Roubalheira no Cuando Cubango: Desvio de dinheiro público e fome andam de mãos dadas
Enquanto a fome assola comunidades inteiras no município do Rivungo, província do Cuando Cubango, o governo provincial é acusado de desviar milhões de Kwanzas destinados ao combate à pobreza. A nossa investigação revela um esquema de desvio de dinheiro público liderado pelo Administrador Municipal do Rivungo, João Wilson Tchimbinde, com envolvimento directo do governador provincial, José Martins.
Por: Na Mira do Crime
De acordo com fontes confiáveis, entre Outubro e Novembro deste ano, cerca de trezentos e quarenta e cinco milhões e setecentos e vinte e um mil, cento e dezoito kwanzas (345.721.118) foram desviados da despesa pública para contas de empresas ligadas a familiares e amigos dos líderes locais. Esses recursos, que deveriam ser usados para acções prioritárias de desenvolvimento e assistência humanitária, acabaram por ser canalizados para fins privados.
De acordo com as nossas fontes, os valores do combate à fome e à pobreza também têm sido desviados. "Não compram nada para agricultura e outros eixos, mas os valores estão sempre a sair da conta do Estado, com um olhar cúmplice do Governador José Martins", realçam.
Empresa de fachada no centro do esquema
Entre as empresas beneficiadas, destaca-se a DJEFER Construção, criada em Abril do presente ano, que tem como sócios Geraldo António Figueiras Fernandes e Rita Gonga Fernandes. Apesar da sua curta existência, já recebeu mais de 33.700.000 Kwanzas por nove acções contratadas no município do Rivungo, sem entregar nenhum serviço visível.
Segundo a denúncia, os valores são divididos entre o Administrador Municipal e o governador José Martins. A mesma empresa também recebe pagamentos de outros municípios, como Dírico, Calai e Menongue, por orientação do governador.
Outras empresas suspeitas:
Afripedro Comercial, LDA, que recebeu três milhões de Kwanzas sem prestação de serviço;
Marchal, LDA, empresa pertencente a Aurélio Mesquita, 2.º secretário municipal do MPLA no Rivungo, que embolsou cinco milhões de Kwanzas para fornecer equipamentos adquiridos no âmbito do programa Integrado de combate à fome e à pobreza, distribuídos meses antes, concretamente no mês de julho e volta a ser escrito nas despesas públicas, somente para que o dinheiro seja desviado.
Os desvios não param por aí. Algumas empresas que efectivamente prestaram serviços também não receberam os valores devidos em suas contas e denunciam que os montantes foram transferidos para contas particulares.
Fome e desespero no Rivungo
A situação da fome no município do Rivungo alcançou níveis alarmantes. Casos como o do senhor Muvita Shupi, que morreu de fome enquanto buscava algas no rio Cuando, evidenciam a gravidade da crise. Apesar disso, a Administração Municipal tenta minimizar os factos. Em um relatório produzido por uma comissão liderada pelo director municipal da agricultura, Paulo Chilombo Viegas, a morte de Muvita foi atribuída a um suposto espancamento, versão que contradiz o relatório oficial do Comando Municipal da Polícia Nacional, o qual confirma à fome como causa do óbito.
Além disso, há relatos de encerramento de escolas devido à falta de alimentação para alunos e professores, que estão a emigrar para os países vizinhos, Zâmbia e Namíbia.
A situação evidencia a desconexão entre as prioridades da administração local e as necessidades urgentes da população.
Enquanto a população morre e grita de fome, estão a decorrer gastos supérfluos de recursos com a pintura de árvores. De acordo com os munícipes, quando o Administrador Municipal se encontra em estado de embriaguez revela alguns segredos de reuniões "secretas" que tem tido com o seu familiar e governador provincial. Ele ameaça as pessoas e gaba-se de que o governador não lhe faz nada por ser seu familiar. Também diz abertamente que é a vez de eles mandarem. "Não foi fácil chegarem ao poder; tiveram de fazer muita confusão", apontam.
Silêncio "comprometedor"
O Na Mira do Crime contactou a responsável de comunicação institucional do governo do Cuando Cubango para o contraditório e, por sua vez, a responsável do GCI identificada como Solangue, remeteu-nos um email direccionado ao Gabinete do governador José Martins.
No entanto, passadas mais de 72 horas após enviarmos algumas perguntas sobre o caso, verdade é que ninguém se pronunciou até ao lançamento desta matéria.