Nota Negativa: MPLA ‘desnorteado’ com existência de alas e fim de mandato de JLO
Os recentes pronunciamentos do Presidente do MPLA e da República, João Lourenço, em relação ao antigo secretário-geral, Julião Mateus Paulo “Dino Matross”, acusando-o de um possível envolvimento numa campanha de desestabilização interna do partido, com alinhamento numa eventual candidatura de Higino Carneiro ou Fernando da Piedade Dias dos Santos "Nandó", deixou evidente, uma vez mais, a existência de alas no seio do MPLA: a ala dos Eduardistas (os mais velhos do partido) e os Lourencistas (os mais novos).
Por: Telson Mateus
Com o fim do mandato às portas, em 2027, segundo as explicações do Presidente João Lourenço aos primeiros secretários dos CAP, militantes de proa como Julião Mateus Paulo "Dino Matross", se desdobram em encontrar o seu substituto sem, no entanto, obedecerem a 'regra' interna do MPLA, cujas candidaturas são apresentadas em congressos, quer sejam ordinários ou extraordinários.
Os contactos feitos por "Dino Matross", embora tenha se negado a admitir ao Presidente, denota que o MPLA, enquanto partido que governa Angola desde 1975, está em ruptura e cisões.
Aliás, o facto de o próprio Presidente João Lourenço ter acusado um militante da estirpe de "Dino Matross" e dizer que não está alinhado com Fernando da Piedade Dias dos Santos, que por sinal, tem algum grau de parentesco com o falecido presidente José Eduardo dos Santos, demonstra que as alas no seio dos camaradas continuam firmes e que há uma forte ruptura entre os militantes mais conservadores e históricos do MPLA com o Presidente do partido, chagando ao ponto de querer vê-lo de costas ou a abandonar o barco para deixar o lugar a quem possa dar seguimento aos ideias de Neto e de JES, aos quais nutrem muito carinho por tudo que fizeram aos seus camaradas.
João Lourenço, ao contrário dos seus antecessores, preferiu afastar os mais velhos, colocando no seu lugar, jovens que no princípio adulavam-no e que agora, o bajulam como sendo o salvador da pátria, embora para os mais conservadores, isso não passa de ilusão de óptica em virtude dos reais problemas do País continuarem evidentes e cada vez mais agudizados.
A existência de outros monopólios onde os mais antigos militantes do 'M' não são tidos nem achados e o usufruto dos bens que seriam para todos os angolanos estarem a ser distribuídos para um determinado segmento que não agrada aos mais velhos, cria ainda mais fissuras nas paredes da estrutura do “EME”.
A existência de candidaturas múltiplas no MPLA é algo que amedronta qualquer Presidente deste partido, no sentido de demonstrar a sociedade que o partido está coeso e todos apoiam o líder.
Entretanto, se o general Higino Carneiro já anunciou oficialmente a sua candidatura à liderança do MPLA, reafirmando essa semana à uma rádio privada, Fernando da Piedade Dias dos Santos, que já foi vice-presidente do país, continua no muro a ponderar se avança ou não, já que, depois do presidente ter atirado aquelas farpas ao ex-SG "Dino Matross", seguiram-se “alguns escritos” que o agridem politicamente.
Em face disso, Dino Matross em resposta considerou mesmo as acusações de Lourenço infundadas, que “o partido não está dividido como tal", mas que há camaradas que não concordam com o tipo de governação do presidente, mas que não aparecem.
Assim sendo, não tenhamos dúvidas da existência de um risco iminente de fraccionamento no seio do MPLA, situações que, no passado, levaram à divisão interna.
Para Dino Matross, embora naquela altura nunca o disse tacitamente como o faz hoje, é normal que apareçam no seio do partido, dois, três ou quatro candidatos que queiram concorrer à liderança, com o término do mandato do actual presidente, uma vez que o estatuto do MPLA permite múltiplas candidaturas.
Contrariamente ao que o Presidente João Lourenço diz, Dino Matross sustenta que em face do estatuto do partido coincidir agora com os mandatos da Constituição, de apenas dois mandatos de cinco anos, não renováveis, não se pode esperar por 2027 para surgirem potenciais candidatos.
"Esse trabalho tem que ser feito antes, o candidato tem que começar o seu trabalho antes, para ser conhecido, para congregar o partido e levar o partido à vitória”, sustenta o político, cuja visão disse ser pública.
Todavia, se havia ainda algum resquício de intenção do Presidente João Lourenço concorrer à um terceiro mandato, com possíveis alianças com elementos da oposição, então com a entrada em cena de militantes de proa no seu próprio partido a demonstrarem a intenção de lhe 'açambarcar' o lugar, com o apoio de Dino Matross então esse desejo foi por água abaixo.
Aliás, tanto a posição dos mais velhos do MPLA, com Dino Matross à testa, e o estatuto do partido não permitem.
Só o facto do MPLA não ter o número de deputados suficientes para alterar a Constituição deixa os militantes de proa do partido receosos sobre esse facto.