Congresso da JMPLA: Comissão Eleitoral faz 'vistas grossas' ao pedido de impugnação de Adilson Hach
A comissão de mandatos do candidato Adilson Hach não reconheceu os resultados da última disputa ao cadeirão máximo da JMPLA, realizada na passada sexta-feira, 22 de Novembro, em Luanda, onde Justino Capapinha foi eleito ao cargo de 1° Secretário Nacional do braço juvenil do MPLA com mais de 60% dos votos.
Por: Telson Mateus
Segundo apurou o NA MIRA DO CRIME, a comissão liderada pelo político Tito Cambanje enviou à Subcomissão de Apelação da Comissão Nacional Preparatória do IX Congresso da JMPLA uma carta, com oito pontos que detalham as irregularidades decorrentes do evento.
Nos últimos três pontos da missiva, o mandatário solicita a anulação dos resultados e a suspensão imediata dos efeitos do relatório da Subcomissão Eleitoral que deram vitória a Justino Capapinha, exigindo o devido pronunciamento no prazo de dois dias.
No documento, também em posse deste portal, o mandatário promete recorrer a outras instâncias da JMPLA e à liderança do partido, para exigir a reposição da legalidade, caso a Comissão Eleitoral não responda dentro dos prazos solicitados.
Constam das irregularidades referidas no documento as incongruências no número de delegados que incidiram no número de votos que, segundo o mandatário de Adilson Hach, “as discrepâncias só podem dar vitória à sua candidatura e não a candidatura de Justino Capapinha”.
O documento enviado à Subcomissão de Apelação refere que, durante o início dos trabalhos, “da contagem feita, estavam presentes na sala 1266 delegados, anunciados de viva voz pelo presidente da subcomissão, o que, por lógica, corresponderia ao igual número de votos”.
Acontece que, dos resultados apurados e divulgados pela Comissão Eleitoral, prossegue o documento, Justino Capapinha obteve 1100 votos e Adilson Hach 681, dando um total de 1781 votos apurados.
“Se o universo de delegados na sala era de apenas 1266, dos quais o candidato Adilson Hach obteve 681 votos, sobrariam somente 583 votos para Justino Capapinha, dando uma margem confortável de vitória a Adilson Hach”, refere o documento.
Com base nos números apresentados, especialistas ouvidos à respeito não têm dúvidas da “gravidade” das irregularidades apresentadas pela candidatura de Adilson Hach.
"É visível a ausência de lisura e transparência na disputa que ditou a vitória eleitoral de Justino Capapinha num processo que se esperava ser imaculado”, salienta Manuel André, um estudante de Ciências Políticas.
Por outro lado, este analista refere que a apresentação do documento à Subcomissão de Apelação é uma situação “justa”.
Contudo, olhando para a realidade angolana, com maior incidência no seio do MPLA, “este processo pode dar em nada, na medida em que Justino Capapinha já foi reconhecido pela liderança do MPLA como vendedor e, inclusive, já foi recebido pelo Presidente João Lourenço”.
"A única instituição que poderá dar, efectivamente um tratamento diferenciado ou com alguma lisura vai ser o Tribunal Constitucional. Porque não acredito que a nível do partido essa situação venha a ser resolvida", aponta.
O jurista Domingos das Neves, por seu turno, entende que o facto de o líder do partido já ter felicitado Justino Capapinha ‘joga por terra’ todas as possibilidades de sucesso na contestação dos resultados.
“Não há mais nada para se falar. Tudo já está encerrado. Então, se o presidente do partido já felicitou o candidato vencedor, o que se pode esperar? Não há chances de qualquer reclamação vir a surtir quaisquer efeitos”, afirmou.
João Lourenço felicita Justino Capapinha
Apesar das reclamações, o presidente do partido, João Lourenço, felicitou Justino Capapinha pela vitória, durante o discurso proferido na reunião do Comité Central do MPLA, realizada na segunda-feira, 25, em Luanda.
João Lourenço confirmou e enalteceu o facto de o candidato derrotado ter felicitado o vencedor.
“O MPLA enaltece a atitude responsável do candidato que reconheceu e felicitou-o. O jovem tem ainda muitas oportunidades pela frente, para fazer o seu percurso tanto na própria JMPLA como no partido“, referiu o líder do MPLA.
Após a reunião, João Lourenço recebeu em audiência, no Centro de Conferências de Belas, Justino Capapinha, já nas vestes de primeiro-secretário nacional eleito da JMPLA a quem saudou e fez a foto para a posteridade.
No final da audiência, Justino Capapinha aproveitou a ocasião para agradecer ao presidente João Lourenço “pelo empenho pessoal e pelo apoio que a direcção do partido prestou para a realização exitosa” do 9.° Congresso Ordinário da JMPLA que culminou com a sua eleição.
Passadas mais de 48 horas do prazo dado pela comissão de mandato de Adilson Hach, a Comissão Eleitoral do 9.° Congresso da JMPLA mantém-se em silêncio e, ao que parece, a situação está a ser gerida através de concertações internas.
Justino Capapinha, substituiu Crispiniano dos Santos e vai permanecer no cargo até ao ano de 2029, tendo destacado a importância de ser fiel às promessas feitas durante a campanha eleitoral e seguir as orientações programáticas, respeitando os estatutos e documentos directivos da JMPLA.
Do líder do partido, o "número um" da jota recebeu a orientação da necessidade de a JMPLA voltar a representar esperança e anseios dos jovens angolanos, como já foi em tempos idos, promovendo valores como ética, civismo, patriotismo, e respeito aos mais vulneráveis.
Contudo, aguarda-se que a Subcomissão de Apelação responda, em tempo oportuno, as preocupações apresentadas pelos mandatários de Adilson Hach com vista a lisura do pleito que elegeu Justino Capapinha com vista a atribuir legitimidade para dirigir a JMPLA.