Nota Negativa: Banalização no processo de selecção de ingresso na Polícia Nacional fragiliza órgão castrense
A Polícia Nacional de Angola (PNA) é o órgão castrense ao qual recai a responsabilidade de velar pela segurança e tranquilidade públicas dos cidadãos. Contudo, a inserção de alguns indivíduos sem preparação alguma e comprometimento com a Pátria tem feito com que o objecto social deste órgão seja banalizado.
Por: Telson Mateus
A Polícia Nacional é um dos maiores empregadores a nível de Angola. Contrariamente ao que era esperado, nesse órgão do Estado, os cidadãos nunca se aperceberam da existência de um concurso público para os cidadãos terem as mesmas oportunidades de ingresso e ascensão na carreira como acontece noutros órgãos.
Nesse momento, e mesmo antes, os quadros que entram e entravam na Polícia tinham de ter algum grau de parentesco – seja ele de que género for – com a pessoa que vai fazer o link de entrada.
Embora pareça um pouco contundente, é importante referir que alguns cidadãos entram na PNA pela via da gasosa, pagando uma certa quantia monetária a um efectivo (com influência).
Outros entram pelo grau parentesco, seja ele um irmão, tio, sobrinho, esposo, namorada, levando a que quem tenha competência seja excluído por não ter “padrinho na cozinha” acabando por ingressar na corporação quem olhe para este órgão como um meio apenas de receber o salário.
Todavia, nos últimos tempos, em função da conjuntura do País, este órgão tem se debatido com muitos problemas, alguns considerados básicos e outros mais profundos que deveriam merecer a atenção de quem de direito.
Em condição normal, em face da não existência de concurso público, deveria entrar na PNA os efectivos desmobilizados das Forças Armadas Angolanas (FAA), muitos deles, atirados à sua sorte por não beneficiarem desta prerrogativa que os habilitaria a dar uma lufada de ar fresco na polícia e combater efectivamente o crime, uma vez que o treinamento que têm aliado a componente policial dá-lhes mais autonomia de desdobramento no campo de actuação contra o crime.
A falta de meios de trabalho, um pouco por todo País, é visível até para os cidadãos menos atentos, levando a que os efectivos e a própria corporação sejam banalizados.
Só para se ter uma ideia, segundo apurou o NA MIRA DO CRIME, de fontes bem posicionadas neste órgão, os efectivos recentemente enquadrados no âmbito da formação básica de polícia no quadro da mobilidade, estão a encontrar inúmeras dificuldades em função deste curso, que se presume ser o último desta natureza, continuar a ser sistematicamente banalizado.
Aliás, a inclusão neste curso de indivíduos da “sociedade civil”, como são chamados os que entram pela primeira vez, é tida como uma forma de inserção de familiares e outros cidadãos que ingressão na corporação pelas vias apontadas anteriormente.
Se por um lado os cidadãos têm vontade para “dar o litro” pela pátria, por outro, a falta de meios dificulta esse objectivo.
A título de exemplo, não se compreende como é que um ou uma instruenda seja alvejada mortalmente durante um treino de exercício táctico. Aliás, as regras, ou o aconselhável é que durante esses exercícios sejam usadas balas salvas no sentido de não colocar em perigo a vida dos cidadãos.
Mas recentemente, fomos confrontados com a morte de uma instruenda do Serviço de Migração e Estrangeiros durante um desses exercícios.
Sabendo como as coisas funcionam aqui em Angola, a culpa vai morrer “solteira” e não haverá responsabilização alguma para este acto que priva, não só o País, mas a família da malograda de uma cidadã que perde a vida de forma prematura e num acto evitável.
A falta de fardas, coletes de protecção e outros meios de trabalho tem sido apontado como um dos motivos pelos quais, alguns agentes recentemente formados, no âmbito da mobilidade e não só, continuem estacionados nos seus órgãos sem poderem se uniformizar e ostentar as patentes que receberam com mérito e sacrifício.
Se por um lado o Comandante-geral Arnaldo Manuel Carlos garantiu prontidão dos efectivos para a redução das cifras criminais, este objectivo pode ficar em ‘xeque’ caso não se invista efectivamente na corporação, já que os efectivos ficarão bastante motivados quando a chefia vela pelo bem-estar dos seus e não ao contrário, onde os chefes andam de máquinas de altas cilindradas que custam balúrdios aos cofres do Estado enquanto as esquadras estão depenadas, sem meios e com motorizadas kupapatas, onde os agentes ficam expostos ao perigo.
Neste sentido, apela-se a um maior investimento não só no betão, mas também na corporação e no homem, enquanto principal activo deste órgão, onde, infelizmente, a ascensão ainda se nota a ser feita pela via do compadrio e amiguismo ou pela via da gasosa.