Angola registou três mil mortes por suicídio nos últimos quatro anos
Angola registou, nos últimos quatros anos, três mil mortes causadas por suicídio, informou a coordenadora do Programa Nacional de Saúde Mental e Abusos de Substâncias, Massoxi Vigário.
Massoxi Vigário disse que os dados foram disponibilizados pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC).
Segundo a responsável, que falava a propósito do Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, dos três mil casos, 500 registaram-se de Janeiro até à presente data.
Segundo Massoxi Vigário, a cada 40 minutos uma pessoa comete suicídio no mundo, a cada três segundos uma pessoa tenta contra a própria vida, sendo que esta prática está entre as três maiores causas de morte na faixa etária dos 15 aos 35 anos de idade.
Cada prática de suicídio, disse, gera um sério impacto em pelo menos seis pessoas, sejam elas da família ou não, porque, só de ouvir falar que alguém tirou a própria vida, isso afecta a parte emocional e criar sentimentos negativos.
Para Massoxi Vigário, o suicídio é um problema complexo que deve ser abordado, porque é muito difícil explicar porque é que algumas pessoas decidem tirar a própria vida, enquanto outras, em situação similar ou até pior, não o fazem. Ainda assim, prosseguiu, o suicídio pode ser prevenido.
Prevenção
E este é o grande desafio que o mundo e Angola em particular, têm desde 2015, assegurou, porque, o país está a abraçar, de forma mais intensiva, a questão da prevenção da saúde mental.
Para Massoxi Vigário, cada um de nós pode ajudar a prevenir o suicídio, quer seja dentro da família, no serviço, na escola, na vizinhança e na rua, o importante é estar muito atento aos sinais.
"E pode-se fazer isso quando percebemos alterações no comportamento de um familiar, amigo ou cônjuge, devemos abrir espaço para ouvir, confortar, dar atenção total à pessoa, ser paciente e, se as queixas persistirem, aconselhar a pessoa a procurar um psicólogo”, salientou.
Causas
Questionada sobre os motivos que levam alguém a cometer suicídio, Massoxi Vigário disse que, na base disso podem estar os transtornos mentais, depressão, esquizofrenia, transtornos de personalidade, frequentes alterações de humor, transtornos mentais orgânicos, stress emocional como traumas, abusos sexuais, violência doméstica, o bullying e o isolamento social.
Outras situações que podem estar na base do suicídio são o alcoolismo, abusos de substâncias toxicodependentes, doenças crónicas, sentimentos de inutilidade, crise financeira, divórcio, desemprego ou a perda de alguém com um vínculo afectivo muito forte.
Um suicídio em cada 40 segundos
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos, alguém no mundo interrompe a própria vida.
E em cada três segundos, uma pessoa tenta matar-se, estando a prática entre as três maiores causas de morte na faixa etária dos 15 aos 35 anos a nível mundial.
A OMS refere ainda que o número de óbitos autoprovocados é significativamente maior que aqueles causados por homicídio.
Anualmente, morrem mais de 700 mil pessoas vítimas de suicídio, número que pode ultrapassar um milhão se forem consideradas as subnotificações.
De acordo com a OMS, as taxas continuam a avançar. Especialmente, em países em vias de desenvolvimento. Para este ano, a OMS escolheu o seguinte tema "Se precisar, peça ajuda”, reforçando a importância de quebrar o silêncio em torno do tema, incentivando o diálogo e a busca por ajuda em momentos de crise.
O Dia Mundial da Prevenção do Suicídio (DMPS), assinalado anualmente a 10 de Setembro, foi escolhido pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP), apoiada pela OMS. O evento representa um compromisso global de focar a atenção na prevenção do suicídio.
O objectivo é aumentar a consciencialização sobre a prevenção do suicídio em todo o mundo, a promoção da colaboração das partes interessadas e da auto-capacitação para lidar com a automutilação e o suicídio por meio de acções preventivas.
Esses objectivos podem ser alcançados com o reforço das capacidades dos prestadores de cuidados de saúde e de outros intervenientes relevantes, de mensagens positivas e informativas dirigidas à população e aos grupos de risco, como os jovens, e da facilitação de uma discussão aberta sobre saúde mental em casa, na escola e no local de trabalho.
Psicólogo advoga aprovação de uma Lei de Saúde Mental
O psicólogo clínico Nvunda Tonet disse que o suicídio é um sério problema de saúde pública que deve ser uma preocupação das autoridades, no sentido de reforçarem o Plano Nacional de Saúde Mental, bem como aprovar a Lei de Saúde Mental, de modo a permitir que os utentes possam beneficiar de consultas de Psicologia e Psiquiatria a partir do nível primário de saúde, como nos centros e postos de Saúde.
A título de exemplo, disse, no Plano de Desenvolvimento Sanitário 2012-2025, consta essa iniciativa, alguns centros de saúde, como é o caso da Samba, em Luanda, já dispõem de psicólogos. "Mas a medida precisa de ser extensiva a todos os centros de saúde do país para que mais pessoas possam ser atendidas em tempo oportuno”, sugeriu.
Segundo Nvunda Tonet, nos centros de saúde da província do Zaire, por exemplo, nenhum tem o serviço de Psicologia, apenas nos Hospitais Municipais, o que é mau.
O especialista defendeu, por isso, a necessidade de se capacitar cada vez mais os profissionais de Saúde e a própria comunicação social, para que possam saber identificar os sinais de alerta e terem uma abordagem mais rápida e eficaz, encaminhando estas pessoas nos lugares certos, evitando que mais mortes ocorram.
O psicólogo clínico frisou que, no primeiro semestre deste ano, passaram pelo seu consultório 184 pacientes, um terço dos quais apresentou ideias suicidas.
Tentativas de suicídio
Nvunda Tonet revelou que, em Angola, só em 2022, registaram-se 11.570 tentativas de suicídio, numa faixa etária dos 18 aos 35 anos, situação que considerou "preocupante”. "Por isso, todos nós podemos agir para prevenir o suicídio e uma das medidas é sermos simpáticos”.
O especialista aconselhou que, diante de uma pessoa com pensamentos de suicídio, não se deve julgar ou condenar, usando palavras como "isso é fraqueza" "só pensas em ti?" "só por causa disso é que estás assim?"
Antes, acrescentou, "devemos ser simpáticos, saber ouvir, mostrar amor e paciência, para que a pessoa se sinta acolhida e tenha certeza que não está sozinha no mundo e que pode contar com a nossa ajuda no que for necessário”.
C/JA