NOTA NEGATIVA – Tumultos na Huíla
Os últimos acontecimentos registados na Huíla, nomeadamente quando a desactivação da praça localizada no bairro Bula Matady, vulgarmente conhecido por João de Almeida, ao Lubango, na quarta-feira, 17 de Janeiro de 2024, que devia ser transferida para um outro local, com populares a insurgir-se com pedras e paus contra a Polícia, que apesar de armada e ter efectuado alguns disparos, teve de recuar para evitar situações caóticas, é a Nota Negativa da semana!
Por: Na Mira do Crime
Apesar da aparente calmaria, a situação no seio das comunidades é deveras periclitante, atendendo ao facto de as famílias, os cidadãos, cada vez mais estarem a viver uma “vida de cão”.
As pessoas estão a perder o respeito e o medo pelas autoridades e os tumultos da Huíla, para só citar esses, são um exemplo claro disso. “O pior cego é aquele que não quer ver”, diz a sabedoria popular.
Tem sido aqui, nesta coluna, referido várias vezes que o país está a ser governado em “contra-mão”, doa a quem doer, essa é verdade nua e crua. A governação é feita à base de discursos de circunstância que reflectem teorias rebuscadas, que apenas servem para deixar passar o tempo, completar o ciclo de cinco anos e depois voltar à “caça” do voto para mais um ciclo.
Enquanto isso, as elites do poder, que governam apenas para elas próprias, vão-se apoderando de tudo, vão enchendo os seus cofres no estrangeiro, vão contribuindo largamente para a construção de outras sociedades em outras latitudes, mas a sua própria terra, os seus próprios concidadãos, ficam votados à uma situação lastimosa.
Não é por se construir uma escola aqui, um hospital ali, ou algumas residências, muitas das quais, em vez de beneficiar o “PéPé” que não tem onde cair morto, ainda beneficia os interesses dos próprios dirigentes, que o país está bom. Longe disso!
Os governantes angolanos, na sua maioria, são indivíduos peneirentos, cheios de bazófia, que fazem de conta que governam, mas na realidade o governo, para eles, é um jogo da “cabra-cega”.
Estão-se marimbando se o povo come, senão come e sempre que se toma uma decisão, aparentemente boa, que serviria para “melhorar a vida das comunidades”, posteriormente surgem justificações de “mau pagador”, porque ou o projecto não é concluido, se concluído é abandonado ou vai servir outros interesses, enfim, assim sucessivamente, o país vai sendo adiado.
Outra prova disso é o mais recente aumento ou ajustamento das tabelas salariais da Função Pública, de cinco por cento sobre o salário-base, “para repor parcialmente o poder aquisitivo”. Esta decisão, além de criar revolta nos cidadãos, mesmo diante do sofrimento enfretado pelas famílias, tornou-se motivo de chacota em todo lado. Que poder aquisitivo pode ser reposto, se os tais 5% de aumento não dá nem para comprar um Kg de arroz? Só pode ser brincadeira!
O Executivo sabe que a constante desvalorização da moeda nacional. Kwanza, tem contribuído para a subida pronunciada da inflação nos últimos meses, com consequências graves nas condições de vida da população.
O impacto é apontado no sector social como mais grave do que previsto inicialmente, com os preços dos produtos alimentares e não alimentares a subir continuamente para níveis mais elevados do que se esperava anteriormente, sem que o Excutivo, além de teorias, tenha soluções para travar o curso. A situação mais preocupante regista-se nas províncias do Huambo, Huíla, Cunene, Namibe e Bié, para só falar destas.
Quando num país, um simples administrador municipal ou distrital quer mordomias de chefe de Estado, tapete vermelho, entre outros, o que se pode esperar?
Os tumultos do Lubango, Huíla, só aconteceram porque os governantes não conhecem os governados, não interagem com a população, não conhecem a sua vivência.
Ao encerrar-se um mercado, local em que, hoje por hoje, as pessoas encontram um mínimo para sobreviver, vendem, compram, fazem permutas, prestam alguns serviços como de carregadores de mercadorias, etc, ou quando se decide a sua transferência do sítio habitual para um outro, “no âmbito de um novo plano urbanístico”, como se alegou no Lubango, as administrações devem fazer um trabalho de sensibilização das pessoas, tem que haver o diálogo pedagógico, a devida explicação das vantagens e/ou desvantagens, para se evitar até, que outros aproveitacionistas tirem benefícios disso.
Já é tempo de não se criar “bodes expiatórios” para justificar os nossos próprios erros; já é tempo de sermos uma sociedade organizada e saber quando se deve e se pode fazer e quando não!
Mais que os problemas sociais das comunidades, os tumultos do bairro Bula Matady, no Lubango, trouxeram ao de cima o velho problema da segurança pública. A autoridade deve ser respeitada e não é pela violência que se resolvem os problemas.
Embora se diga que a transferência do mercado estava a ser feita nas calmas, fontes no local afirmam que não foi bem assim; o processo estava a ser feito de forma musculada; os vendedores estavam a ser impedidos de continuar no local coercivamente, o que originou o agastamento de algumas pessoas e partiu-se para a violência.
Ora os agentes da Polícia destacados no local, além de não serem especialistas em conter esse tipo de confusão, estavam apenas armados com Akm. Ao serem atacados à pedrada e pauladas, fizeram disparos para assustar e tentar dispersar a multidão e recuaram para não sofrerem danos físicos, embora alguns tenham sido mesmo atingidos pelas pedras e outros objectos.