Malária, Tifóide, fístula e amputação - Mulher contrai “bactéria perigosa” no hospital Azancot de Menezes e perde os membros inferiores e 8 dedos
Maria António Lourenço Culeca, de 49 anos de idade, residente no bairro da Cuca, Distrito Urbano do Hoji-Ya-Henda, município do Cazenga, perdeu os membros inferiores e 8 dedos das mãos, depois de contrair uma bactéria quando estava internada no hospital Azancot de Menezes, em Luanda. Esta é mais uma vítima de diagnósticos errados, já que o que se pensava que era mioma evoluiu para malária, depois para tifoide e mais tarde para fístula e, finalmente para bactéria perigosa”. A Ministra da Saúde sabe do caso
Por: Cambuta Vieira
Tudo começou em 2021, quando começou a sentir bastantes dores na barriga e não conseguia fazer as necessidades maiores. “Passei a fazer as consultas no hospital da Siga, localizado na Cuca, mas depois de algum tempo descobri que era problema de febre tifoide e decidi ir a um hospital de referência, que é o Lucrécia Paim”, fez saber Maria.
Já no Lucrécia Paim, foi orientada a fazer consulta de ginecologia, onde se detectou que era mioma, e que tinha de ser operada. "Marquei a consulta, fui acompanhada pelo médico Dr. Aguinaldo, depois de tantas consultas, fiz também a consulta de anestesia para ser operada com intuito de tirar o mioma", disse.
Mas a cirurgia não se realizava e começou a reclamar, até que foi informada que para se realizar a cirurgia, tinha de fazer mais alguns exames. Mesmo tendo feito já os exames, esperou por mais algum tempo.
"No passado dia 27 de Junho de 2024, o médico ligou para dizer que seria operada, no dia 28. A cirurgia foi feita pelo Doutor Tonha, e passados 04 dias deram-me alta. No entanto, em casa, começou a verter bastante líquido, ao ponto de não puder beber água", recordou.
Dada a gravidade da situação, regressaram para o hospital no dia 07 de Julho, tentaram pôr argálias por três vezes, mas sem sucesso. “De repente, apareceu um médico que me comparou a um carro antigo”, revelou.
"Dona Maria, se o carro foi ao mecânico e saiu de lá arranjado, mas depois volta para a mecânica com outros problemas, de quem é a culpa?”, teria perguntado o médico. “Mas eu respondi-lhe que não era carro, e que quando dei entrada no hospital, não fiz apenas exames de paludismo, mas sim vários exames”, reagiu.
Depois disso, apareceu um médico que sensibilizou a paciente e repudiou o comportamento do colega.
Ela teve de internar por mais 04 dias, período durante o qual ficou a saber que estava com fístula.
“O hospital Lucrécia Paim não tinha médico especialista na área, pois o médico especialista era o Dr Paulo que trabalha no Azancot de Menezes”, assinalou.
"Eu, pessoalmente, falei com o responsável do sétimo piso, onde eu estava internada, e este, de imediato, ligou para o Dr. Paulo, na minha presença, e pediu que fôssemos para o hospital, naquele momento".
Chegada ao Anzacot, o Dr. Paulo disse que não havia necessidade de internar, apenas pôs a argália e disse que só poderia ficar deitada, porque se ficasse sentada a urina sairia sem eu notar.
19 dias depois, voltou ao hospital Azancot de Menezes, onde marcou a operação cirúrgica para o dia 12 de Setembro.
"A cirurgia foi feita pelo Dr. Paulo, e depois de ser operada, fui até à sala de recuperação. Pouco tempo passou e fui levada de novo à sala de cirurgias. Com a visão turva, fui levada à sala de recuperação e, de lá, fui levada até à sala dos doentes com fístula", aclarou.
No período da noite, começou a sentir-se mal, e decidiu cobrir-se completamente, tendo o médico perguntado os motivos de ela estar coberta.
De seguida, fez uma ligação ao Dr. Paulo, que movimentou uma equipa médica que a levou à unidade de cuidados intensivos, onde ficou por 4 dias.
