Fome, desordem e excesso de carga horária: Agentes de campo do Censo abandonam a formação
Nesta segunda-feira, 09, arrancou em todo o território nacional, o processo de formação dos 70 mil agentes de campo que vão trabalhar no Censo Geral da Habitação e da População em Angola, a partir do dia 19 de Setembro.
Por: Na Mira do Crime
O primeiro dia foi marcado com alterações dos locais indicados inicialmente para formação dos brigadistas, situação que coloca em causa a eficiência deste processo.
Os candidatos apurados ouvidos pelo Na Mira do Crime, explicaram que, apesar do pouco tempo em falta, os agentes de campo não conseguiram ter a primeira aula no primeiro dia.
“Está tudo desorganizado, não temos local certo para fazermos a formação”, disseram, referindo que, a primeira informação que tiveram era que cada um faria a formação no seu distrito, mas na noite de domingo, 08, houve alterações.
“Muitos nem sabem onde calharam, há colegas de outros municípios que estão perdidos, no município de Belas, por exemplo, a informação que obtivemos é que já não seria nas escolas indicadas, mas que todos deveríamos nos deslocar até a Centralidade do Kilamba, no Instituto de Ciências Sociais (ISCED) e na Escola Superior de Hotelaria e Turismo, que estão nos quarteirões A e V18”.
Segundo os entrevistados, na manhã de segunda, foram para estes locais, mas lá forma informados que houve outras alterações, desta vez tinham que se deslocar até ao Instituto de Educação Física.
“É desgastante, tivemos que andar a pé, e nada estava organizado, esperamos até tarde e nem tivemos aulas, isso é brincadeira de mau gosto, num processo sério como este e fazem estas coisas”, lamentaram.
“Na televisão, dizem sempre que está tudo organizado, mas na prática não se vê nada disso”, atiraram.
Fome e horário excessivo
Na nesta-terça, 10, segundo dia de formação para os recenseadores, ficou marcado por descontentamentos pelo que chamam não cumprimento das promessas da comissão responsável, a fome extrema e a carga horária, por exemplo, foi outro motivo de insatisfação.
O cenário foi verificado em vários locais onde decorrem formações em Luanda, a exemplo disso, estão os municípios de Viana, Cazenga e Belas, precisamente no Instituto de Educação Física, localizado no Kilamba, que forma agentes vindo de vários distritos daquela jurisdição.
Aí foi visível ausência de vários formandos, onde metade das salas ficaram vazias.
Alguns agentes apontam razões de desistência por parte dos colegas, por causa do “sofrimento vivenciado” no primeiro.
“Muitos colegas hoje não vieram, e outros vão desistir por várias razões, uns pela falta de comida, outros por ser mesmo exaustivo essas formações, porque começam às 8horas e terminam às 17 horas, por outra, devido as alterações que fizeram na última hora dos locais de formação, muitos vieram de zonas muitos distantes e gasta-se muito dinheiro de táxi, e com as péssimas condições que estão a nos submeter, é lógico que o resultado não será positivo”, alertaram.
Os agentes que falaram em anonimato, apontaram a hora tardia do almoço, 16horas, sublinhando que, com fome ninguém aprende nada.
“É complicado, tem pessoas que não podem ficar de manhã até tarde de estômago vazio, aliás, não é saudável, nos meterem numa situação de fome extrema, por isso as salas estão vazias”.
A insatisfação e a desordem também foi a tónica nos formandos dos municípios do Cazenga, que estão no Instituto Superior Politécnico do Cezenga (ISPOCA), e de Viana, que nas últimas horas foram direccionados ao Instituto Superior Jean Piaget.
Importa recordar que o porta-voz da comissão multissectorial do Censo, Hernâni Luís, disse à imprensa que tudo está a ser feito para corrigir a situação e os reajustes finais, acrescentando, por outro lado, que estão todos os meios disponíveis para as zonas mas recônditas do país, em termos de transportes, e garantiu o arranque do processo na próxima quarta-feira 19.
Sob o lema "Juntos contamos para Angola”, o Instituto Nacional de Estatística (INE) começa, a partir de 19 de Julho, o Censo Geral da População e Habitação 2024, o segundo depois da Independência, em 1975.
A recolha de dados terá a duração de 30 dias e vai abranger os 164 municípios, 562 comunas, distritos, bairros e aldeias das 18 províncias do país, tanto nas áreas urbanas como nas rurais.
A operação vai envolver mais de 92 mil profissionais, entre logísticos, motoristas, recenseadores e assistentes técnicos, que vão chegar até às zonas mais recônditas do país, com o apoio das Forças de Defesa e Segurança.