NOTA NEGATIVA – Sabedoria, competência e experiência postas no lixo
As mexidas efectuadas na quinta-feira (04) pelo Presidente da República, João Lourenço, nas chefias dos órgãos de Defesa e Segurança (Forças Armadas, Polícia Nacional e Serviço de Investigação Criminal), quiçá, pelo calibre dos nomes que foram para a reforma, constituiu motivo para as mais diversas opiniões, cuja maioria, senão todas, são unânimes que as reformas de experientes Oficiais Comissários, Oficiais Generais e Almirantes, da forma como têm sido feitas, é como jogar para o lixo quadros competentes como se de material descartável se tratasse!
Por: Na Mira do Crime
O ano de 2024 começa com Nota Negativa em função da medida tomada pelo Presidente da República, João Lourenço, principalmente por decretar a passagem à reforma de Oficiais Comissários da Polícia Nacional experientes e de reconhecida competência.
Embora essa medida, entre outros actos ligados às carreiras militares, tenha sido tomada nos termos da Constituição, apoiada na Lei dos Postos e Distintivos da Polícia Nacional e da Lei de Defesa Nacional e das Forças Armadas, depois de ouvido o Conselho de Segurança Nacional, a sociedade não aprova a forma como se “deita fora” gente experiente, competente e sábia.
De acordo com distintos analistas, Angola é um país que prima demais pelo desperdício, não só do ponto de vista material e económico, mas também humano, como quando se afasta, até por razões banais, competentes quadros que ainda têm muito para dar ao país.
Em Angola, criou-se o hábito de dizer que “antiguidade é posto”; “os mais velhos são bibliotecas vivas”; “na boca de um mais velho apodrecem os dentes e não as palavras”, etc!
Porém, na prática, tudo isso é esquecido, quando se trata, sobretudo, de salvaguardar interesses do poder.
Em outros países, até nas sociedades mais desenvolvidas e abarrotadas de gente formada aos vários níveis, com vasta experiência, mestres nas diversas ciências, os quadros mais velhos, mesmo depois de já terem dado a sua contribuição aos seus países e reformados, desde que ainda possuam mente sã e corpo são, não são pura e simplesmente descartados como lixo.
Uns são aproveitados para acompanhar e aconselhar os quadros que os substituem ou para passar experiências nas áreas que dominam; outros são enquadrados para dar o seu contributo como conselheiros, analistas, entre outras funções adequadas, tanto para a sociedade tirar proveito dos seus conhecimentos, como para valorizar e estimular o reformado para não sentir-se um inútil no seio da sociedade, que os especialistas chamam de “morte social”.
Infelizmente, em Angola, o problema da integração social dos reformados, a partir da passagem à reforma, não tem merecido o devido acompanhamento e, de forma pejorativa, considera-se que foi “cuidar dos netos”, não se valoriza, nem se reconhece os seus feitos enquanto ainda em vida.
A nomeação de novos quadros, sobretudo mais jovens, para substituir os mais antigos é salutar.
Mas o que mais desagrada, segundo análises consultadas, é que muitos desses quadros têm formação duvidosa ou são mesmo mal formados, atendendo ao estado em que se encontra o ensino no país.
Os próprios professores são eles também mal formados, muitos expressam-se mal, escrevem mal e nem sabem conjugar os verbos nos diferentes tempos; logo, transmitem de forma errada os conhecimentos, ou seja, ensinam mal.
Ao longo dos tempos fala-se na “formação de quadros” e tem sido uma aposta em que o país se empenhou.
Formar quadros, principalmente no exterior, mal ou bem, mas é preciso formar. Hoje por hoje, Angola está cheia de “doutores”, há “doutores” para tudo, mas em vez de avançar, como se pretende, marca-se passo em alguns aspectos e em outros retrocede-se.
Importa referir que a formação não é feita só na escola, não é só teoria. Depois da escola, o estudo continua, há a prática que, com o passar do tempo, confere competência e experiência.
Por isso, substituir um quadro competente, com experiência e conhecedor do seu métier, por outro de capacidade duvidosa e inexperiente, por simpatia e outros (in) convenientes, não é bom para o desenvolvimento da nação.
Por exemplo, dos oficiais que passaram à reforma, salta à vista três reconhecidos nomes, competentes comandantes, experientes mestres em ciências policiais, direito e investigação criminal: os Comissário-chefes Elizabeth Maria Ranque Franque, Eduardo Fernando Cerqueira e António Maria Sita.
Constam ainda da lista os comissários-chefes António Vicente Gimbe, Alfredo Quintino Lourenço, Mário Augusto de Oliveira Santos; os comissários Alberto Lisboa Mário, João Elias de Sousa, Pedro André Quiambi, Filipe Barros gEspanhol, Luís Manuel António, Rogério Fangana Muagina, os subcomissários Sebastião Xavier Neto, Augusto António Chiwawa, Nito Domingos Joaquim Manuel, Domingos Jerónimo, Rafael Mingas Vumbi e a subcomissário de Investigação Criminal, Maria Helena dos Santos.
Todos eles, de um momento para o outro, deixaram de ter utilidade e tornaram-se “material descartável”, simplesmente “lixo”?
Num país como Angola, em meio a tantos problemas, que ainda precisa muito de bons exemplos, de quadros competentes, pode-se dar ao luxo de desperdiçar sabedoria, experiência e força de trabalho, apenas por capricho de quem quer que seja, ou por receio de que esses “mais velhos” possam ser “adversários difíceis de manobrar” e o melhor a fazer é mandá-los para casa “cuidar dos netos” ou “matar kassumunas”, substituindo-os por “bajuladores” e outros incompetentes que “dançam qualquer música que seja tocada”?! Assim não vamos longe! Não vamos não!