Regionalização do conflito na RDC – Uma “batata quente” nas mãos do Presidente João Lourenço
Numa altura em que o Presidente Félix Tshisekedy se deslocou à Angola, para falar com o seu homólogo angolano, João Lourenço, com o objectivo de discutir as condições para um diálogo bilateral com o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, o conflito na RDC está a tornar-se regionalizado e a tomar proporções que estão a ultrapassar diversas fronteiras e com novos participantes.
Por: Jap Kamoxi
O laço está a apertar-se em torno de Goma; a situação no terreno é terrível, os combates entre os rebeldes do M23 e as Forças Armadas da RDC aumentaram de intensidade em torno de Goma, capital da província de Kivu do Norte, no leste do país.
Os rebeldes do M23, que ocupam parte dos bairros do sul de Goma, enfrentam as FARDC e os Wazalendo, milícias auxiliares do exército regular.
“Tudo está a ser feito para proteger as populações de Saké, Goma e todas as áreas circundantes”, assegurou Jean-Pierre Bemba, ministro da Defesa congolês, que esteve na terça-feira (27) em Goma pela segunda vez em menos de uma semana.
Saké tem estado no centro de intensos combates desde que o M23 lançou uma nova ofensiva em 7 de Fevereiro nesta cidade localizada a cerca de vinte quilómetros de Goma.
Considerada a “última barreira” no caminho para a capital da província do Kivu do Norte, a cidade ainda é controlada pelas Forças Armadas da RDC (FARDC), garantem as autoridades congolesas.
A ofensiva do M23 resultou em dezenas de milhares de deslocados que fogem dos combates.
Informações locais apontam para explosões de bombas que feriram pelo menos 17 pessoas em Saké, inclusive no local dos deslocados.
“Até 7 de Fevereiro, Saké acolheu mais de 100.000 pessoas deslocadas”, observou o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação Humanitária (OCHA) num inventário da situação datado de terça-feira, 13 de Fevereiro.
“A maior parte das pessoas deslocadas vive em condições precárias e praticamente não tem acesso a alimentos, água potável, cuidados de saúde e outras necessidades básicas”, acrescenta a organização da ONU.
Na segunda-feira, 12 de Fevereiro, o Conselho de Segurança realizou uma reunião fechada sobre a situação.
Os seus membros “expressaram a sua preocupação relativamente à escalada de violência e à continuação da tensão na região” e insistiram no seu “total apoio à soberania, unidade e integridade territorial da RDC”.
Um documento da ONU, cujo conteúdo foi tornado público no mesmo dia, afirmava nomeadamente que um “suposto míssil terra-ar das Forças de Defesa do Ruanda (RDF)” tinha como alvo, em 7 de Fevereiro, sem alcançá-lo, um drone de observação das Nações Unidas.
Com a retirada da Missão das Nações Unidas (MONUSCO), a RDC está preparada para garantir a sua própria segurança? Eis a questão que se levanta em diversos círculos internacionais.
O conflito na RDC está a regionalizar-se e a estender-se a outras fronteiras.
Com a entrada em cena das Forças Armadas do Burundi e do Uganda, é caso para dizer que o Presidente João Lourenço, na sua qualidade de Presidente da Região dos Grandes Lagos (CIRGL) e mediador do conflito na RDC, tem uma “batata quente” nas mãos!