Acordo de cessar-fogo entre a RDC e o Ruanda saudado internacionalmente mas com reservas na região
O acordo de cessar-fogo alcançado terça-feira em Luanda entre República Democrática do Congo e Ruanda, sob mediação angolana, suscita poucas esperanças na região, após dois anos e meio de combates e anteriores compromissos desrespeitados, mas as reações internacionais são positivas.
Nas Nações Unidas, o porta-voz do secretário-geral, António Guterres, disse que a ONU espera que o cessar-fogo "crie as condições para um desanuviamento" entre a República Democrática do Congo (RDCongo) e o Ruanda.
"Esperamos que este acordo contribua para criar as condições para um desanuviamento das tensões entre a RDCongo e o Ruanda e para o regresso das pessoas deslocadas às suas casas", declarou Stéphane Dujarric à imprensa, congratulando-se com o acordo e apelando às duas partes para que "respeitem os seus compromissos para restaurar a paz e a segurança na RDCongo".
Em comunicado divulgado em Kinshasa, a missão da ONU (Monusco) saudou igualmente o compromisso alcançado e manifesta igualmente a sua disponibilidade para apoiar o mecanismo de verificação 'ad hoc' mandatado para supervisionar o cumprimento do cessar-fogo, em conformidade com o seu mandato.
Bruno Lemarquis, Representante especial adjunto do secretário-geral da ONU na RDCongo e chefe interino da Monusco, exprimiu o apoio das Nações Unidas ao acordo, que poderá contribuir para desanuviar o conflito entre os dois países e permitir que as pessoas deslocadas regressem às suas casas em segurança e dignidade.
"As Nações Unidas gostariam de felicitar o Presidente angolano, Sua Excelência João Lourenço, pelos seus esforços no âmbito do processo de Luanda", afirmou Lemarquis, citado na nota.
O dirigente reiterou o compromisso permanente das Nações Unidas de apoiar os esforços para restaurar a paz, a segurança e a estabilidade na RDCongo e apelou a todas as partes envolvidas para que trabalhem de forma construtiva para pôr termo à violência e alcançar uma solução pacífica e duradoura para os conflitos na região.
Em Bruxelas, o Alto Representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, manifestou também hoje a satisfação dos 27 pelo cessar-fogo e instou todas as partes a respeitarem-no "de forma rigorosa".
"A UE acolhe com satisfação o cessar-fogo acordado ontem [terça-feira] em Luanda como resultado da reunião trilateral entre Angola, Ruanda e a RDCongo", declarou Borrell num comunicado.
Antes do acordo alcançado terça-feira em Luanda, pelo menos meia dúzia de cessar-fogos e tréguas foram anunciados, mas nunca foram respeitados por mais do que algumas semanas.
Em Goma, a capital do Kivu do Norte, atualmente cercada por rebeldes e unidades do exército ruandês, o anúncio não suscitou grande entusiasmo, segundo correspondentes de agências internacionais.
Nenhuma manifestação de alegria perturbou o trânsito habitual de motas e peões que se moviam como habitualmente sob um céu carregado de nuvens.
"Não vai levar a nada. O cessar-fogo beneficia o inimigo. Os rebeldes nunca respeitaram estas decisões da comunidade internacional", declarou Trésor Tonde Mabala, estudante na Universidade La Sapientia, em Goma.
Em 4 de julho, os EUA anunciaram uma trégua humanitária de duas semanas no leste da RDCongo para "permitir o regresso voluntário das pessoas deslocadas e proporcionar aos trabalhadores humanitários um acesso sem restrições às populações vulneráveis".
No entanto, o movimento rebelde M23, apoiado pelo Ruanda, acusou as Forças Armadas da RDCongo de violarem o acordo e os combates recomeçaram apenas três dias depois de a Casa Branca ter anunciado o compromisso.
Mais de 1,6 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas devido aos combates do M23 e as recentes escaladas obrigaram outras dezenas de milhares a procurar refúgio em condições de sobrelotação.
Para além de uma crise humanitária, os combates do M23 provocaram sérias tensões entre a RDCongo e o Ruanda devido à alegada colaboração de Kigali com o grupo rebelde, uma alegação que as autoridades ruandesas sempre negaram, apesar da confirmação da ONU.
C/CM-Lusa