Bela Malaquias a braços com uma crise interna: Militantes do Partido Humanista de Angola intentam providência cautelar
Rebentou a corda no Partido Humanista de Angola (PHA), o mais novo partido à Assembleia Nacional, liderado por Florbela Malaquias, acusada de gestão danosa, abuso de poder, nepotismo e violações reiteradas aos Estatutos, documentos reitores de qualquer partido político. Nesse momento, uma crise interna está instalada cuja resolução será dirimida nos tribunais.
Por: Telson Mateus
Depois de denúncias de várias irregularidades contra a única mulher a presidir um partido político em Angola é ponto assente que o Partido Humanista de Angola (PHA) entrou num 'estado de ebulição' e está confirmada a crise interna no mais novo partido político com assento parlamentar.
De acordo com alguns membros deste partido que procuraram o NA MIRA DO CRIME, um grupo de militantes vai intentar, nos próximos dias, uma providência cautelar, junto do Tribunal Constitucional, para a “suspensão de todos os actos ilegais” da Presidente do PHA.
Entre as ilegalidades apontadas contra Florbela Malaquias, a também escritora que denunciou atrocidades vividas na Jamba durante o consulado de Jonas Savimbi, o realce recai para a expulsão de três vice-presidentes da organização.
Ivo Miguel Gonçalves Gingumba, vice-presidente para coordenação nacional, Víctor Leandro Lopes, vice-presidente para os assuntos parlamentares, e Nsimba João Luwawa, vice-presidente para Jurisdição, todos membros fundadores do partido, foram expulsos, alegadamente, por envolvimento numa “campanha de desinformação, incitação ao ódio e à violência no seio do partido, praticando actos de vandalismo, difamação, calúnia e injúria”.
Fontes conhecedoras desse dossier, que preferiram falar sob anonimato por temerem represálias e retaliação como ocorreu com os seus companheiros, denunciaram que os visados tomaram conhecimento da decisão por via de um comunicado assinado por um vogal de direcção, “imposto unilateralmente por Florbela Malaquias”, que agora surge como vice-presidente, sem terem sido consultados os órgãos deliberativos do partido, "conforme mandam as regras partidárias e os Estatutos".
De acordo com o artigo 15.º dos Estatutos do Partido Humanista de Angola, qualquer militante deve gozar do “princípio de ampla defesa”, antes de qualquer sanção disciplinar. Ou seja, deveriam ser ouvidos pelos órgãos internos, “o que não aconteceu”.
“É uma medida que fere gravemente os Estatutos do partido", sustentam as fontes.
Nepotismo, abuso de poder e má gestão...
Florbela Malaquias é acusada, igualmente, de ter atribuído uma viatura do partido a um dos filhos, identificado por Telmo Ngolo, que, segundo as nossas fontes, nem sequer faz parte dos quadros do partido.
“O carro tinha sido atribuído ao vice-presidente para a coordenação nacional, Ivo Miguel Gonçalves Gingumba, tendo-lhe sido retirado na altura em que preparava o relatório de contas entregue à Comissão Nacional Eleitoral sobre os gastos do partido com as eleições. Isto foi há dois anos e até agora a viatura continua com o filho da presidente”, referiu uma das fontes.
Os alegados actos de nepotismo e má gestão somam e seguem
De acordo com as mesmas fontes, uma empresa ligada a um outro filho, denominada Nellcorpo, Lda, contratada para prestação de serviço, que incluía a reabilitação de infra-estruturas provinciais, “esbanjou” 50 milhões de kwanzas, de um contrato de 100 milhões, sem que o trabalho estivesse concluído.
Dirigentes do partido só viriam a descobrir a 'falcatrua' e o verdadeiro proprietário da empresa depois de uma auditoria interna em função das irregularidades e incumprimentos contratuais.
A crise no PHA veio ao de cima depois de Bela Malaquias ter enviado à Comissão Nacional Eleitoral (CNE) os nomes dos vice-presidentes para exercerem as funções de comissários provinciais sem consultar os órgãos deliberativos.
Esta decisão foi fortemente contestada pelos visados, já que “os cargos de vice-presidente são electivos e não podem deixar de ser exercidos por decisão individual”.
Um comunicado assinado por Armando Campos, indicado pela líder do partido para exercer as funções de vice-presidente e datado de 20 de Agosto deste ano, indica que “os nomes citados faziam parte da Comissão Política Nacional Eleitoral com o propósito de satisfazerem as suas necessidades financeiras, deixando a partir daquele momento, de fazer parte da Comissão Política Nacional”.
Para algumas fontes, com esta jogada, Florbela Malaquias pretendeu, "ver-se livre" dos vice-presidentes do centro de decisão e dirigir o partido a seu bel-prazer.
Insatisfeitos com os alegados “atropelos aos Estatutos e má gestão do partido”, um grupo de militantes pretendia realizar, no dia 17 de Setembro, uma reunião da Comissão Política, mas “a presidente mandou encerrar as portas da sede do partido, onde devia decorrer o encontro.
“Trata-se de um verdadeiro boicote”, disse uma outra fonte.
A crise no PHA alastrou-se em várias províncias, onde “alguns responsáveis foram compulsivamente” afastados e substituídos por pessoas próximas a presidente do partido.
O NA MIRA DO CRIME contactou a Presidente do partido para o contraditório que se impõe, mas não foi bem-sucedido.