Uma vez mais, Angola está na boca do mundo por motivos contraproducentes. O país está a ser descrito, em vários quadrantes internacionais, como um “narco-estado” que tem sido utilizado por traficantes de drogas para se constituir numa base logística para introduzir e abastecer outros países africanos e não só. Embora não se saiba ainda a verdadeira dimensão desta melindrosa situação internamente, tudo quanto tem sido revelado sobre o tráfico de drogas em Angola, constitui a Nota Negativa da semana.
Por: NA MIRA DO CRIME
Nos últimos dias as autoridades policiais e de investigação criminal têm efectuado diversas apreensões de droga no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, em Luanda, detendo os elementos que tentam introduzi-la no país, as “mulas”, como se diz na gíria do tráfico de drogas.
As apreensões de droga e as “mulas” que as transportam, de diversas formas, desde cápsulas ingeridas, como disfarçada em objectos diversos, roupas, cosméticos, entre outros, no aeroporto de Luanda, já datam de longos anos.
Já houve até o caso de uma considerada “raínha da droga”, detida pelo SIC no Cazenga e que traficava cocaína do Brasil para Angola e que depois era também enviada para a Namíbia.
Alega-se que é a mulher que “presumivelmente mais droga introduziu no território angolano e namibiano” e que tinha como cúmplice o seu esposo, um cidadão nigeriano de 40 anos, que foi também detido.
O casal liderava um grupo de que faziam parte funcionários da TAAG, polícias, militares e outros.
Geralmente, essa droga que tenta ser introduzida no país por essa via, é proveniente do Brasil, nomeadamente, de São Paulo, estado dominado pelo PCC, o maior e mais temível grupo de narcotraficantes daquele país, com tentáculos espalhados por vários países, principalmente europeus, incluindo Portugal, de onde também têm sido provenientes algumas remessas detectadas no 4 de Fevereiro.
Porém, as apreensões que são feitas no aeroporto são uma “gota” no oceano entre o que realmente chega ao país e entra sem ser detectado. Mas, como em outros países, a “grande porta” de entrada de drogas no país são os portos, destacando-se o de Luanda e o do Lobito.
Há alguns anos atrás, Angola já era apontada como a “rota de passagem” de droga para outros países, principalmente a África do Sul e Namíbia.
Na altura, apontavam-se altas patentes das Forças Armadas e da Polícia como estando por trás do tráfico, porque para o efeito era utilizado o aeródromo de Cabo Ledo, que era controlado pela Força Aérea e é uma base militar.
Alega-se que por Cabo Ledo entrava e saía muita droga e avultadas somas monetárias, geralmente transportadas por aeronaves de pequeno porte.
Outrossim, através de contentores de produtos alimentares e de material de construção civil, importados pelas grandes cadeias geridas por libaneses, tais como a Golfrate Holdings Lda, Afri Belg Comércio e Indústria Lda, Grupo Arosfran Empreendimentos e Participações Sarl, posteriormente rebatizada ‘Nova Distribuidora Alimentar e Diversos (NDAD)’, e outras de fachada, como a ‘Infornet Princesa’, tuteladas por Hatem Baraka, Kassim Tajideen, Abdul Hamid Assi, supervisionados pelo grupo Dar Al-Handasah, que tinha uma importante quota do mercado de distribuição alimentar, para além do sector da construção.
Todos estes indivíduos e grupos constam da lista de financiadores do terrorismo internacional dos Estados Unidos da América (EUA) e estiveram na base da decisão da Reserva Federal dos EUA de suspender a venda de dólares a bancos angolanos, devido a evidências de violação sistemática de regras de regulação e compliance do sector e suspeitas de que os dólares vendidos a Angola acabavam por ser desviados para financiar organizações terroristas como o ISIS, Al Qaeda e o Hezbollah.
É sabido que todos eles beneficiavam, continuam a beneficiar, da protecção de altas individualidades das elites no poder, que tudo lhes têm permitido e que se associam aos seus “esquemas embusteiros”.
