“Comissão” criada por altas figuras da UNITA prepara-se para “destituir” ACJ da presidência do partido
Depois de vários anos de perseverantes abordagens, eis que a Fundação Jonas Malheiro Savimbi, cujo lançamento acontece em Agosto próximo, mês do aniversário do líder fundador da UNITA, de acordo com o coordenador da organização, e ex-presidente do partido, Isaías Samakuva (IS), que deixou sinais claros, em conferência de imprensa realizada no dia 02 do mês corrente, de que o partido não goza de boa saúde como se vê de fora.
Por: Mara Márcia
Na conferência de imprensa, IS deu peito para todas as balas e demonstrou não só que a sua relação com o actual presidente do partido, Adalberto Costa Júnior, não é boa, mas também revelou que o “namoro” com o partido no poder, na pessoa do seu presidente, João Lourenço, atingiu o “ponto rebuçado”, alegadamente por serem amigos de infância e terem brincado juntos.
Mais do que isso, “primeiro somos angolanos, depois é que somos das organizações”. A conferência de imprensa de IS trouxe aos olhares do mundo a conclusão de que os militantes punidos pelo Conselho de Jurisdição da UNITA supostamente por pretenderem inviabilizar a liderança de ACJ, com suporte da bófia angolana veneram IS e fazem parte de uma “comissão de resgate do partido” cuja missão é montar cenários para que sacrifiquem “a marcha triunfante” dessa organização política.
Aparece à frente de tal comissão, revela as nossas fontes, José Pedro Kachiungo, Manuel Savihemba, Sabino Sakutala, um coronel na reforma apenas conhecido por Tchinjamba e o ex-deputado José Eduardo, amigo visceral do advogado David Mendes.
Fontes ligadas àquele partido revelam que a aludida comissão de resgate realiza periodicamente reuniões onde actualizam estratégias vocacionadas a prejudicar a liderança de ACJ.
Para o efeito, foram criados alguns perfis falsos e pseudónimos para se evitar a conexão directa dessas figuras com as publicações que vão fazendo.
Por exemplo, José Pedro Kachiungo é apontado como tendo vários pseudónimos, mas é o “Nassoma” que tem sido muito usado, nos últimos dias, tendo, recentemente, o general na reforma, Abílio Kamalata Numa o atacado nas redes sociais.
A ausência de figuras de proa da UNITA na conferência de imprensa é justificada com o facto se tratar de um encontro apenas com a imprensa e não com militantes do partido, uma justificação pouco convincente, o que vem a dar corpo às palavras de IS, segundo as quais a criação da fundação levantou dúvidas, sentimentos de ódio e até de repulsa, em certos casos, e noutros, de júbilo, encorajamento e até de expectativas.
IS assegurou que foi sempre do conhecimento do partido e todos os passos do processo foram dados a conhecer ao líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, mas a lei estabelece que só os herdeiros podem criar uma fundação com o nome de uma pessoa.
Com a criação da fundação, a maioria dos filhos de Jonas Malheiro Savimbi deverá ficar longe dos projectores partidários, o mesmo que dizer que deverá gradualmente abandonar a obra deixada pelo seu pai.
Vale lembrar que, em edições anteriores, este jornal referiu-se a um acordo que os alguns filhos de JMS teriam com algumas figuras do regime, mormente do Gabinete de Acção Psicológica, para se afastarem da política partidária em troca da legalização da Fundação há muito pedinchada.
Não tardou, despoletaram-se “digressões” de alguns familiares directos de Savimbi àquele gabinete com a lema de “convivência na diferença”.
O que está difícil de digerir, no seio do partido do Galo Negro, são as palavras de Samakuva em que diz que o facto de ser de outro partido não pode o inibir de falar com quem está no MPLA e reiterar a necessidade de pensar primeiro Angola, depois os partidos políticos, e para isso, “é preciso pessoas sérias para que o país seja encarado como sério”.
Vozes discordantes desconfiam que essa sã convivência que se apregoa foi sempre aspiração da UNITA, mas “nunca foi correspondida pela outra parte”, referindo-se ao MPLA que acusam de dar passos ténues rumo a uma verdadeira reconciliação nacional.