Depois de registar melhorias, voltou à sala dos doentes com fístula, e permaneceu aí 16 dias, tendo tido alta no dia 28 de Setembro.
Entretanto, as melhorias duraram pouco tempo. Maria começou a sentir sensação de frio; tomou um analgésico, numa altura em que a fraqueza tomava conta dela: “comecei a sentir os pés sem força e a respiração estava ofegante”.
No dia 01 de Outubro, surgiram algumas manchas no pés, parecendo alergia, o que implicou irem ao Hospital Azancot de Menezes, onde foram recebidos pelo Dr. Paulo, que orientou que fossem para o banco de urgências.
Postos no banco de urgência, fez uma transfusão de sangue e, de noite foi transferida para a Unidade de Cuidados Intensivos.
Contrariamente ao que sentia antes, Maria começou a sentir quentura nos pés e mais tarde nas mãos.
O médico tranquilizou-a afirmando que estava no hospital e o problema seria resolvido. Estranhamente, a quentura nos pés e nas mãos aumentou.
“Comecei a gritar, porque parecia estar a queimar. Desmaiei, mas quando dei conta de mim, vi que os pés e as mãos estavam todas queimadas”, explicou.
Maria lembra que a directora clínica que responde por Elsa ligou para sua colega, especialista, que trabalha no hospital Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, identificada por Simara.
“Quando chegou, pegou numa esferográfica e foi me picando nos pés e notou que havia algumas partes mortas e outras vivas”, conta, referindo que mandou esmagar alguns comprimidos de penicilina e junto com uma pomada, aplicaram nas partes afectadas.
Depois de passar uma semana, a Dra Simara regressou, dizendo que a solução era amputar o pé.
No dia 06 de Novembro, amputaram o pé direito e os 4 dedos da mão direita e, 06 dias depois, decidiram amputar o outro pé e as pontas dos quatro dedos da mão esquerda.
“Depois de tudo, fiquei internada por mais 13 dias e só lhe foi dada alta no dia 27 de Dezembro, junto com a receita e um papel a indicar que devia fazer o curativo no hospital Neves Bendinha".
Instalou-se o pesadelo, já que a senhora que foi a andar ao hospital, saiu de lá sem os membros inferiores e sem os 08 dedos.
“A minha vaidade acabou e psicologicamente estou morta, porque estou inválida, já não consigo trabalhar nem apoiar os estudos dos meus filhos”, manifestou, salientando que o médico em serviço disse que ela apanhou uma bactéria enquanto estava internada no hospital Azancot de Meneses.
A equipa deste Jornal deslocou-se até ao hospital Azancot de Menezes, e foi recebida pela Directora Geral, Manuela Mendes, que nos esclareceu o seguinte: "A paciente deu entrada em estado clínico grave de malária; comunicamos de imediato à família; todo procedimento que foi feito a nível do hospital a família estava a par. Depois de três dias, vimos que ela só piorava; então, reunimos com uma equipa multidisciplinar de todas especialidades”.
“Discutimos em conjunto dado risco de morte que corria e decidimos amputar uma perna de cada. Era preciso deixar que a ferida curasse, mas ela solicitou alta, nós sabíamos que mais uma semana, ficaria boa, mas ela não quis ficar. Ordenamos que fosse ao Neves Bendinha por ser próximo de sua residência, depois de curar a ferida, fazer a fisioterapia para a prótese”, acrescentou.
"A médica realçou que casos do gênero acontecem no mundo, mas é muito raro, embora estejam escritos nos livros. A gangrena acontece quando a malária que tem o parasita entra na célula vermelha do sangue e isso faz com que os vasos pequeninhos fiquem entupidos então o sangue não chega às extremidades”, explicou.
Por sua vez, a Directora Clínica, Elsa Frederico, disse que “a Ministra da Saúde, Sílvia Lutukuta, pediu que ela fosse ao hospital Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, tendo delegado uma equipa para cuidar da prótese da paciente; fez-se um relatório para a assistência social; temos um psicólogo disponível; estamos aqui para cuidar do bem vida", ressaltou.