Recandidatura à presidência: Samakuva “em aquecimento” para ir a meio-campo com ACJ em 2025
Entre sim e o não, Isaías Henrique Ngola Samakuva, que liderou a UNITA de 2003 a 2019, pode voltar a recandidatar-se à presidência desta força política na oposição, já no próximo congresso que terá lugar em 2025, porque está afligido com rumo que está a tomar, depois de ser substituído por Adalberto Costa Júnior que terá tomado medidas menos consentâneas e que, no entender o ex-presidente, poderiam ser melhores.
Por: Mara Márcia
Em 2019, quando Samakuva deixou a liderança da UNITA era suposto vê-lo ao lado de ACJ a andar pelo país, num gesto de apresentação do novo líder, mas isso não se verificou porque instalou-se um clima de tensão, com a repetição do congresso que elegeu o actual líder a demonstrar isso mesmo, onde, aliás, não faltaram ameaças de morte contra o presidente cessante.
Mas o político de 79 anos não participou da campanha eleitoral de 2022, não por temor da sua vida ou por não concordar com a direcção do partido, mas sim porque se ocupou em tratar da saúde da sua esposa que inspirava cuidados na África do Sul.
Em entrevista à emissora católica de Angola, esta quarta-feira, 10, Isaías Samakuva disse que trabalhou muito durante os últimos 50 anos de militância e ainda trabalha, pelo que, aos 78 anos de idade, precisa cuidar de si próprio.
“O meu tempo já é pouco, por isso, preciso fazer outras coisas”, disse. Negou haver crispação com a actual liderança do partido, mas sublinha que se houver crispação “temos de conversar (…) eu de uma forma geral, não tenho ninguém eu diga que com ele não falo”.
O certo é que este diálogo não acontece desde que se instalou a tensão entre os “adalbertistas” e os “samakuvistas”, estes que, embora em número reduzido, vão se reerguendo.
Quanto àqueles que não se revêem na actual direcção, Samakuva foi peremptório em dizer que “este é o problema deles, mas mesmo para estes, a solução é conversar”.
Desdramatizou, entretanto, o facto de ter em sua volta alguns militantes e simpatizantes suspensos e expulsos do partido, nos seguintes termos: “eu não vou rejeitar quem quer que seja só porque tem problemas com a direcção do partido”.
O político disse que algumas dessas pessoas lesadas pelas sanções são seus familiares e amigos, mas ele recebe todos e tem recebido todo tipo de informações a favor ou contra ele, mas, mesmo assim, escondeu o facto de existirem alas.
“Eu não sei se existem alas, mas na vida prática não podemos contar que as pessoas concordem com tudo; temos de partir do ponto de que pode haver diferenças de opinião”, vincou.
Entretanto, sem mais detalhes, disse não se rever na Frente Patriótica Unida, apesar dos resultados históricos que obteve nas últimas eleições.
Razões da recandidatura
As informações sobre a possibilidade de Isaías Samakuva se recandidatar à presidência da UNITA não são novas, novas são aquelas que davam conta de o político pode vir a fundar o seu partido.
Entretanto, com o andar da carruagem, aconteceu então a legalização da Fundação Jonas Malheiro Savimbi que tem à testa o ex-presidente do partido Galo Negro que, logo no dia de uma conferência de imprensa, realizada em Junho último, deixou claro que tinha crispações com a liderança do partido, uma matéria que este Jornal trouxe à ribalta.
Sabe-se que durante este período que o político andou entrincheirado, aconteciam movimentações de alguns militantes expulsos e suspensos, com realização de reuniões secretas, com o fito de alegadamente inviabilizarem o mandato de ACJ, sendo que estes militantes, maioritariamente, são apoiantes obstinados de Samakuva.
“Em nenhum momento, se conformaram com a presidência de Adalberto Costa Júnior porque, todos eles, tinham apoiado a candidatura de Alcides Sakala que era também o predilecto de Isaías Samakuva no congresso”, disse fonte deste Jornal, que lembra que houve choros quando o ex-presidente decidiu abandonar o cargo.
A recente conferência de imprensa de apresentação da fundação Jonas Malheiro Savimbi, em que aos jornalistas interessava mais saber das razões do “desaparecimento em combate” do político, do que propriamente da legalização da fundação, trouxe elementos que vão contribuir sobremaneira para cisões internas, por um lado, e para antever qual deverá ser a bandeira de uma eventual recandidatura de Samakuva, no próximo congresso ordinário do partido, por outro.
Já se sabe, por intermédio do coordenador da fundação, que a UNITA, por si só, não deu apoio cogitado, apesar de ACJ ter dito nesta quarta-feira que o assunto fez sempre parte da agenda da direcção do partido desde 2003, sendo que na sua direcção é considerado um “assunto estratégico”.
“Uma fundação é um assunto normalíssimo num Estado Democrático, não precisa de conferências de imprensa, não precisa de discursos políticos, não precisa de muito barulho", disse Adalberto Costa Júnior”, afirmou, sublinhando que “quando a esmola é grande, o pobre desconfia”.
Samakuva, no entanto, fez saber que no quadro da nova toponímia, o nome de Jonas Malheiro Savimbi será atribuído à uma rua, o que a nossa fonte considera um passo importante, para além da criação da fundação.
“São essas conquistas, a par do reconhecimento da fundação que devem ser levados por IS à uma hipotética campanha eleitoral para a sua reeleição”, acredita a fonte, referindo ainda que o trabalho para diabolizar a actual direcção começou há muito tempo, tendo se permitido que a bófia angolana, mormente o Gabinete de Acção Psicológica entrasse a fundo, ao ponto de ACJ perder autoridade sobre os filhos do líder-fundador do partido.
“Um dos pecados atribuídos a ACJ, adiantou, é de alegadamente pretender afastar todos aqueles que apregoam o nome de Savimbi”, disse, referindo que a indigência que se instalou no país faz com que os quadros sejam facilmente corrompidos.