Campanha eleitoral: Candidatos entre promessas de facto e a simples propaganda eleitoralista
Decorrida a primeira semana de campanha eleitoral em Angola, conclui-se que os primeiros sete dias decorreram dentro de uma certa normalidade, com cada um dos partidos políticos a realizar as suas actividades em diversos pontos do país, realçando-se, entretanto, a troca de “mimos” entre os líderes do MPLA e da UNITA, os maiores “contendores” do cenário político angolano
Por: Alves Pereira
Depois dos distúrbios causados pelos motoqueiros, em Luanda, no primeiro dia da campanha, 24 de Julho, por alegada falta do pagamento prometido pela sua participação na passeata alusiva à actividade do MPLA, os partidos políticos e a coligação concorrentes estão a empenhar-se ao máximo para levar a sua mensagem a todos os pontos do país e conquistar a simpatia e o apoio do eleitorado, podendo aferir-se que a campanha está a decorrer sem grandes sobressaltos.
Além das actividades de massas (comícios) e as campanhas de porta – a – porta, os partidos estão a realizar programas aproveitando o Tempo de Antena disponibilizado a cada um na Rádio Nacional e na Televisão Pública de Angola que, do ponto de vista de observadores, estão a surpreender pela positiva e pela qualidade dos conteúdos apresentados, denotando preparação e organização para captarem o maior número de votos.
Os dois principais partidos, MPLA e UNITA, estão a movimentar grandes multidões nas suas actividades, porém, os ataques verbais entre os seus líderes, João Lourenço e Adalberto Costa Júnior, é considerado como um tanto preocupante e teme-se que possa gerar violência física entre os seus apoiantes, pelo que se apela à calma e contenção de ambos campos para se evitarem males maiores.
Salienta-se que a lei proíbe mensagens que incitam à violência, mas a primeira semana de campanha terminou com discursos nesse sentido, que podem exaltar os ânimos e gerar violência, incluindo alusões ao racismo, atendendo que os candidatos do MPLA e da UNITA fizeram acusações directas entre si em meio à ofensas.
Enquanto isso, o principal desafio que cada uma das forças políticas, MPLA, UNITA, FNLA, PRS, APN, PHA, P-Njango e CASA-CE estão a enfrentar, é explicar ao eleitorado como pretendem implementar as suas principais promessas eleitorais.
Não basta fazer promessas “maravilhosas”e “semear” sonhos; é preciso explicar como as coisas podem funcionar e convencer o cidadão, neste caso, o eleitor.
Promessas eleitorais ou utopias políticas
Entre as muitas promessas que já estão a ser feitas ao eleiorado por todos concorrentes, retem-se a da criação e oferta de empregos em diversos sectores e níveis, melhorias na saúde, na educação e, sobretudo, o aumento do salário mínimo nacional.
Enquanto o MPLA, uma vez mais, vai prometendo criar novos empregos, repetindo a promessa de 2017, entre várias outras de melhorias para o país, com destaque para Luanda no sector dos transportes e saúde, diversificar a economia, resolver problemas de mobilidade, do saneamento básico, de saúde, energia, água, educação, entre outros, em todo país, criar e implementar o Rendimento Social Mínimo para famílias em situação extrema de pobreza, a UNITA, se for Governo, promete aumentar o salário mínimo nacional para o equivalente em kwanzas a 500 dólares ao câmbio actual.
Apesar de justificar no seu programa de governação números que no seu entender tornam possível a implementação de um salário mínimo nesse valor, a UNITA não cita, no entanto, como poderão atingir tal proeza, prometendo também uma casa condigna para cada família angolana e aliviar vinte milhões de pessoas da fome e da pobreza.
A FNLA, um tanto ou quanto atrasada na realização da sua campanha eleitoral, ainda não avançou a sua visão sobre o país, pelo que são desconhecidas as suas pretensões futuras.
Já a coligação CASA CE promete, sem explicar como o fará, um crescimento económico numa média entre cinco a dez por cento no próximo quinquénio, acabar com a fome em cinco anos, com a pobreza extrema em dez, assim como garante que vai construir cinco campus universitários nos próximos cinco anos, melhorar o de Luanda e dar um décimo das receitas fiscais da venda de petróleo à educação e formação da Juventude.
O PRS, igualmente sem explicar como pretende implementar as suas propostas, vai prometendo uma redistribuição dos rendimentos com acesso ao subsídio social de desemprego para a estabilidade das famílias, a redução, sem números, do Imposto sobre o Rendimento do Trabalho (IRT) para os funcionários públicos e privados e criar ainda um subsídio social para as famílias mais numerosas, “a partir do nascimento do quinto filho”.
A APN, partido liderado por Quintino Moreira, promete, em caso de vitória nas eleições gerais de 24 de Agosto, uma revolução na indústria petrolífera, para que o país tenha receitas que possam alavancar a Economia, Indústria e Turismo, em particular, a Agricultura.
Consta ainda no manifesto eleitoral da APN uma proposta de construção de uma capital turística na cidade do Namibe, assim como propõe um salário digno para os trabalhadores angolanos e justiça social.
O estreante PHA, segundo a sua líder, Bela Malaquias, promete ensino gratuito assim como formação académica e técnico-profissional gratuita para os jovens, bem como o ingresso em qualquer concurso público, sem escolha de filiação partidária dos candidatos.
A única mulher candidata a concorrer às eleições gerais diz que tem “uma fórmula bem elaborada no quadro do programa de governo para o período 2022/2027, que consiste na distribuição de terras aos legítimos proprietários, o povo, para a produção massiva de todo o tipo de alimentos do campo, fomento da agropecuária, piscultura, apicultura, entre outros, bem como promover o crescimento industrial junto dos camponeses e cooperativas agrícolas dentro das políticas de humanização da sociedade.
O P-Ndango, formação liderada por Dinho Chingunji, também estreante nas eleições, caso chegue a ser governo, promete trabalhar para o povo e acabar com os problemas da Juventude, valorizar o ensino, fomentar a formação profissional, acabar com o desemprego e proporcionar habitação condigna e acessível aos jovens e cidadãos necessitados, entre outras promessas.
Entretanto, as formações políticas devem ter em conta que o eleitorado angolano hoje, não é o mesmo de ontem e muito menos o dos pleitos anteriores. Para o convencer não basta explicar como concretizar as promessas, têm que ser dignos e reflectirem a realidade das suas pretensões, para o eleitorado acreditar e confiar.
Toda campanha eleitoral é um processo de comunicação, mas não é demais lembrar: “comunicação por interesse”, isto é, todos os candidatos buscam obter dos eleitores algo que precisam muito: o voto.
O eleitor sabe disso e procura descobrir, dentre os candidatos, argumentos, projectos e ideias com os quais concorde, bem como valores, atitudes, gestos e comportamentos que lhe permita identificar-se com aquele candidato e aquela candidatura.
Não basta, portanto, ter bons projectos, ideias e argumentos. Eles apelam para o lado racional do eleitor que influencia a sua decisão de voto. Mas, ao contrário do que muitos pensam, essas razões não bastam para decidir em quem votar.
Mais importante, prévio e condicionante daquela decisão, é o lado emocional do eleitor por meio do qual ele vai ungir com confiança o seu candidato. Primeiro, a confiança; em segundo lugar, os projectos. E, muitas vezes, mesmo diante de excelentes projectos, o eleitor vota naquele em quem mais confia, ainda que os seus projectos não sejam tão bons.