Com 68 anos de existência - Cidade de N'Dalatando ainda respira o antigamente
Ndalatando, que há 68 anos foi elevada à categoria de cidade, é a sede do município de Cazengo. É, também, a zona da província do Cuanza Norte mais visitada, seguindo-se o município de Cambambe, cruzado por estradas nacionais que ligam a capital do país ao leste, ao centro e ao sudeste angolano. No entanto, no que concerne ao desenvolvimento, N'Dalatando está praticamente estacionada.
Por: Cambundo Caholua
Numa ronda feita pela equipa de reportagem do NA MIRA DO CRIME, pelas artérias da cidade de N'Dalatando assim como no interior dos seus bairros periféricos, foi possível manter contacto com os citadinos que se queixam da inexistência de vários serviços sociais e outros estruturais.
Dentre vários problemas que enfrenta, destacam -se as faltas de hospitais, escolas, iluminação pública em zonas mais afastadas do casco urbano, bem como a falta de sistema de drenagem e outros projectos sociais que voltados aos munícipes.
Tratando-se da rede hospitalar, a cidade de N'Dalatando carece de infra-estruturas e encontra-se apenas com três hospitais públicos em funcionamento, sendo dois de referência, nomeadamente o hospital municipal o hospital provincial, mais um centro médico localizado no bairro da Sassa, o que tem sido uma gota no oceano para acudir a demanda populacional do município do Cazengo e não só.
À insuficiência de hospitais acrescem-se problemas técnicos no atendimento.
É o caso do equipamento de raio-x que não funciona plenamente, havendo pacientes que são radiografados, mas os resultados da chapa são impressos num cyber e em papel A-4.
Aguarda-se com alguma expectativa a conclusão do novo hospital geral com a capacidade de 200 camas, que começou a ser erguido em 2021 pela empresa PROMED, na zona da Kirima, cerca de 13 quilómetros da cidade, e que prevê atender 1.000 pacientes por dia.
O prazo de entrega da obra seria de um ano e seis meses, mas já se passam quase dois anos, e a obra ainda não está concluída.
De acordo com fontes deste Jornal a unidade hospitalar prevê dispor de áreas de internamento, serviços gerais, imagiologia, bloco operatório, unidade de cuidados intensivos (UCI), laboratórios, logística, ambulatório, pequenas cirurgias, hemodiálise, colheitas, reabilitação física, urgências, maternidade, obstetrícia, queimaduras, medicina interna, otorrinolaringologia, oftalmologia, medicina dentária, psiquiatria, gastroenterologia e morgue.
Uma educação deficiente
Já a nível da educação, a cidade tem várias escolas do ensino primário e I° ciclo, o que não acontece com o ensino do 2° ciclo, que conta apenas com cinco institutos médios, enquanto no capítulo do ensino superior, a capital da província do Cuanza Norte conta apenas com o Instituto Superior Politécnico de NDalatando (ISPND), a Escola Superior Pedagógica de Cuanza Norte, todas da rede pública, para além do Instituto Superior Internacional de Angola (ISIA), que é da linha privada.
São considerados pelos habitantes números muito ínfimos e que têm dificultado, de certa forma, os estudantes que concluem o ensino médio.
Não poucas vezes, a alternativa tem sido deslocarem-se para as províncias vizinhas, a fim de realizarem o sonho de uma licenciatura.
"Eu, por exemplo, passei nessa situação, quando o meu filho terminou o ensino médio, há três anos, aqui não havia o curso de direito e tive que enviar o miúdo para Luanda onde está a fazer a formação", testemunhou o senhor Andrade Morais.
No que concerne ao fornecimento de energia eléctrica, a cidade necessita de melhoramento, já que há zonas que quando a noite chega é um "Deus me acuda", tudo porque não existe iluminação pública e há residências que não conhecem o acender de uma lâmpada.
Nalguns bairros, quando a energia eléctrica é interrompida, para restabelecer pode demorar dois a três dias.
O outro caso que acossa os munícipes é a debilidade que se regista no abastecimento da água potável.
Os mais carentes são: São Filipe, Mesquitas e Kilamba, conforme apurou este jornal.
A água, dizem os moradores, jorra das 7 às 9 horas, tempo insuficiente para os consumidores.
Isso faz com que alguns recorram às cacimbas e rios, onde as condições de água não são adequadas para o consumo.
O asfalto sumiu das ruas
As ruas do centro da cidade de N'Dalatando tornaram-se gémeas das vias secundárias e terciárias, no que a poeira diz respeito.
O tapete asfáltico está degradado. Outro problema que a cidade de N'Dalatando enfrenta é a falta de sistema de drenagem, o que tem causado muitos constrangimentos na época chuvosa, principalmente na entrada da Camundai, já que as estradas não estão adaptadas de forma a escoar as águas pluviais.
Na mesma senda verifica-se um problema sério na recolha de resíduos sólidos que se acumulam, sobretudo no centro da cidade.
No capítulo empresarial, sente-se pouca presença de investimentos. "Temos aqui a Omatapalo, uma empresa dse renome, mas precisamos de mais empresários", exigiu o jovem Isaac que lamenta o facto de não haver, em N'Dalatando, um Centro Comercial.
Ele sublinha que devido a essa escassez de empresas, muita juventude encontra dificuldades na obtenção de emprego. Moto-táxi e fazendas são, dentre outras, as alternativas encontradas por alguns jovens.
Ainda assim, nem todos têm condições para encontrarem esse trabalho. Por isso, há um número considerável de jovens que opta pela delinquência e prostituição.
"Trabalho numa fazenda no Lucala, pagam-me 20 mil Kwanzas por mês, e não chega para suprir as minhas necessidades, mas é o que tenho", disse Lucas de Abreu.
Outra situação que saltou à vista durante a nossa reportagem é a falta de quadras desportivas, para futebol.
Existem alguns campos, mas para o basquetebol, andebol, voleibol, ou piscinas para a prática de natação são uma miragem.
A prostituição é das vias mais favoráveis que muitas raparigas encontraram para sobreviverem. As zonas da Pumangol e "Ajuda Marido" são áreas onde as raparigas, entre os 16 e 30 anos de idade, ficam à espera de homens vindos de várias partes. "Tenho 25 anos, tenho marido, e ele sabe que eu me prostituo, mas não me pode proibir porque ele não trabalha, eu é que pago as contas de casa, desde a alimentação à escola dos filhos", confessou uma jovem.
Já a outra rapariga asseverou que tem namorado e o mesmo não sabe que ela é prostituta.
"Tenho noivo, já sou apresentada, falta apenas me fazerem pedido, o meu namorado vive no Dondo e eu trabalho aqui em N'Dalatando", disse.
Segundo os citadinos contactados, o recém nomeado governador do Cuanza Norte, João Diogo Gaspar, tem uma espinhosa missão de executar acções concretas e melhorar os sectores que mais afligem os populares.
N'dalatando, é a cidade sede do município de Cazengo e capital da província do Cuanza Norte. Segundo as projeções populacionais de 2018, elaboradas pelo Instituto Nacional de Estatística, conta com uma população aproximada de 130.000 habitantes.