Relação “Ango-China” desperta temores de uma “neocolonização” de Angola
Os cidadãos angolanos, na generalidade, estão muito preocupados com os resultados da visita de Estado do Presidente João Lourenço à China, por considerarem que por trás da dita “boa intenção” chinesa e respectivos empréstimos há outras finalidades camufladas e que não têm sido devidamente explicadas, pois, ao longo dos anos desde que começaram a chegar a Angola para diversos fins, a postura dos chineses tem sido de (neo) colonizadores.
Por: Jap Kamoxi
A recente visita de Estado do Presidente João Lourenço à China, contrariamente ao que tem sido referido em diversas análises que apontam para uma melhoria das relações entre os dois países, Angola e China, com supostos benefícios para Angola e consequentes melhorias na vida dos angolanos, não convence os cidadãos, que não acreditam na dita “boa intenção” dos chineses.
Por experiência própria, diante de muitos factos que vão acontecendo pelo país ao longo dos anos, os angolanos estão cépticos diante da euforia demonstrada pelos governantes e temem pelo pior, principalmente pelo futuro das novas gerações.
As relações entre Angola e a China datam de 1983 e conheceram o seu ponto mais alto a partir do ano 2000 quando o gigante asiático começou a fazer empréstimos a Angola para a reconstrução de infra-estruturas destruídas pela guerra e para alavancar a economia nacional.
Com a paz, alcançada em 4 de Abril de 2002, a China incrementou as suas políticas de conquista do mercado angolano, aumentando as operações de concessão de créditos, que por não ter sido sujeita a critérios de rigor, incluindo no controlo da sua execução, grande parte foi desencaminhado para a corrupção, em geral aproveitando elementos das elites do poder, o que resultou numa fraca promoção do desenvolvimento.
Angola passou a ser assim um dos maiores devedores africanos da China. Contudo, ao longo dos anos, são referidas diversas operações de amortização e/ou pagamento da dívida, principalmente com avultados carregamentos de petróleo como moeda de pagamento.
A China, desde que se instalou no país, tem igualmente beneficiado, de formas obscuras, de muitos recursos naturais angolanos, desde os diamantes, ouro, granitos, ferro, cobre, madeira e até recursos marinhos, que são transportados para aquele país asiático, a granel e em enormes quantidades, sem que a sociedade angolana conheça os termos dessa delapidação das riquezas naturais nacionais.
A este propósito, tem-se questionado o mecanismo usado no controlo e gestão dos activos e passivos decorrentes dos acordos com a China e a respectiva dívida.
Quais são os critérios para que os chineses façam e desfaçam a seu bel-prazer e enviem para o seu país os recursos naturais de Angola, até o que nunca foi explorado? Quem fiscaliza tudo isso?
Os angolanos também não acreditam na seriedade do Governo considerando que o valor real da dívida angolana nunca foi revelado e grande parte desse dinheiro emprestado pela China nunca foi usado em benefício do Estado.
Sabe-se que a China faz empréstimos consecutivos, e agora o Presidente João Lourenço foi buscar mais dinheiro chinês, justificado como “para alívio do Estado”, mas na realidade, ao longo dos anos, vários têm sido os empréstimos feitos a outros países e instituições, várias são as doações internacionais, porém nada se reflecte no bem-estar dos cidadãos e o Estado nunca se alivia.
Apenas se fala nos valores que Angola deve, mas nunca se fala nas amortizações e pagamentos que têm sido efectuados ao longo dos anos, o que parece ser um exercício de negligência e má gestão nociva ao Estado angolano.
O Presidente João Lourenço, segundo fontes bem posicionadas, não nutre grande simpatia pela China e não acredita que os chineses possam trazer proveitos reais para Angola, nomeadamente no plano de desenvolvimento da sua economia, atribuindo maior importância aos Estados Unidos da América (EUA) como seu parceiro estratégico.
