Vergonha na Assembleia Nacional: Deputados 'infantis' debatem conflito armado e esquecem os reais problemas do povo
Estar diante das telas da televisão a acompanhar o debate, em sede da Assembleia Nacional, sobre o Orçamento Geral do Estado ou discussão de qualquer lei, seria e deveria ser imenso prazer e orgulho se os deputados tivessem a veleidade de perceber que eles são associados pelos espectadores a tudo que dizem, sejam aversões, aberrações, falsidades, promessas, críticas ou doutrina.
Por: Mara Márcia
Para não se recuar tanto no tempo, as discussões na generalidade sobre a Proposta de Lei que aprova o Orçamento Geral do Estado (OGE) para o exercício económico de 2025, que tiveram lugar nos dias 14 e 15 do mês em curso, destaparam as mentes formatadas para inimizades permanentes, trazidas por longos anos de guerra.
Mais do que cada deputado defender o seu pão, com discursos mais incisivos, estão as consequências que a tal presumida “acutilância” pode trazer tanto por aqueles que viveram o período de guerra como pelos jovens que nem existiam até ao cessar do conflito armado, em 2022.
Não é ignorância nenhuma se esses jovens, que só aspiram o bem-estar, considerarem uma “palhaçada” o ambiente vivido no Assembleia Nacional, protagonizada tanto pelo MPLA como pela UNITA que, neste quesito, os poderemos comparar a uns “meninos adultos” que lutam por chupetas. Nem vale a pena dizer que aquilo faz parte da democracia. Até porque ela não serve para instigar rancores nem para confundir mentes.
Desse modo, fica-se com a impressão de que alguns deputados, devidamente orientados, em vez de se preocuparem a buscar consensos, “caçam” roturas com o objectivo de deixar a entender que a pluralidade é o facto. Nos últimos tempos, verifica-se que há deputados que consideram que as divergências, próprias da natureza humana, deviam ser a regra em tudo o que é discussão no parlamento, mesmo quando há mais janelas para divergências.
As discussões sobre o OGE trazem sempre um ambiente tenso, por ser um instrumento da política económica e financeira, expressa em termos de valores, onde são definidas as receitas fixadas e as despesas em igual valor, para um período de tempo definido. Mas esse ambiente tenso pode ser controlado se se tiver em conta os objectivos traçados nos quais todos se devem focar.
Se a ideia de se aprovar um OGE é boa, a sua discussão deve mais ponderada e devidamente orientada. “Eles fingem que está tudo bem, mas, afinal, no parlamento é onde destilam todo o fel que vêm alimentando”, observou um jovem que disse ter ficado completamente desiludido.
Nem mesmo durante a guerra, já com os deputados da UNITA integrados no parlamento, apareciam discursos tão destoados como agora. Fica-se com a impressão de que alguns deputados, na véspera das discussões de Leis tão importantes para o país, se preocupam mais em arranjar expressões ásperas para arremessar aos adversários ou ensaiar provérbios em línguas nacionais com único objectivo de mostrar que é mais angolano que o outro.