Portanto, não é de estranhar que determinados dirigentes, entre policiais e outros, estejam a ser acusados de envolvimento no tráfico de drogas.
Neste contexto, a sociedade questiona: Quem é quem em toda esta “salada”? Ou seja, quem comanda o tráfico de drogas em Angola? Quem são os potenciais beneficiários? Quais as relações que mantêm com o tráfico internacional, com que organizações e países?
Entre todas estas questões, o Brasil e o grupo PCC brasileiro, por tudo quanto se tem dito, são os principais fornecedores e mentores do tráfico que actualmente grassa por Angola.
Tal como Portugal foi “invadido” para ser a “base de lançamento” da droga para outros países da Europa e de outros continentes, também Angola está a ser constituída numa “base logística” para “abastecer” demais países africanos e não só.
Mas o grande perigo para a sociedade angolana não reside só nisso. O país deixou de ser apenas uma rota, uma base para abastecer outros, passou a ser também consumista.
Se até pouco tempo era a liamba a droga de que mais se falava e mais se consumia a nível nacional, actualmente a cocaina, heroína, crack e outras substâncias, já são facilmente encontradas nos meios sociais angolanos e estão a ser consumidas em grande escala, principalmente por jovens.
Em relação a transportadores, receptadores, passadores ou vendedores, há muito que tem sido visível o enriquecimento repentino de determinadas figuras, desde políticos, militares, individualidades da sociedade civil, músicos e outros, que mesmo sem alguma coisa terem feito, ostentam, sem justificação plausível, grandes fortunas que esbanjam, jogam dinheiro fora, corrompem elementos das autoridades e “compram” simpatias, sem que quem de direito se questione como e onde conseguiram as mesmas.
Não é por isso de estranhar as revelações que agora vêm a público apontando políticos, empresários, oficiais militares e policiais, dirigentes associativos, músicos e até pastores religiosos de serem traficantes de droga, como é o caso bastante badalado na última semana do músico “Da Beleza”, que ganhou visibilidade por “oferecer” dinheiro publicamente, bem como do presidente da Associação Jovens Unidos e Solidários (AJUS), Mário Durão, que, habituado que está a ludibriar o MPLA com pseudo-campanhas de apoio, apenas desviar verbas e, a população, a quem distribui sal e depois diz que doou bens alimentares, ante a acusação de envolvimento no tráfico de drogas, sem perda de tempo resolveu escudar-se no nome do Presidente da República e inventou uma dita “campanha” denominada “João Lourenço Hoje, Amanhã e Sempre”, uma iniciativa de cariz filantrópico para “homenagear o Chefe de Estado”, supostamente para angariar mais algum e “tirar o pé”, como soe dizer-se, para parte incerta!
Mas estes não são os únicos nomes, muitos outros há que a seu tempo serão revelados.
É assim que, nos últimos tempos, Angola tem presenciado uma escalada vertiginosa da criminalidade.
O crime organizado vai tomando corpo; os grupos de delinquentes aumentam cada dia e estão a tomar de assalto diversas comunidades, em Luanda e outras grandes cidades; muitas acções criminosas, anteriormente feitas em surdina e na calada da noite, passaram a ser feitas descaradamente, com um destemor de arrepiar.
Os delinquentes perderam o respeito às autoridades e agem ousados e sem temer nada, assaltando, matando, violando e raptando.
“A violência e a intrínsica relação com o crime são questões que desafiam bastante as entidades governamentais dos países sob influência dos traficantes de drogas. Para o usuário, o consumo desenfreado dessas substâncias causa o comprometimento da capacidade crítica, reduz o juízo de valor e o torna refém da marginalidade e da exclusão social”, indicam especialistas.
Violência generalizada, homicídios, crimes patrimoniais, agressões, tudo decorre do tráfico de drogas, sendo actualmente a realidade que se vive em várias sociedades e, se não for rapidamente contida, também será no nosso país! Quo vadis Angola?