Escândalo no braço juvenil do MPLA: Conflitos internos e conduta 'duvidosa' de alguns candidatos colocam em 'xeque' futuro da JMPLA no Cazenga
A disputa pelo cargo de Primeiro Secretário da JMPLA, no município do Cazenga, tem exposto profundas divisões no seio do partido que governa Angola desde 1975 e da organização juvenil do MPLA, criando um cenário de incertezas que pode comprometer o futuro da JMPLA neste município da província de Luanda.
Por: Telson Mateus
Depois do encontro entre João Lourenço e os Primeiros Secretários dos CAP na passada segunda-feira, cujos ecos continuam a fazer mossa na sociedade angolana em face das graves acusações feitas, pelo Presidente do MPLA contra figuras de proa do partido, entre eles, o antigo secretário-geral Julião Mateus Paulo Dino Matross e Higino Carneiro, os camaradas voltam a ter mais uma 'batata quente' para resolver.
Numa denúncia feita ao NA MIRA DO CRIME por militantes da JMPLA, neste momento que o MPLA enfrenta desafios crescentes, a falta de tacto político dos candidatos ao cadeirão máximo da JMPLA está a abrir caminho para a juventude da oposição, que vê na capital do País uma oportunidade para expandir a sua influência.
O processo orgânico da JMPLA no Cazenga, longe de ser uma demonstração de unidade e coesão, está a ser marcado por disputas internas, influências externas e acusações que minam a credibilidade dos candidatos.
A interferência de certos dirigentes do MPLA e líderes dos Distritos Urbanos no processo de selecção tem gerado descontentamento e alimentado suspeitas de manipulação e favoritismo.
Actualmente, três candidatos concorrem ao cargo de Primeiro Secretário da JMPLA no Cazenga, nomeadamente, Mário Correia João, Isabel Joaquim e Osvaldo Sacaia. Porém, cada um deles, enfrenta críticas que colocam em dúvida a sua capacidade de liderar a organização naquele que já foi considerado o município mais populoso de Luanda.
Osvaldo Sacaia: Favoritismo ou incompetência? Osvaldo Sacaia, conhecido como 'Vado', é visto como o candidato favorito devido ao apoio que tem da Segunda Secretaria Marinela Kudimuena e do actual Primeiro Secretário da JMPLA no Cazenga, Orlando Manuel, com quem tem laços familiares.
No entanto, 'Vado' tem sido alvo de chacota entre os militantes, que questionam a sua capacidade de comunicação, referindo-se a ele como "Vado Gago", por falta de habilidade de oratória e comunicação o que levanta preocupações sobre a sua aptidão para liderar a JMPLA num momento crítico como o actual.
Mário Correia: Um jovem com um forte histórico criminal Mário Correia João é um jovem com experiência política, e com forte apoio dos conservadores do Partido e daqueles que controlam tudo no município.
Mas o seu histórico criminal pode ser um obstáculo insuperável. Contudo, Mário Correia João já esteve preso, no Comando Municipal do Cazenga e, posteriormente, na Comarca de Viana por liderar um grupo que se dedica ao esquema de clonagem de cartões de crédito Multicaixa, que resultou na altura no roubo de 32 milhões de kwanzas.
Na altura, este militante que almeja dirigir os destinos da JMPLA no Cazenga, foi apanhado, em flagrante delito, em posse dos valores surripiados das contas de pacatos cidadãos que com trabalho árduo e abnegado tinham alguma poupança nas sua contas.
Essa mancha no seu histórico, coloca em 'xeque' a sua conduta moral e cívica, requisitos fundamentais estabelecidos nas alíneas a) e b) do artigo 80º dos estatutos da JMPLA para dirigir a estrutura juvenil do MPLA.
Mário Correia é ainda acusado de ter matado o sonho da casa própria da juventude ao vender as cifras destinadas à juventude nos projectos habitacionais do Kalawenda e Vida Pacifica juntamente com o Secretário do Conselho Municipal da Juventude do Cazenga, Gerson Bravo.
A dúvida sobre a sua idoneidade é um peso que pode custar caro ao partido caso seja escolhido para liderar a JMPLA no Cazenga, factos que podem ser 'bem' aproveitados pelos líderes dos partidos da oposição para tirar proveito.
Isabel Joaquim: Discreta e sem apoio
Isabel Joaquim, apesar de possuir experiência política e do seu histórico como membro do Secretariado Cessante na qual já ocupou várias pastas e possuir uma forte capacidade de comunicação e argumentação, alguns militantes afirmam que é uma figura discreta e reservada, tendo por isso, conquistado o apoio das bases que reconhecem nela espírito de liderança.
Contudo, a falta de apoio da parte do partido e do Primeiro Secretário Municipal da JMPLA, Orlando Manuel, pode ser o seu maior desafio.
Isabel enfrenta uma batalha difícil para consolidar a sua candidatura em meio a uma disputa tão polarizada e, por estar sozinha nessa luta, sem qualquer apoio de 'peso', está a andar à deriva, como diz na gíria.
Um futuro incerto para a JMPLA Segundo as fontes deste jornal, a divisão interna com a criação de alas que interferem no processo electivo, e a falta de um candidato que reúna todas as qualidades necessárias para liderar a JMPLA no Cazenga colocam em 'xeque' o futuro da organização na província de Luanda.
A incerteza sobre o rumo da JMPLA pode enfraquecer o braço juvenil do MPLA na capital, onde a oposição está cada vez mais fortalecida e a galgar terreno, com a entrada em cena de Nelito Ekuikui, Primeiro Secretário da JURA, braço juvenil da UNITA, que nas eleições passadas, venceu não só a JMPLA, como o próprio MPLA em Luanda.
A pergunta que não se quer calar no seio dos militantes é clara: quem entre os concorrentes está realmente preparado para resgatar a mística da JMPLA e enfrentar os desafios que se avizinham no município?
O resultado desta disputa poderá definir não apenas o futuro da JMPLA no Cazenga, mas também a força deste órgão em Luanda, que é crucial para o domínio político da juventude do MPLA, o partido no poder.