“Dedo podre” - UNITA volta a dançar música de deputado independente
A aceitação pelo Grupo Parlamentar da UNITA do regresso de deputado Francisco Viana às suas hostes representa, de um lado, fragilidade desse grupo e do partido, no geral, pois nunca se saiu bem com a presença de deputados independentes na Casa das Leis. A ideia de torna-lo mais inclusivo, acaba por expor fora do razoável e negativamente a sua imagem, tornando-o uma formação política com “dedo podre”.
Por: Márcia Mara
Desde que há registo, a UNITA nunca teve momento de comemoração com a aceitação, na sua estrutura parlamentar, do figurino de deputado independente.
E este risco é, ao que tudo indica, promovido cada vez mais com todos riscos à vista. Em 2004, um grupo de 16 deputados decidiu, com suporte de uma mão invisível, distanciou-se da liderança partidária e, deste modo, posicionou-se como deputados independentes.
Os estragos provocados por este movimento não foram mínimos, pelo menos dentro da Assembleia Nacional.
Em 2008, numa altura em que a UNITA se preparava para vingar-se dos piores resultados eleitorais da sua história, promovendo os seus verdadeiros quadros, eis que visivelmente desprovida de confiança nesses quadros, “recruta” o jornalista Augusto Pedro Makuta Nkondo, que entrara na lista de candidatos a deputado deste partido como independente.
Não tardou, provocou estragos assinaláveis que custaram à perda de alguma supremacia em termos de militantes, na província do Zaire, nas eleições seguintes.
Ele elevou a direcção do partido então liderado por Isaías Samakuva da posição “bestial” para “besta”, com acusações graves.
A história repete-se em 2017 com David Mendes, o propalado advogado do povo que teve entrada fácil no grupo parlamentar da UNITA, como independente, uma vez mais, em detrimento de militantes que sonhavam estrear na casa das leis.
A história foi praticamente a mesma: teve momentos transitórios na estratégia política do Grupo Parlamentar e, por alguma razão, bateu com a porta, passando a ocupar a posição de maior algoz do partido do Galo Negro liderado por Adalberto Costa Júnior.
Um GIP cheio de independentes Visivelmente entrosado com as atoadas de deputados independentes no seu Grupo Parlamentar, a UNITA faz a maior aquisição de “gente estranha” às suas hostes, com o acolhimento de gente do Bloco Democrático, Sociedade Civil e de um projecto sem personalidade jurídica (PRA-JA- Servir Angola) numa ampla plataforma que viria a chamar-se Frente Patriótica Unida (FPU).
Uma figura proeminente da UNITA tinha avisado, no programa “Café da manhã” da Luanda Antena Comercial, que a formação de tais plataformas tinha vantagens, mas também tinha desvantagens.
A grande desvantagem, em seu entender, era a possibilidade de o partido ser grandemente infiltrado. Outra fonte, já depois ser anunciada a saída de Francisco de Francisco Viana, confidenciou que há assuntos estratégicos que só mesmo devem ser abordados na estrutura de cúpula da UNITA, por causa do vazamento de informações num curto espaço de tempo.
“O MPLA tem, em tempo útil, o domínio de tudo o que fazemos e dizemos”, fundamentou.
Astúcia de Viana
O anúncio da saída de Francisco Viana (que diz ser amigo visceral da UNITA) do Grupo Parlamentar não foi devidamente digerida pelos militantes que não pouparam críticas à liderança que “não consegue aprender com os erros”, sobretudo pelas razões evocadas pelo deputado que é membro da sociedade civil.
Entretanto, os contactos feitos e que desembocaram na assinatura, esta sexta-feira (19) de um acordo com o Grupo Parlamentar da UNITA para a sua reintegração, mas na qualidade de independente, mostram precisamente o interesse deste partido no deputado, cuja reconsideração da sua posição foi bem aplaudida.
Tentando convencer sobre as motivações do seu distanciamento, Francisco Viana fez saber que na qualidade de entidade independente, tem alguma dificuldade em fazer compreender a estratégia da sociedade civil, porque cada vez que fala é entendido como deputado da UNITA.
“E não consigo dar seguimento a um trabalho que não deve ser feito em nome da UNITA”, expôs.
O deputado disse discordar da proposta de modelo de eleições autárquicas apresentada recentemente pelo Grupo Parlamentar da UNITA, defendendo o federalismo, um sistema distante da política do Galo Negro.
"Eu não só da UNITA e represento a sociedade civil. Sociedade civil é uma coisa muito grande. Sou apenas uma voz dela", reiterou o deputado, que prometeu nunca trair ninguém e nunca trair a UNITA.