De acordo com as fontes, João Lourenço considera que os EUA apresentam capacidades financeiras mais robustas, do ponto de vista tecnológico e de gestão, sendo um parceiro mais apto a apoiar o desenvolvimento económico de Angola e a sua afirmação como potência regional, objectivos que o Chefe de Estado angolano pretende no âmbito dos seus interesses políticos e do regime.
A opinião pública não entende, entretanto, a razão dos acordos assinados pelo Presidente da República nesta recente visita à China, já que os diversos projectos lançados com investimento chinês revelaram-se ineficazes, ao contrário do que se aventa sobre o investimento privado norte-americano visto como vantajoso.
As fontes destacam que a participação dos EUA na recuperação e desenvolvimento dos sectores industrial, mineiro e agrícola, identificados como substitutos do petróleo, oferece garantias mais sólidas.
Iniciada em 2022, a aproximação de Angola aos EUA, que se estende ao campo da defesa e segurança, interessa igualmente aos americanos, considerando que os EUA valorizam sobremaneira o potencial económico de Angola, a sua geografia, a sua estabilidade política e as suas influências regionais.
Os angolanos temem que a vista do Presidente João Lourenço possa resultar em algum retraímento dos EUA nas relações com Angola e os novos investimentos chineses, atendendo o que já se tem vivido, possam constituir-se numa relação com rótulo de “neocolonização”.
Abusos chineses
Os abusos praticados por cidadãos chineses datam desde que os mesmos foram chegando ao país no âmbito dos acordos de cooperação bilateral Angola – China, alegadamente para, depois de alcançada a paz, participar na reconstrução nacional e “ajudar” na recuperação de infra-estruturas e construção de outras.
Porém, junto com a suposta “boa vontade”, trouxeram também uma série de atitudes nefastas, muita ambição, apetência pelo lucro fácil e muito desrespeito pela pessoa do cidadão angolano e pelas leis nacionais.
A coberto da dita cooperação, as instituições e/ou empresas chinesas que vieram para Angola, em vez de trabalhar de verdade, imiscuiram-se em todo o tipo de negociatas, aproveitaram-se da fraqueza de alguns cidadãos e das fragilidades resultantes da guerra e incrementaram actos de corrupção, misturaram aos maus cidadãos angolanos que rouba(va)m e desgraça(va)m o país, causando um pandemónio sem precedentes nas comunidades angolanas, com destaque para as mais simples e vulneráveis.
Imbuídos de um espírito de superioridade, foram menosprezando os angolanos, como se estes fossem seres inferiores.
Esta situação discriminatória prevalece até aos dias actuais e são claramente perceptíveis nas obras a cargo de chineses, nas suas empresas e nas ditas “cidades da China”.
Muito já se descreveu sobre situações sumamente desagradáveis envolvendo chineses a maltratar angolanos; fala-se mesmo em escravatura, o que tem acontecido com um bom número de angolanos, muitos dos quais, aliciados por promessas de sonho, subtraídos às suas famílias, praticamente raptados das suas localidades de origem e residência, geralmente no interior do país, e levados para partes desconhecidas, sobretudo para Luanda, onde são confinados em condições sub-humanas, em regime de reclusão, obrigados a executar trabalhos braçais dos mais duros, sem horas de trabalho definidas, sem pausas para descanso, incluindo fins de semana, feriados, sem direito a tratamento médico, má alimentação e, como se não bastasse, mal remunerados ou nem isso.
Realce-se que grande parte desses trabalhadores são adolescentes e há mesmo casos de crianças.
São muitas as acusações das vítimas que têm chegado a público sem que, entretanto, as nossas autoridades tomem medidas sérias para contrapor e estancar o mal e impôr respeito às leis e soberania nacionais, em prol da dignidade do povo angolano.
