Nota Negativa: A fome “relativa” que mata dezenas de angolanos no Cuando Cubango sob olhar cúmplice e criminoso de José Martins
No solo seco e esquecido do Rivungo, província do Cuando Cubango, à fome não é apenas um adversário invisível, é a mão que ceifa vidas e destrói esperanças. Aí, a morte encontrou abrigo nas ruas e nas matas, enquanto o silêncio cúmplice das autoridades transforma cada dia em uma luta desesperada pela sobrevivência.
Por: Na Mira do Crime
Aqui, nesta tribuna do Na Mira, várias vezes tocamos nesta tecla, mas, parece que a insensibilidade das autoridades centrais oferece legitimidade a quem governa a população do Cuando Cubango, para saquear os cofres do Estado e desdenhar os seus governados.
Desta vez, quem perdeu a vida devido a fome o cidadão Ngambela, morador do bairro Kavungo, e para que conste das estatísticas, foi enterrado no último dia 9 de Dezembro.
A sua partida foi silenciosa, sem pompa, sem justiça, afinal, é apenas mais um angolano sem posição. Sem nome, sem família, se registo e sem posses. Não significa nada, pode morrer!!!
Nzita, do bairro Katengo, sucumbiu a um gesto de desespero, comeu frutos "impróprios" para à fome que o consumia. A diarreia, fruto do veneno da pobreza, minou suas forças que até que o coração parou. Também morreu, mas, é apenas mais um angolano, sem nome, sem família na cozinha, sem acesso à imprensa, então pode morrer, porque para o governador José Martins, aí, também, “a fome é relativa”.
João Baptista, do bairro Limba, caiu na emboscada da natureza ao procurar por frutas silvestres, foi mordido por uma cobra e não resistiu, é mais vítima da fome, da qual as autoridades tradicionais não citaram sua identidade.
ssas são apenas algumas das histórias que ecoam na terra castigada pelo abandono.
À fome, implacável, segundo as autoridades tradicionais e pessoas que se importam pela vida humana, já levou 27 vidas.
Dez aldeias foram abandonadas pelos seus moradores, fugiram para a Namíbia e a Zâmbia em busca do que o Rivungo já não pode oferecer, "comida e dignidade".
As escolas, outrora templos de esperança, agora estão vazias. Cinco delas, nos bairros Tchifuaku, Neriquinha, Kambala, Muyau e Samatamo, encerraram suas actividades ainda no primeiro trimestre.
No Muyau, sequer houve força para concluir o período lectivo. Os alunos, empurrados pela necessidade, deixaram a aldeia em Setembro, rumo às ilhas do rio Kwandu, em busca de frutos silvestres.
Os professores, resistindo ao abandono, adaptaram uma escola improvisada na aldeia do ChoCho, onde leccionam sob a sombra das árvores.
A vergonha da má governação de José Martins, enquanto o povo do Rivungo luta por sua sobrevivência, é cúmplice e criminosa, a liderança municipal parece alheia ao sofrimento. Não tramitam a realidade local para o Governo Central? Perguntam-se os habitantes.
O administrador, João Wilson Tchimbinde, segundo as autoridades tradicionais e moradores, abandonou o compromisso com os mais vulneráveis. Seu título de “Doutor”, rejeitado por muitos por falta de mérito, é símbolo de um Governo que ignora as chagas da fome.
Quando questionado o porquê da não existência de projectos no Município, o governante justifica os seus desvios e a incompetência, respondendo que nunca recebem dinheiro quando todo mundo sabe que o OGE é extensivo para todos as unidades orçamentais e ao Rivungo tem chegado dinheiro.
O actual administrador municipal nunca esteve preocupado com as mortes das pessoas, até aqui não se deslocou em nenhuma comunidade para constatar o que realmente se passa, manda seus subordinados.
"A vida é sempre estar em Menongue, outras paragens e quando está aqui no município, divide-se entre palácio, Administração e Partido para reuniões que levam quase o dia inteiro", denunciam.
No passado, antes do senhor chegar ao Rivungo, o município floresceu. Pólos agrícolas prosperaram e a terra produziu cereais suficientes para alimentar à população e ainda exportar para regiões vizinhas.
Até mesmo a praga de gafanhotos, que assolou a zona, não conseguiu parar o avanço. O Rivungo era um exemplo de resiliência e esperança. Hoje, no entanto, o que resta são campos vazios, aldeias desertas e um povo à mercê da morte.
O Clamor da Terra
João Munuma Kakundunkundu, regedor municipal, já perdeu cinco familiares para a fome. Sua dor ecoa como um grito de desespero, pedindo acção onde só há indiferença.
"Não podemos continuar assim. Estamos a morrer", é o apelo de quem já não vê saída.
O Rivungo chora suas perdas, e suas lágrimas se misturam ao clamor por justiça, por humanidade, por compaixão.
É um apelo ao Governo, às organizações humanitárias, ao mundo, salvem o Rivungo antes que ele desapareça.