MPLA baralha as cartas: Jogada de ACJ nas últimas eleições afastou filhos de Jonas Savimbi da UNITA
Nos últimos dias, a ribalta angolana ficou marcada por informações segundo as quais o Gabinete de Acção Psicológica do Presidente da República estava na iminência de desembolsar pelo menos 20 milhões de Kwanzas para cada activista conhecidos como "pedra no sapato" do Executivo. Essa informação foi endossada por uma fotografia "aparentemente familiar" em que aparece Norberto Garcia, que dirige o Gabinete em referência, e duas filhas do líder fundador da UNITA, nomeadamente Ginga Savimbi e Francisca Savimbi, facto incomum nos dias que correm.
Por: Márcia Mara
A história de políticos e activistas serem alegadamente corrompidos com valores monetários, residências em condomínios e viaturas não é nova. E quase todos os anos há sinais neste sentido.
Antes das eleições, a troca de camisolas políticas tem sido um facto com militantes da UNITA a serem os principais alvos da secreta angolana.
De referir que, em 2022, na véspera das eleições, o partido do Galo Negro sofreu uma razia nas suas hostes, com militantes de proa em que se insere deputados a caírem nesse vendaval com muitos milhões de Kwanzas em jogo.
A Comissão de Jurisdição desse partido político, embora apática, fez o que pode para desmantelar a rede dos supostos agentes duplos, na altura. Se há 04 ou 03 anos, a vulnerabilidade dos quadros do partido liderado por Adalberto Costa Júnior era evidente, agora, com a crise que o país atravessa, por poucos milhões de Kwanzas, os militantes deixam-se comprar.
Poucos devem, em princípio, resistir aos milhões que, se comparados ao valor dos salários, fazem alguma diferença. Falando dos filhos de Jonas Savimbi, Ginga e Francisca posaram uma foto com Norberto Garcia, esta semana, facto que surpreendeu militantes e amigos da jovem.
O desmentido atribuído a ela não foi capaz de esbater a onda de questionamento, sobretudo nas redes sociais. Um artigo, que se pressupõe ser do ex-deputado José Pedro Kachiungo, tenta aligeirar o caso com as seguintes palavras: “Não foi a primeira nem a última, mas é uma dentre várias imagens que ilustram a irmandade e a elevação patriótica de três angolanos divididos por visões políticas e ideológicas, mas unidos por Angola e pelos angolanos”. E continuou: “De parte ficaram as diferenças entre o trio. Elevou-se, portanto, a união e a fraternidade que deve imperar na nossa arena política. Evidenciou-se os semblantes risonhos e a ilustração da satisfação pelo momento juntos”.
O passado recente contraria esta quimera, pelos seguintes motivos: Araújo Kanganjo Tao Savimbi, antes das eleições de 2022, foi visto várias vezes em restaurantes com elementos da bófia, o que era minimizado por alegadamente se tratar da integração de várias sensibilidades no âmbito da reconciliação nacional.
Mais adiante, foi visto a viajar em missões aparentemente ultra-secretas para o exterior do país, acabando por fazer campanha a favor do MPLA e ser indicado como conselheiro da embaixada angolana no Senegal.
No mesmo diapasão está Dório Rolão Preto Sakatu Savimbi, que reside actualmente nos Estados Unidos de América.
Depois de estar alinhado com o partido UNITA, quando liderado Isaías Samakuva, acabou por apelar ao voto contra ACJ por alegadamente ter traído a memória do Dr. Savimbi devido a sua aliança com os que destruíram economicamente este país, com os corruptos.
Salientou que a UNITA “é um partido que luta desde os seus primórdios contra a corrupção, por isso aliar-se aos marimbondos, é trair o povo angolano”.
O filho mais velho de Jonas Savimbi, Cheya Savimbi, arquitecto de profissão, em 2019, quando ACJ assumiu, pela primeira vez, o cargo de presidente da UNITA, tinha aceitado a função de Secretário Nacional das Infra-Estruturas.
Este jornal sabe que abandonou o cargo e o partido sem deixar rastos. Esperava-se a vinda de mais filhos mais velhos no intuito de assegurar o partido pelo seu pai, mas inutilmente, pois eles “preferem organizar as suas vidas, tal como bem aprenderam, não se importando com mão que os salva”, segundo a fonte que temos vindo a citar.
Os “pecados” contra as “Meninas Savimbi”
Mais uma vez, alguns militantes consideram que a constituição da Frente Patriótica Unida (FPU) foi irreflectida, porque criou um elevado nível de descontentamento no seio dos quadros que queriam estar nos lugares cimeiros das listas de candidatos a deputado.
Um desses quadros é Ginga Savimbi cujo nome figurou na posição 99, apesar de ter prestado todo seu apoio ao líder da UNITA, ACJ, durante a campanha para a sua eleição à presidência do partido, e durante a campanha para as eleições gerais.
Aliás, Ginga Savimbi foi apoiante acérrima do presidente do partido. No entanto, murchou depois de ter visto o seu nome na cauda da lista de candidatos a deputado e depois de algumas figuras proeminentes do partido terem se oposto à sua candidatura à liderança do braço juvenil do partido JURA, em 2023.
ACJ, segundo uma fonte partidária, não terá acomodado devidamente alguns quadros que o apoiaram para estar onde está hoje.
Outros ainda dizem que Adalberto não acomodou também os descendentes de Jonas Savimbi, sendo que Rafael Massanga, Secretário para as Relações Exteriores, só está no Parlamento para representar a família, facto contrariado pela sua personalidade enquanto político.
“Massanga já mostrou que é competente por isso tem a sua posição reservada no partido”, reforçou.
Outros irmãos mais velhos estavam à beira de serem o que Massanga é no partido, mas revelam-se indiferentes ao partido, sobretudo depois do encontro que mantiveram com o presidente da República, em que lhes foi dada a conhecer outra visão que o partido no poder tem para com os filhos do líder fundador da UNITA.
A falta de diálogo entre filhos de Savimbi fez com que alguns, quando Angola foi a votos no dia 23 de Agosto de 2022, apelassem ao voto a favor de João Lourenço e os outros o fizessem a favor de Adalberto costa Júnior.
Isso, na visão da nossa fonte, demonstra que não há diálogo entre os descendentes de Savimbi.
Deixaram o seu irmão Rafael Massanga Savimbi numa posição difícil, não só por o terem abandonado, mas sobretudo pelo facto de o colocarem sem garras suficientes para defender a obra que se chama UNITA.
“Eles não aproveitaram nada do que o pai deles deixou, desde o partido ao dinheiro que este arrecada do Orçamento Geral do Estado, achando, por isso, necessário aproveitar ‘a mão larga’ do MPLA”, julga a fonte que não tem dúvidas de que eles, muitos dos quais a caminho de 60 anos, queiram aproveitar “o tempo perdido”.