa Militar e o Coronel Correia, onde se constatou que scaneavam a assinatura do general para permitir que, mesmo se não assinasse, eles conseguissem enviar as folhas de salários milionários destinados aos fantasmas.
Eusébio de Brito asseverou, em Tribunal, que quando se apercebeu de coisas muito ilícitas que estavam a acontecer na província do Cuando Cubango deixou de assinar as folhas salariais para não estar vinculado a qualquer acto ilegal.
Visto por dentro, as revelações do declarante, que para além do Cuando Cubango, já foi também governador do Cuanza Sul, deixam sérios indícios de que há dados que foram validados à margem da lei.
Confrontação
O coronel Manuel Correia, preso no processo, lamentou as declarações do general que considerou “chefe e pai”.
“Quem elaborava as folhas de salários não era eu”, disse, acrescentando que “recebia dos activistas, só passava a limpo e assinava” e “muitos deles eu não conhecia”.
“Nunca levantei dinheiro e não sei onde fica a caixa-forte do BPC, eu ligava para o general Eusébio ou para o tenente Dilangue para planificação do voo sempre que Luanda mostrava disponibilidade de verbas”, reiterou.
Em relação às malas de dinheiro, o coronel esclareceu que entregava o dinheiro nas mãos de Geraldo Neves, escolta do general Eusébio de Brito Teixeira.
Ele revelou que Neves estava detido com ele no Cuando Cubango, mas não consta nos autos, nem como testemunha, e desafiou o tribunal: “Chamem-no para vir aqui esclarecer”.
Nesse momento, Teixeira interrompeu as declarações do coronel, afirmando “diga o local e a quem entregávamos”.
“Entregava na residência do chefe, pessoalmente no Cuando Cubango, no Kwanza Sul e entregava na casa do chefe em Luanda”, respondeu o coronel, com o juiz a querer saber se Manuel Correia conhecia a casa do general Eusébio de Brito Teixeira.
“Ele é meu pai, não sei por quê é que ele não quer dizer”, respondeu o coronel, lamentando “e é pena que estamos na cadeia”.
O caso
O julgamento do “Caso Lussaty”, que decorre há mais de dois meses, foi retomado nesta terça-feira depois de uma curta suspensão e nos próximos dias vários altos dirigentes do regime serão ouvidos, entre eles o antigo chefe da Casa Militar no consulado de José Eduardo dos Santos, general Hélder Vieira Dias “Kopelipa”.
O major Pedro Lussaty foi detido na “Operação Caranguejo” na posse de milhões de dólares e euros, bem como vários imóveis no país e no exterior e carros de luxo.
Ele e meia centena de arguidos são acusados de crimes de peculato, associação criminosa, recebimento indevido de vantagens, participação económica em negócios e abuso de poder e também de fraude no transporte ou transferência de moeda para o exterior do País, comércio ilegal de moeda, falsificação de documentos, branqueamento de capitais e de falsa identidade.
C/VOA