NOTA POSITIVA – Francisco Teixeira do MEA “mata a cobra e mostra o pau”
A semana finda foi marcada pelo pronunciamento, mais um, do presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira, à Rádio Ecclésia, sobre o sistema de ensino em Angola que continua submetido a condições aberrantes que deturpam o seu objectivo principal, ou seja, a formação condigna das futuras gerações. A sua posição firme, clarividente e frontal merece Nota Positiva.
Por: Na Mira do Crime
Apesar das afirmações do Executivo sobre o “muito que tem feito” pela melhoria do sistema de ensino no país, Francisco Teixeira contradiz e desafia os governantes a mostrarem as alegadas “melhorias” que propalam.
Em seu entender, a situação só tem regredido e até em Luanda as escolas continuam com superlotação nas salas de aula, muitas não têm carteiras, falta material escolar, sobretudo giz, os quartos de banho são autênticas pocilgas, entre muitos outros problemas.
O sistema de passes sociais e a entrada em funcionamento de novos autocarros também mereceram a atenção do líder do MEA.
Francisco Teixeira afirma que os governantes angolanos fazem sempre tudo de forma atabalhoada, sem pensar nos prós e contras, pois os referidos projectos são discriminatórios por não contemplarem os portadores de deficiência, cadeirantes e outros.
Os autocarros não têm rampas ou portas específicas e devia igualmente haver passes próprios para pessoas com limitações.
“Angola tem um dos piores sistemas de ensino do mundo, porque já não é admissível, estando em pleno século 21, ver crianças a estudarem em lugares impróprios, em escombros, à sombra de árvores, sentados no chão, em pedras ou em latas ou banquinhos que levam de suas casas. Não é aceitável, mesmo aqui em Luanda continuamos a ver crianças sentadas no chão na sala de aulas, crianças ficam sem as aulas por falta de giz, salas abarrotadas, com 90 alunos ou mais”, lamentou.
“Não podemos ficar satisfeitos quando temos no pais muitas crianças a estudar em péssimas condições, sem esquecer que outras milhares não têm acesso a escolas, milhares de crianças, se conseguem ler o abecedário, é graças às várias explicações de bairro que foram surgindo na falta de escolas”, referiu, salientando que esta situação condiciona o desenvolvimento das habilidades intelectuais e cognitivas do aluno.
Teixeira considera que há uma grande diferença entre uma criança que se senta numa pedra e outra que senta na carteira; entre uma criança que toma o pequeno almoço e a que não toma.
“O governo deve saber muito bem que as condições de uma sala de aulas contribuem muito para o progresso do processo de ensino e aprendizagem, senão os seus filhos não estariam nas escolas francesas, portuguesas e no exterior, estariam nas mesmas escolas e com as mesmas condições que os nossos”. “É incrível como até para aprender a ler e escrever já nos separam tipo filhos de pobres de um lado e de ricos do outro, não apenas por escolas, também pelos profissionais; chamam profissionais estrangeiros para ensinarem os seus, os nacionais ficam para os nossos, como se os nossos profissionais nada valessem”, protestou.
O defensor dos direitos estudantis, que denunciou que está a ser alvo de perseguição e ameaças, disse que o Estado disponibilizou neste OGE 26 mil milhões de kwanzas, cerca de 32 milhões de dólares, para aquisição de carteiras.
Porém, não se percebe como até agora as escolas continuam sem carteiras. “Por isso, demos entrada de uma carta na PGR para começar com um processo de investigação para se apurar os factos, esperamos nós que desta vez recebamos alguma resposta. Por outra, é necessário saber para onde foram as carteiras antigas, pois, existe a necessidade de as mesmas serem doadas às explicações que fazem o papel que deveria ser exclusivamente do Estado e instituições credenciadas para ensinar”. Portanto, reiterou, “quem governa e encara com normalidade esse fenómeno não é um governo normal, só pode ser anormal. Ou seja, há um grupo do governo que não está preocupado com Angola, só está preocupado com os seus filhos, os filhos do povo que se danem”.
O problema da Educação é uma questão política, a Educação praticamente não consta no programa do governo, porque um governo sério não pode colocar no seu orçamento “despesa na educação”, não, não pode fazer isso! “Educação não é despesa, é sobretudo investimento que, em rigor, terá garantidamente o seu retorno”.
Teixeira declara que o MEA está preocupado com a forma como o Estado trata as crianças. “Isso é muito humilhante, as meninas, sobretudo, apanham constantemente infecção urinária devido à falta de higiene nos quartos de banho das escolas, é por essa razão que os governantes não põem lá os filhos deles, esses estudam nas escolas estrangeiras onde têm todo conforto do mundo”.
A questão Educação resolve-se na base e não no topo.
A lei de base é clara e a UNESCO recomenda que as crianças devem começar a estudar em tenra idade nas creches, porque é obrigatório de acordo com a lei e “o estado é que tem que zelar pela abertura das creches; posteriormente, quando a criança completa cinco anos de vida vai para a iniciação”, lembra.
“É assim que se começa; não agora que o indivíduo já tem 25 anos de idade, com um currículo académico deformado, se vai querer exigir requisitos que não combinam com a realidade; isso não existe em nenhuma parte do mundo, isso só retira os mais pobres do sistema de ensino, são eles que serão mais afectados por causa de um sistema que não investe de facto na formação das futuras gerações. Esses indivíduos são maldosos”, rematou.
E muito mais disse Francisco Teixeira, que mesmo enfrentando sérios riscos que perigam a sua vida, continua a defender os ideiais do MEA.
Que a sua luta, o seu empenho, traga frutos quanto à melhoria da Educação e Ensino no nosso país!
O Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) foi criado no ano 2000, portanto há 23 anos.
O primeiro congresso foi realizado em 2001 na Liga Africana, em Luanda. O MEA surge porque, na altura, havia grande insatisfação com o único movimento estudantil existente que era o UNI-Angola.