Os chineses, sempre com a justificação de estarem a “cumprir ordens superiores” de supostos generais e governantes angolanos, mandam e desmandam, fazem e desfazem, a seu bel-prazer, procedem ao desmatamento desenfreado para obtenção de madeira, que enviam em toros para o seu país, exploram desregradamente inertes, como areia, burgau e pedras, causando a crescente erosão de terras que se assiste actualmente um pouco por todo o país e vai causando o surgimento de ravinas que, em algumas localidades, estão a “engolir” comunidades inteiras.
As empresas chinesas são ainda acusadas pelas populações de não respeitarem nada nem ninguém no que toca à exploração dos referidos produtos.
A sociedade angolana, agastada, sempre alertou para o facto de os chineses não cumprirem as normas estabelecidas para execução dos projectos e ignorarem os angolanos, enquanto o governo descurava algo muito importante como o acompanhamento e a fiscalização do que faziam/fazem realmente as empresas chinesas que vão impingindo “gato por lebre”.
“Não se pode admitir que cidadãos estrangeiros, sejam de que nacionalidade forem, façam o que lhes dê na gana e levem para o seu país coisas de que os próprios angolanos nunca beneficiaram”, dizem os cidadãos.
Os chineses levam o mármore e grandes blocos de rocha que podem conter outras matérias primas e até os animais raros não escapam à sua cobiça.
“Estão a devastar o nosso mar com os seus arrastões e a dizimar toda a fauna e flora marítima. O nosso governo vai buscar empréstimos que são pagos conforme o estabelecido nos acordos bilaterais e com os respectivos juros. Geralmente, tem sido o petróleo a moeda de pagamento, mas hoje eles levam tudo: diamantes, ouro, madeira e muitos outros recursos naturais, então qualquer intervenção de empresas e/ou de cidadãos desses países, que queiram trabalhar em Angola, têm que sujeitar-se às leis nacionais e só operar lá onde o Estado autorize”, realçam.
A invasão nefasta de certos domínios por cidadãos chineses, é uma situação gravíssima que acabará por prejudicar drasticamente o futuro do país e, nomeadamente, as gerações vindouras.
Os chineses estão no tráfico de tudo em Angola, mas, embora qualquer país precise e dê boas-vindas aos estrangeiros, quando esses estrangeiros passam a mandar no nosso país, sobretudo quando eles estão mancomunados com dirigentes corruptos, então não são bem-vindos.
Tráfico de drogas, prostituição forçada de jovens angolanas, trabalho escravo, falsificação de moeda, jogos de azar, entre diverso contrabando, é a realidade que se vive em muitos espaços geridos por cidadãos chineses. Consta que, além da “escravidão” a que são submetidos os trabalhadores angolanos, casinos são placas giratórias de crimes de contrafacção, de tráficos de vária ordem, como as drogas, a moeda, animais e até de órgãos humanos.
“Os chineses ali são ‘reis’ e os angolanos são apenas seres descartáveis, indivíduos que fazem os trabalhos mais baixos e pesados, sem qualquer protecção e medidas de segurança e ganham uma miséria, mas como necessitam, sujeitam-se às condições que chegam a ser desumanas, ante o escárnio dos chineses”, afirma uma cidadã.
Estes locais são também frequentados por altas individualidades das forças de defesa e segurança e governantes, assim como seus comparsas, que têm ali “interesses obscuros” porque a sua forma de agir, quando ali estão, tem tudo a ver com a dos “gangster’s” de grupos de máfia, como se vê em filmes e não só.
Diversos carros topo de gama, com vidros fumados, são vistos em casinos de chineses, transportando indivíduos angolanos bem vestidos, rodeados por guarda-costas, incluindo algumas mulheres, que se fecham nos estabelecimentos com os chineses e saem algum tempo depois com pastas nas mãos e vão-se embora.
Infelizmente, a comunidade chinesa em Angola tem feito muitas tropelias, em alguns casos mancomunados com membros das elites do poder, sendo um sério perigo para o país e um grande e grave problema de soberania nacional.