Filho de Savimbi recorda a ACJ que foi ele mesmo que pediu para Samakuva coordenar a criação da Fundação Jonas Malheiro Savimbi
Está difícil digerir, no seio da UNITA, o facto de Isaías Samakuva coordenar o processo de legalização da Fundação Jonas Malheiro Savimbi (FJMS), porque acha que seria o partido a fazê-lo. Para dissipar todas as dúvidas à volta do caso, o filho mais velho do líder fundador do partido, Durão de Monte Negro Cheya Savimbi, veio a terreiro confirmar que foi o próprio presidente da UNITA que, num encontro com os filhos, pediu que fosse o ex-presidente a coordenar todo o processo.
Por: Lito Dias
Dias depois de Isaías Samakuva (IS) realizar uma conferência de imprensa em que anunciou a legalização da FJMS e desmistificou vários assuntos atinentes ao partido, incluindo a sua ausência na cena político-partidária, as águas agitaram-se na UNITA, com o seu Presidente a admitir a existência de uma mão invisível no processo de legalização, e o seu Secretário-Geral, Álvaro Chikwamanga, a elaborar uma directiva Nº 02/SGP/2024, onde transmite aos militantes a todos os níveis grande preocupação.
De acordo com a referida directiva, datada de 10 de Julho, distribuída desde a direcção às organizações de massas, a ideia da FJMS não é nova.
“Ela surgiu no seio do partido, mas para a sua concretização não contou com o partido nem teve o seu aval”, esclarece o político que patenteia, assim, um desconhecimento total do carácter de uma fundação.
Diz ainda a referida directiva que todos os passos tendentes à sua legalização deviam ser do domínio do Comité Permanente e da Comissão Política, órgãos estatutariamente competentes em matéria de operacionalização de toda a estratégia do partido.
“É importante que os quadros saibam que os subscritores da fundação são pessoas com processos disciplinares no seio do partido. Muitos até já expulsos, os mesmos que subscreveram a carta ao Tribunal Constitucional para anular o XIII Congresso Ordinário”, rematou.
Acrescentou que alguns mentores apelaram o voto contra a UNITA nas eleições de 2022 e outros até não votaram e preferiram ficar em casa, numa clara intenção de deixar cair o partido através das eleições gerais, um perfeito alinhamento com a estratégia do MPLA.
“Custa acreditar que o próprio mais velho Samakuva, ex-presidente do partido, recusou a apelar ao voto na UNITA, no último pleito eleitoral”, expôs.
Filho de Savimbi desmente
Numa carta dirigida à direcção do partido, Durão de Monte Negro Cheya Savimbi disse que as coisas não acorreram bem assim.
“Foi com muita tristeza, perplexidade e indignação que nós curadores da Fundação Jonas Malheiro Savimbi, filhos e legítimos herdeiros do seu patrono, tomamos conhecimento do teor da directiva Nº 02/SGP/2024, datada de 10 do corrente, sobre o tema em epígrafe”, disse, salientando que a directiva assinada pelo Secretário Geral transmite aos dirigentes provinciais da UNITA “inverdades sobre a origem, motivações e passos concretizadores da fundação, com único objectivo de criar confusão e manchar o bom nome do seu patrono, Dr Jonas Malheiro Savimbi”.
Ele desmente que a ideia da criação da fundação tenha nascido no partido nem contou com o seu aval.
Diz também não ser verdade que a direcção do partido não acompanhou o processo da sua criação e que a família nunca a contactou para informa-la da evolução do processo; pelo que fez recordar o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior o que realmente aconteceu.
“Foi vossa Excelência, Senhor Presidente, que, em 2019, e na presença do Secretário-Geral, Álvaro Chikwamanga Daniel, no encontro com o engenheiro Cheya Savimbi nas instalações do partido em Viana, recomendou para se solicitar os préstimos do Dr Isaías Samakuva no sentido de coordenar todo o processo de criação da fundação. E pelo que sabemos, o coordenador manteve sempre a direcção do partido informada e a par e passo de todas as etapas do processo. Estamos indignados, Senhor Presidente”, admitiu.
Deixou claro que a FJMS não é uma organização política nem persegue fins políticos. Por isso, não deve ser utilizada em jogos políticos em querelas político-partidárias.
“É uma organização social, persegue fins filantrópicos nos marcos dos valores que concorrem para a dignidade da pessoa do angolano, como a paz, a liberdade, a fraternidade e a solidariedade”, sublinhou.
Cheya, que também falou a algumas rádios da capital angolana, disse que a família tem conhecimento da existência de detractores de Savimbi no seio da UNITA, que até se opuseram à criação da fundação, mas agora “já é tarde, porque a Fundação foi criada”.
Espera-se que os próximos dias venham ainda destilar alguma turbulência na relação entre a actual direcção da UNITA e a FJMS que deve ser lançada, oficialmente, no mês de Agosto próximo, sendo certo que a participação dos dirigentes do partido no referido acto deverá ser decisiva para se aferir o seu real posicionamento.